Quase todos os portugueses já passaram por um mural de Vhils — até porque o seu trabalho destaca-se da paisagem onde quer que esteja. As suas obras são, sobretudo, esculturas de rostos anónimos em paredes de edifícios por todo o mundo. Porém, desta vez, o artista português decidiu alinhar num projeto completamente diferente do habitual.
Alexandre Farto, nome verdadeiro do artista plástico que é uma estrela urbana portuguesa, aceitou o convite da Bordallo Pinheiro para fazer parte do legado da marca portuguesa e criar uma peça para a “WorldWide Bordallianos” — uma coleção exclusiva e limitada com peças únicas desenhadas por criadores nacionais e internacionais.
Foi na passada terça-feira, 29 de outubro, nas instalações da Bordallo Pinheiro, Caldas da Rainha, que a peça foi apresentada pela primeira vez — e podemos garantir-lhe que é simplesmente maravilhosa.
Chama-se Quimera e é um prato de parede com 61 centímetros de diâmetro. O principal objetivo de Vhils foi encontrar uma forma de fazer com que o rosto anónimo da peça simbolizasse todas as pessoas que tornaram a Bordallo Pinheiro numa marca de cerâmica icónica.
“O rosto que figura neste prato é também uma forma de humanizar a fábrica, evocando as pessoas que fizeram e fazem parte dela e continuam a construir sobre o legado de Bordallo. Um símbolo, em suma, da perseverança e da reivenção, que mantém vivo este processo tradicional de produção”, explica o artista.
Para isso, foi preciso desafiar alguns limites técnicos e artísticos da cerâmica e recuperar, por exemplo, uma técnica bem antiga de sobreposição de vidrados, utilizada nas primeiras peças produzidas pela Bordallo Pinheiro. “A minha parte é muito pequena. O grosso é feito pelos trabalhadores da fábrica”, explicou Alexandre Farto durante a apresentação da obra.
Para dar um toque seu, Vhils utilizou ainda uma técnica desenvolvida no âmbito do seu projeto, “Scratching the Surface”, que consiste na gravação de superfícies em baixo-relevo através da remoção parcial das camadas superficiais. A ideia foi criar composições através do contraste volumétrico e transformar o vidrado artístico no formato de um único rosto que simboliza o rosto de todos os trabalhadores da fábrica da Bordallo Pinheiro ao longo dos últimos 135 anos.
“É um trabalho que traz um bocadinho do que é o meu universo para o do Bordallo. Trazer uma nova geração de artistas para esta área é muito importante e, para mim, é uma honra passar a fazer parte desta história”, acrescenta o artista. O mais difícil foi conseguir adaptar as técnicas utilizadas em grandes murais para frágeis peças em cerâmica.
Quimera é, portanto, o resultado de cerca de dois anos de trabalho em que Vhils e os trabalhadores da fábrica se juntaram para escolher as melhores técnicas, materiais e processos envolventes. Ao assinalar os 135 anos da fábrica, e por serem pintados manualmente pelos artesãos da Bordallo Pinheiro, cada um dos 135 exemplares de Quimera são peças únicas e irrepetíveis.
“Trabalhar com Alexandre Farto foi como recuar à génese da fundação das Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, em que a palavra “impossível” não fazia parte do léxico do nosso fundador, Raphael Bordalo Pinheiro. Em conjunto com o artista, desafiámos todos os limites técnicos e artísticos da faiança, transformando um material que está presente na vida da humanidade desde tempos imemoriais numa peça evocativa aos 135 anos da fábrica, de edição limitada, que vai ficar na história da Bordallo Pinheiro e da arte contemporânea portuguesa”, refere Nuno Barra, Administrador da Bordallo Pinheiro.
A peça Quimera está disponível por subscrição nas lojas Bordallo Pinheiro e Vista Alegre e custa 3.900€. A coleção “WorldWide Bordallianos” começou em 2017 com a peça Figo de Paula Rego, seguindo-se, em 2018, Banana Prata Madeira, uma obra da autoria de Nini Andrade Silva.