Tudo começou com uma ideia, um sonho que parecia inalcansável. Foi há seis anos que Inês e João Saldanha Pisco, 36 e 43 anos, decidiram avançar e realizar o projeto. Assim nasceu a Wind Family e a decisão de o casal partir numa viagem pelo mundo, de veleiro, com os seus quatro filhos e sem data definida de regresso.
“Passámos os últimos cinco anos a juntar dinheiro, a ler sobre o assunto, a pesquisar sobre outras famílias que fazem o mesmo”, conta Inês Saldanha Pisco à NiT. Em 2019 compraram o veleiro que brevemente chamarão de casa. No verão passado, estiveram dois meses dentro dele numa viagem pela costa portuguesa até ao Algarve.
“O maior desafio? Penso que será viver em família a tempo inteiro, estarmos sempre juntos, e com rotinas totalmente diferentes das que temos agora. Mas é como tudo na vida, quando fazemos pela primeira vez é só uma questão de nos adaptarmos”, refere.
Inês era organizadora de eventos, já João, formador de fotografia e apaixonado por vela. “O veleiro é apenas um meio de transporte que vamos usar para viajar, porque o intuito desta viagem é viajar, é conhecer o mundo. O João é capitão e com ele estou absolutamente descansada no mar.”
Os filhos do casal têm dois, sete, cinco e dez anos. Talvez a questão que mais surja se prenda à educação e à escola das crianças. “Vai ser ensino doméstico, tenho um agrupamento que está a ser impecável connosco e temos imensos professores a querer ajudar, professores que nos vão enviar o conteúdo todo e plataformas para aceder. Ninguém vai perder ano escolar nenhum, vamos é ser nós os tutores.”
O capitão trata dos últimos preparativos para a viagem que começa em julho, ou agosto, deste ano. A ideia é tornar o veleiro, comprado propositadamente para esta viagem, o mais sustentável possível. Está a ser instalado um sistema para transformar a água do mar em água potável e um pilote de vento.
O barco, de 15 metros, é bastante grande, tem uma cozinha, uma casa de banho, um quarto para os pais, um quarto para as duas filhas, outro para os dois filhos, um salão, um quarto de visitas e uma oficina.
A rota já está definida mas é totalmente maleável, e não há data certa para voltar. “Não temos tempo limitado e isso dá-nos uma liberdade que é uma sensação maravilhosa.” A viagem começa em Lisboa em direção a Porto Santo, de Porto Santo seguem para Cabo Verde, depois Gâmbia e regressam de novo a Cabo Verde. Daí, atravessam o Atlântico em direção ao sul das Caraíbas. Segue-se o Panamá, com a passagem pelo canal para o oceano Pacífico.
É no Pacífico que a família conta ficar mais tempo, seguindo depois para o oceano Índico. Contam também passar algum tempo na Ásia, depois Madagáscar, Moçambique, e a seguir, “o tempo o dirá”.
A Wind Family estará sempre contactável e com acesso à Internet. Para suportar a jornada, vão alugar as casas que têm e com esse valor, “ter uma vida simples”. “Os lugares turísticos são o que menos procuramos. Queremos estar com pessoas, conhecer novas culturas, por isso vamos estar quase no meio do nada e não há muito onde gastar, a não ser alimentação e a manutenção do barco.”
Os mantimentos para as longas travessias têm de ser pensados, “a conta é sempre o dobro, se vamos viajar 15, então temos de levar comida a contar com 30 dias, pode haver algum azar”.
Mas nem só de conhecer o mundo se trata esta viagem que terá uma forte componente solidária. “Temos dois projetos que gostaríamos de colocar em prática nos destinos onde atracarmos. Um deles chama-se Letters of Love. E consiste em ir com os miúdos às escolas de cada comunidade, criar uma caixa de correio e fazer com que se troque correspondência entre esses miúdos e outros que estejam hospitalizados nas proximidades e a precisar de uma mensagem positiva”, explica Inês com entusiasmo.
“Porém, estive recentemente na Guiné para a implementação deste projeto piloto e estive numa escola onde os miúdos nem tinham lápis para escrever as cartas. Achei que não fazia sentido e criei outro projeto a que chamei ‘menos lixo, mais amor’ porque é um país com muito lixo. Fiz uma formação aos professores e aos alunos sobre lixo e andámos todos juntos a apanhá-lo. Vai depender muito das necessidades dos locais.”
“O propósito da viagem é ir aos sítios onde ninguém vai e conhecer quem poucos conhecem. Para nós, viajar são as pessoas.” As crianças aventureiras ainda não percebem bem a dimensão da viagem, porém, há algo que já entenderam e que os deixa muito satisfeitos: vão viver de uma forma diferente e estar sempre com os pais.
Se quiser acompanhar a incrível volta ao mundo da Wind Family pode seguir a conta de Instagram da família.