A pessoa que mais marcou golos em todos os Campeonatos do Mundo, entre homens e mulheres, chama-se Marta Silva. A brasileira, de 33 anos, já foi eleita por seis vezes a melhor jogadora do mundo e tem mais troféus nessa categoria do que o português Cristiano Ronaldo. No torneio mundial deixou a sua marca e nas redes sociais também.
Apesar de tantos títulos, a capitã da seleção brasileira — que se destacou no Campeonato do Mundo Feminino de 2019, a decorrer em França, mas que foi eliminada este domingo, 23 de junho, nos oitavos-de-final — bateu o recorde de golos com chuteiras sem marcas. Isto porque a craque não tem nenhum fornecedor deste material desportivo.
Durante os jogos, Marta chamou a atenção pelas chuteiras pretas apenas com um símbolo em rosa e azul. A iniciativa faz parte de uma campanha pela igualdade de géneros no desporto, a #goequal.
“Bola igual. Campo igual. Regras iguais. Se as mulheres jogam futebol da mesma forma que os homens, por que elas não recebem o devido reconhecimento? O devido apoio? A devida remuneração? Equidade é algo pelo qual devemos todas e todos lutar. Afinal, somos iguais. #GoEqual Pela equidade de género nos esportes”, diz a legenda de uma das fotos do movimento.
O empresário da camisola 10 da equipa brasileira confirmou que nomes como a Nike e a Adidas fizeram propostas que não estavam à altura do desempenho da atleta e do que ela representa para o futebol mundial. Até julho de 2018, Marta Silva tinha patrocínio da Puma, mas com o fim do contrato, foi-lhe oferecido um valor bem abaixo do que costumava receber da marca.
Em entrevista à revista “Vogue“, Marta desabafou: “Imagina o quanto eu ganharia e quantos patrocínios teria se tivesse os mesmos títulos, mas fosse homem? Essa diferença tem que acabar, estamos abrindo caminho para as gerações futuras”, disse a atleta.
A 18 de junho, a futebolista marcou o 17.º golo num Mundial e superou os 16 golos do alemão Miroslav Klose no torneio de futebol. Mas no jogo em que a sua equipa venceu a Itália por um a zero, o batom roxo utilizado pela número 10 rendeu mais comentários do que a vitória.
Tratava-se de um batom da linha Power Stay, da Avon, que promete ficar 16 horas sem sair nem borrar. A ideia da coleção foi criar batons com altíssima fixação já na primeira aplicação, o que foi comprovado por Marta, que jogou pelo menos toda a primeira metade da partida sem oportunidade para retocar a maquilhagem.
Enquanto a maior jogadora do Brasil luta pela igualdade de géneros e denuncia a falta de apoio às mulheres desportistas, ela ganha espaço com patrocinadores que vão além do universo do desporto, como o fabricante do batom que utilizou quando bateu mais um recorde na carreira profissional.
O produto começará a ser vendido a 12 de julho no Brasil e vai custar cerca de 8€. Serão dez cores. Em Portugal, a previsão é que o artigo esteja à venda a partir de outubro.
como Marta conseguiu passar o jogo todo com o batom intacto????? eu com meia hora dançando numa festa não tem mais nada puts
— Carol (@_carolcar) June 18, 2019
Marta nasceu na pequena cidade de Dois Riachos, em Alagoas, estado do nordeste do Brasil. Entrou na escola aos nove anos, mas o futebol já fazia parte da sua vida desde os seis. A capitã da seleção brasileira sofreu bullying por se dedicar a um desporto maioritariamente masculino, mas não deixou que o preconceito a desmotivasse.
Aos 14 anos assinou o primeiro contrato de trabalho com o Vasco da Gama, equipa do Rio de Janeiro. Desde então, a atleta passou pelo Santa Cruz (do Brasil), pelo Umeå IK (Suécia) e pelo Santos (Brasil). Nos Estados Unidos, jogou em várias equipas norte-americanas e conquistou títulos. Em 2012, voltou à Suécia e levou o Tyresö FF e o FC Rosengård ao topo do pódio da liga nacional.
Com a camisola do Brasil, foi medalhista de ouro nos Jogos Panamericanos de 2003 e 2007 e de prata nos Jogos Olímpicos de 2004 e 2008. Em 2007, Marta também conquistou a prata com o segundo lugar no Mundial.
Apesar da atuação brilhante, Marta terminou a participação no Campeonato Mundial Feminino 2019 pedindo mais apoio. Logo após a eliminação da seleção, direcionou o seu discurso para a nova geração de futebolistas que terá de substituir a sua.
“A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar. (…) Quando digo isso é querer mais, treinar mais, estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos e mais quantos minutos forem necessários. É isso que peço para as mulheres. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais”, disse a jogadora com lágrimas nos olhos.