Aos 24 anos, Daniela Matinho, natural de Pombal, despediu-se do trabalho que tinha em Paris, pegou no mealheiro, fez as malas e anunciou à família e amigos que ia viajar sozinha pela América do Sul durante seis meses.
“Eu já estava há quase quatro anos em Paris. Primeiro tive uma vida de Erasmus, depois uma vida de expatriada, e depois já tinha uma vida de francesa. Os meus amigos eram quase todos franceses, os meus amigos estrangeiros tinham ido todos embora”, recorda à NiT Daniel Matinho. “Pensei: ou vou embora agora, ou compro uma casa, arranjo namorado e faço vida aqui.”
Mas Daniela tinha vontade de ver outra coisa antes. Com algumas poupanças guardadas e a Europa praticamente toda vista, a jovem fixou no mapa a América do Sul.
E assim foi. A 24 de outubro apanhou o primeiro avião em direção a Salvador, no Brasil, e é aí que vai ficar durante um mês. Depois é somar destinos: das Cataratas do Iguaçu a Buenos Aires, sem esquecer o Chile ou Lima, durante seis meses Daniela Matinho não vai parar. Se tudo correr bem, e ainda houver dinheiro para isso, a viagem vai terminar em Miami.
Daniela Matinho é a nova cronista da NiT. Uma vez por mês, a jovem vai contar contar as aventuras de uma mulher que largou tudo para ir descobrir o mundo sozinha.
Salvador: finalmente cheguei, meu bem
Três horas antes da hora de embarque já estava no Aeroporto de Lisboa. Não é todos os dias que se atravessa o Oceano Atlântico e eu, com as minhas três escalas (Marrocos, São Paulo e Rio de Janeiro), preferi prevenir. Quando o dinheiro é pouco e se quer fazer muito, a solução é mesmo priorizar os voos com mais escalas.
Depois das selfies habituais com a minha mãe, chegou a hora da despedida. Não vos vou mentir, aquela despedida foi a mais difícil até hoje. Chorei como uma Maria Madalena quando abracei a minha mãe e pela primeira vez na minha vida senti a bênção dela como jamais tinha sentido. Sabem aquela preocupação, medo e angústia do desconhecido? Eu senti isso tudo ao mesmo tempo num espaço de segundos. Foi duro.
Às 19h30 aterrei em Marrocos (primeira escala) e este belo país recebeu-me com um dos seguranças do aeroporto a meio do seu momento de reza. Bem-vinda a África e a um país Muçulmano, pensei. Horas depois cheguei por fim à cidade de Salvador: a música no aeroporto, o português cantado e as pessoas sorridentes afirmaram que estava finalmente no Brasil.
Meia perdida agarrei na minha mala e apanhei o primeiro autocarro para o centro da cidade. Sinceramente, tinham-me dito que Salvador era perigoso e não sabia bem como chegar ao hostel mas o desejo de chegar era tanto e a vontade de gastar 80 reais [23€] num táxi era tão pouca que pensei: não há-de ser assim tão difícil e nada melhor do que uma aventurazinha como esta para começar a minha viagem, Dani.
Quando desci na Praça da Sé com as minhas duas mochilas (uma às costas e outra no peito), o meu casaco de inverno e a minha roupa de europeia respirei fundo e naquele momento a única coisa que me veio à cabeça foi: acciona o teu sentido de orientação rápido porque se não em dois minutos já não tens uma das mochilas. Salvador é perigoso como dizem e o meu tom de pele branca não consegue esconder as minhas origens.
Aquela primeira impressão de Salvador vai ficar na minha memória: um sol intenso, ruas cheias de pessoas, samba e espectáculos de percussão em cada esquina. Era terça-feira, dia de festa em Salvador.
Perguntei umas três vezes a rua do meu hostel e ladeira abaixo, ladeira a cima, lá dei com ele. Quando toquei à campainha e finalmente vi que estava no lugar certo, nem queria acreditar.
Consegui! Correu tudo bem e finalmente cheguei ao país que há anos anseio descobrir: o Brasil.
Daniela Matinho é autora do blogue Daniela Matinho — Une Petite Portugaise Perdue Sur Le Globe.