A 1 de dezembro de 1908, o rei D. Manuel II assinava o livro de honra da Claus Porto. No mesmo ano, o contabilista Achilles Brito tornou-se sócio de Ferdinand Claus e Georges Schweder, os cavalheiros alemães que criaram a marca 11 anos antes, em 1887.
Tudo começou numa fábrica perto da atual rotunda da Boavista. Os dois amigos por ali se instalaram e começaram a produzir perfumes e sabonetes. O reconhecimento internacional surgiu poucos anos depois, em 1904, quando na Exposição Universal em Saint Louis, nos Estados Unidos, receberam uma medalha de ouro.
Mas a passagem pela Claus Porto não durou muitos mais anos. Durante a primeira Guerra Mundial, Ferdinand e Georges foram forçados a abandonar o País e Achilles ficou a comandar a marca. Depois disso, foi sempre a somar vitórias e reconhecimento — legado que foi passado para os filhos, netos em bisnetos.
Em 1993, os sabonetes e perfumes Claus Porto chegaram aos mercados de luxo dos Estados Unidos, Inglaterra e Canadá. Aquiles e Sónia Brito, bisnetos de Achilles, foram os grandes responsáveis por todo este sucesso.
É esta a história — e muito mais — que pode ver no segundo piso da nova Claus Porto, que abre segunda-feira, 12 de junho, na rua das Flores no Porto. Com 300 metros quadrados divididos por três pisos, a loja “não é um museu porque essa palavra remete para um espaço antigo, estático, onde as pessoas não podem fazer nada além de admirar as obras de arte nele existentes”, conta à NiT Maria João Mendes. A diretora de comunicação prefere que associem “a um local onde o cliente pode conhecer, viver e sobretudo experienciar a marca”. No fundo, “conhecer de perto toda a história que está à volta da Claus Porto”.
A primeira prova disso vê-se logo à entrada, com uns móveis em madeira onde é suposto os clientes deixarem os seus casacos e guardarem os pertences — num cacifo com chave. “A ideia é que as pessoas vivam muito o espaço e passem cá muito tempo. Há muita coisa para ver”, explica Maria João Mendes.
Para ver e sentir. Atrás das escadas criadas pelo arquiteto João Mendes Ribeiro, responsável por todas as mudanças no edifício que anteriormente era o Museu das Marionetas, está um lavatório feito a partir “de um único bloco de mármore”. Lá, as pessoas podem experimentar todos os produtos para perceberem quais são aqueles que querem levar.
Ainda neste piso térreo estão expostas as quatro coleções da Claus Porto, “Clássica”, “Musgo Real”, “Deco” e “Água de Colónia”. Mas não só. Num canto, uma antiga cadeira de barbeiro chama a atenção. É ali que, todos os sábados, vai acontecer “um ritual de barbearia à antiga, com navalha e toalhas quentes e frias”. O serviço dura uma hora e está disponível por marcação entre as 10 e as 15 horas para todos os homens que gastarem 50 ou mais euros em compras.
De lá, sobe-se para o segundo piso, dedicado à história da marca. “Talvez esta área seja aquela que se assemelha mais a um museu, mas como não gostamos desse nome, chamemos-lhe antes galeria”, conta a diretora de comunicação. Os cem metros quadrados deste espaço respiram história. Está lá todo o património da Claus Porto. Há fotografias antigas, escrituras, receitas, medalhas e notas de encomenda. É lá que está exposto o Livro de Honra assinado por D. Manuel II que na noite de 8 de junho de 2017 foi também assinado por Rui Moreira, o presidente da Câmara Municipal do Porto.
Também a evolução dos logotipos ao longo dos anos está pendurada nas paredes, com os primeiros escritos em francês já que “naquela altura era mais chique”, conta Maria João Mendes.
Mas a galeria não se fica por aqui. Móveis, material de laboratório e cadeiras antigas outrora pertencentes à fábrica da Claus Porto estão agora em exposição na nova loja. Para completar, há montras envidraçadas com pinhas, musgo e flores, a matéria-prima que faz os sabonetes e perfumes da marca.