Têm uma beleza natural incrível, selvagem e acidentada — e até agora relativamente preservada. O boom do turismo tardou mas chegou também aos lugares mais remotos do planeta e aos seus segredos mais bem escondidos. No Atlântico Norte, encontra-se um grupo de ilhas vulcânicas que, depois de uma invasão turística, teve mesmo de fechar temporariamente para travar os danos. Felizmente, a recuperação foi feita por voluntários de todo o mundo, no fundo também turistas, que pagaram do seu bolso as viagens para o local.
As 18 ilhas vulcânicas Faroé ficam entre a Escócia e a Islândia mas são integradas tecnicamente na Dinamarca — e, ainda assim, autónomas. Autênticas pérolas rochosas no meio do oceano, sempre foram um dos locais mais perfeitos do mundo para caminhadas, trekking e observação de pássaros.
No entanto, têm sido invadidas nos últimos anos por turistas, encantados pelas suas paisagens áridas e intocadas, à procura de experiências inesquecíveis ou de fotos perfeitas para as redes sociais.
A situação escalou de tal forma que, no fim de semana de 26 a 28 de abril de 2019, as ilhas decidiram fechar para uma intervenção urgente de recuperação e limpeza, de vários campos e caminhos afetados.
E o mais incrível foi que quem realizou a limpeza e a concluiu com sucesso foi uma equipa de voluntários internacionais: pessoas comuns que quiseram ir ajudar e que foram, aliás, escolhidas entre 3500 candidatos que se mostraram disponíveis para fazê-lo.
“Fechado para manutenção, aberto para o voluntariado”, dizia o programa de recrutamento, e as pessoas aderiram em massa. Depois de um período de seleção, foram escolhidos 100 voluntários, com idades entre 18 e 75 anos, oriundos de 25 países.
O país inteiro fechou um fim de semana aos turistas para manutenção e os trabalhos foram esta semana notícia quando surgiram as primeiras reportagens de alguns meios que estiveram no local durante a intervenção.
Conta o jornal “The Guardian” que, atualmente, as ilhas já têm cerca de 110 mil visitantes a cada ano. Metade deles chegam em navios de cruzeiros à pitoresca capital de Torshavn. Esta tem uma população de 20 mil habitantes e apenas dois hotéis, com mais dois em construção.
As ilhas têm o objetivo assumido de aceitar e até fomentar o turismo, tornando-o fonte de rendimento crucial para o país e foram por isso realizadas até diversas campanhas. Contudo, será sempre, dizem os responsáveis, mantido o cuidado para as preservar. “Sabemos que as nossas ilhas são especiais. Mas acreditamos que podemos aumentar o mercado sem prejudicar a essência do que significa ser faroês”, disse o primeiro-ministro das Ilhas, à imprensa. Aksel Johannesen garantiu que valoriza a “enorme responsabilidade” de cuidar da comunidade e do meio ambiente.
“Embora recebamos pessoas de todo o mundo para conhecer as Ilhas Faroé, também precisamos de preservar e proteger o que temos, para garantir um futuro sustentável”, acrescentou.
É neste âmbito que surge este esforço de limpeza, que já está previsto para se repetir em 2020. Os voluntários pagaram as viagens do seu próprio bolso, mas receberam cama e mesa. Em troca realizaram trabalhos de conservação: erguendo placas de sinalização, reconstruindo montes de pedras, construindo miradouros, limpando e arranjando caminhos, ajudando a recuperar o ecossistema.
No projeto de limpeza, o repórter do “The Guardian” encontrou estudantes finlandeses, funcionários públicos londrinos, três matemáticos de Washington, pessoas de todo o mundo que chegaram às Faroé para ajudar a preservar os seus 11 locais turísticos mais populares. Os trabalhos foram exaustivos e os objetivos conseguidos.
“Queríamos fazer algo e manter a área para moradores e visitantes, mas precisávamos de ser pró-ativos e não esperar por mais problemas. Por isso, decidimos recrutar voluntários que ficassem entusiasmados por nos ajudar numa manutenção vital nas ilhas, o que permite aos visitantes ver a beleza das muitas atrações turísticas que todos conhecemos do Instagram”, disse um responsável da iniciativa, citado pelos meios britânicos.
Enquanto bem perto, a Islândia já superou a barreira dos dois milhões de visitantes por ano, as autoridades locais recomendam cautela. “Não queremos tornar-nos uma nova Islândia”, disse um representante regional de turismo. “Não queremos hotéis e apartamentos a invadir as ilhas. Temos de proteger os agricultores locais e suas ovelhas”, adiantou.