Em 1800 — 45 anos depois do grande terramoto de Lisboa — o bairro de Alfama, em Lisboa, viu crescer um prédio no número 28 da rua Castelo Picão. Foram muitas as famílias que ocuparam aquelas casas ao longo dos anos. Em 2016, começaram a sair.
Foi o caso de uma idosa, que deixou um T1 em muito mau estado. Ao longo dos 30 metros quadrados do apartamento estava tudo feio, escuro, a apodrecer. A casa de banho estava suja e a cozinha também. Havia cortinas por todo o lado, roupa e fios elétricos pendurados nas ombreiras das portas sem qualquer cuidado. O cheiro era intenso e desagradável.
Margarida Martins e Inês Amaro, arquitetas do Menta Atelier, foram chamadas ao resgate e encontraram o espaço assim. Em setembro do ano passado, agarraram o projeto de remodelação. “Os proprietários [portugueses] pediram-nos que transformássemos o apartamento por completo. Queriam que ficasse moderno, sem perder a traça antiga. O objetivo? Arrendamento de curta duração a turistas”, conta, sem surpresa, à NiT Margarida Martins.
Foram dois meses de obras intensas. Tiraram o chão, mudaram a casa de banho e a cozinha de sítio. A sala ficou mais ampla e o quarto também.
“Foi uma mudança abismal. Deitámos fora todas aquelas cortinas horríveis e devolvemos ao T1 a luz natural que tem. É um privilégio aquela vista para o Tejo”, diz a arquiteta.
A remodelação da casa custou 10 mil euros (com IVA). Foram gastos outros três mil na decoração. Veja as imagens do antes e depois deste T1 para comparar as diferenças.
O wc mudou de sítio e cresceu — agora, até cabe um turista alemão de dois metros
“O espaço estava sujo e cheio de coisas e quisemos fazer algo clean e confortável. Uma casa de banho onde as pessoas mais altas também se conseguissem mexer sem problemas”, conta Margarida Martins. Assim, colocaram o wc num sítio mais reservado e maior — antes era preciso passar pela cozinha para usar este espaço. Puseram um duche moderno com medidas que dão para todos e acrescentaram um móvel e um espelho ao espaço. No chão, trocaram os azulejos escuros por pavimento cerâmico que imita o mosaico hidrálico. “Encontrámos um padrão que lembra as fachadas portuguesas a preço low cost”, explica a arquiteta à NiT.
Móveis encastrados na cozinha, que fica agora num open space
O apartamento é pequeno, logo, tem de ser bem rentabilizado. Assim, as arquitetas optaram por deitar abaixo o cubículo escuro a que chamavam cozinha e aproveitar um corredor para fazer uma nova, mesmo em frente à sala. Para poupar espaço, os eletrodomésticos são encastrados e a placa do fogão é portátil. O problema da ventilação — que antes era inexistente — também foi resolvido. Para dar mais cor e ambiente ao espaço, fez-se um jogo de cores na parede, “com azulejos que encontramos a um euro e tal”, conta Margarida.
A sala ganhou cor, vida e alguns metros quadrados
A sala recebeu um sofá-cama e mobiliário novo, bem como toda a decoração — comprada no IKEA e Leroy Merlin. Virada para uma janela fica a mesa de refeições, que pode ser colocada no centro da sala. “Optamos por tudo muito clean e funcional. Afinal, é isso que os turistas procuram nas férias”.
Não há portas, mas há muita luz natural no T1
Uma das primeiras coisas que as duas arquitetas prometeram quando aceitaram o projeto foi: “Vamos devolver a este T1 a luz natural que ele tem e merece”. Assim, foram retiradas todas as cortinas e portas. Agora, há janelas amplas com vista para o Tejo. Embora a maioria das paredes sejam brancas, há uma amarela, bem como vários apontamentos de decoração. “Demos um novo ao T1, chama-se Elétrico. Por isso faz todo o sentido ter detalhes em amarelo”, conta a arquiteta.
Este T1 em Alfama está disponível para alugar no Airbnb e custa 75 euros por noite.