Qual é a origem das suas peças de roupa? Em que condições é que elas foram produzidas? Quem é que, de facto, as faz? Quando escolhemos uma camisola ou um vestido, avaliamos o preço, o corte, como fica no nosso corpo e se tem defeitos. Mas nem sempre pensamos no percurso que essa peça fez até chegar às nossas mãos.
A verdade é que o setor textil (e não só) esconde um submundo terrível de fábricas onde os trabalhadores recebem ordenados baixíssimos, têm de trabalhar demasiadas horas por dia e, em alguns casos, recorrem a trabalho infantil.
Depois de vários escândalos associados a este negócio que move milhões de euros em todo o mundo, a ONG brasileira Repórter Brasil criou a aplicação Moda Livre para acompanhar de forma contínua o trabalho das maiores marcas de moda — como Levi’s, Calvin Klein, Zara, Forever 21, Nike, Puma, Adidas ou Reebok.
A ONU considera esta aplicação uma referência no combate ao trabalho escravo na indústria de moda.
A Repórter Brasil envia um questionário padrão às empresas e grupos que juntam várias marcas e depois cruza a informação com os relatórios produzidos por outras agências governamentais ou não governamentais. O objetivo é perceber em que condições de trabalho são produzidas as respetivas peças a partir de quatro indicadores.
1. Política: os compromissos assumidos pela empresa no combate ao trabalho escravo nas suas fábricas.
2. Monitorização: as medidas que adotaram para fiscalizar os fornecedores de roupa;
3. Transparência: como a empresa comunica aos seus clientes a origem das peças;
4. Histórico: exemplos de casos em que essa marca esteve associada a trabalho escravo ou infanti.
No final da análise, cada marca recebe uma pontuação que se divide em três categorias: verde, amarelo e vermelho.
De acordo com a Moda Livre, a Forever 21, por exemplo, está classificada na categoria vermelha. Ou seja, esta marca recusou-se a responder ao inquérito e não revelou qualquer preocupação com a transparência do funcionamento das suas fábricas.
Já a Zara, outra gigante do fast fashion, entrou na categoria intermediária (amarela) porque, apesar de ter mecanismos de acompanhamento, tem um histórico desfavorável em casos de trabalho escravo e ainda precisa de melhorar muitos dos aspetos que foram identificados pelas ONG.
Na categoria verde — onde estão as marcas de referência — está a multinacional Adidas. As lojas da marca são abastecidas por 37 fábricas credenciadas e as condições de trabalho foram verificadas a 100 por cento pelos fornecedores. Além disso, a marca alemã divulga no seu site todas as medidas que adota para combater o trabalho escravo.
No tal, a Moda Livre colocou 27 marcas na categoria verde, 50 na amarela e 54 na vermelha.
A aplicação não diz se os consumidores devem ou não comprar roupa de determinada marca, apenas lhes fornece uma visão mais completa sobre a origem dessas peças.
A Moda Livre está disponível na Apple Store e no Google Play.