O seu perfil no Facebook ainda diz que mora na Ericeira, mas na verdade Patrícia Curinha vive um pouco mais longe: em Bali, na Indonésia. Aos 42 anos, a empresária abriu o primeiro restaurante português naquele país, o incrível Batu Bali, onde o bitoque, as moelas e as pataniscas de bacalhau são um sucesso entre turistas e moradores. O sonho de milhares de pessoas, de viver num paraíso e com chinelos nos pés o ano inteiro, foi transformado num negócio de sucesso.
E a história começou há pouco mais de dez anos, quando Patrícia, então assessora de imprensa de vários eventos de surf e música, viajou pela primeira vez até Bali. Ficou “logo apanhada” com as paisagens, a cultura e os habitantes locais. Quis voltar e voltar. Depois foi ficando e ficando. Até que ficou mesmo de vez.
No final do ano passado nasceu o Batu Bali. O sucesso imediato deu a Patrícia, ao marido, João Patrocínio e ao chef de cozinha que os ajudou a levantar o projeto, Miguel Gonçalves, a certeza de que tinham tomado a decisão certa.
Os turistas gostam, os portugueses adoram e os locais devoram os petiscos portugueses, tão diferentes dos habituais pratos locais.
A proprietária explica à NiT como tudo aconteceu e, pelo caminho, dá as melhores dicas para conhecer e visitar Bali.
Como era a sua vida em Portugal?
Durante 15 anos fiz assessoria de imprensa, de diversos eventos ligados ao surf e à música, bem como promoção de artistas internacionais. O nascimento do meu filho fez com que abrandasse o ritmo de trabalho para me poder dedicar à maternidade, até porque nessa altura já vivia na Ericeira, afastada do reboliço de Lisboa. Em 2011, abrimos o primeiro restaurante de Sushi na Ericeira — Uni Sushi, pois conhecendo como conhecíamos a qualidade do peixe existente, achávamos que existia esta lacuna na vila. Só mais tarde, em 2015, abrimos o Tawa Sushi, em Torres Vedras.
O restaurante.
Sempre gostou de viajar?
Sempre. Adorava viajar e sempre o fiz por razões profissionais, não só de norte a sul de Portugal, devido aos eventos a que estava ligada, como também no estrangeiro, para promoção de novos álbuns e concertos de artistas internacionais. Assim, tive a oportunidade de conhecer muitos países da Europa.
As viagens são uma prioridade na sua vida?
Sim, contava os dias como ouro. Preferia não gozar férias de verão para acumular dias e fazer umas férias mais longas fora do país, sempre com o objetivo de conhecer novas culturas.
Quais foram as melhores viagens?
Em Portugal, os Açores; a Islândia, na Europa, e Bali, na Ásia.
Quando é que foi a Bali pela primeira vez?
Fui com um grupo de amigos, em 2003/2004, e um deles foi o primeiro português a ter um “Warung” [bar] na praia de Balangan, em Uluwatu. Era do Vasco Nogueira (Caracol), e o bar tem o nome de Warung Caracol.
Apaixonou-se logo?
Sim. Adorei a viagem, o sorriso do povo, as praias, o calor, o verde, a música e o cheiro característico do ritual das oferendas aos deuses, a energia que se sente!… Só pensava em voltar todos os anos. Tive a sorte de conhecer a ilha bem menos desenvolvida do que é hoje, imagens que guardo desde então.
Quando é que decidiu abrir o primeiro restaurante português lá?
O meu marido (João Patrocínio) também já ia para Bali há vários anos fazer trabalho comunitário e todos os anos era uma viagem obrigatória, mesmo depois de termos o nosso filho. Começámos por ir um mês. Depois, no ano seguinte fomos dois meses. A seguir ficámos quatro meses. E quando percebemos que queríamos ficar mais tempo, avançámos para a nossa própria casa. Como tínhamos imensas saudades da comida portuguesa e sentimos o mesmo em muitas pessoas que viviam lá ou passavam lá férias, decidimos avançar para esta aventura. Abrimos o primeiro restaurante de comida portuguesa em Bali.
Fizeram estudos de mercado, etc.?
Não, acreditámos no desafio.
Como é que encontraram o espaço?
Essa foi a parte mais complicada. Passámos por vários espaços, até chegar ao oficial. Quando se aluga um espaço em Bali, tem que haver o consentimento de toda a família proprietária para podermos proceder ao contrato. Este processo pode demorar anos, no nosso caso, foram dois.
Detalhe no restaurante português.
Quando é que abriu?
O Batu Bali abriu em dezembro de 2017 [em Pecatu, Bali].
E como está a correr?
Está a correr lindamente, temos portugueses espalhados no mundo inteiro que nos visitam e a gastronomia portuguesa é a próxima grande descoberta no mundo. A nossa comida é muito diversificada e saborosa.
Já teve até visitas de portugueses conhecidos?
Sim, tal como aconteceu connosco, é normal que ao fim de um tempo de férias se sinta vontade de matar saudades da nossa comida, daí que já tenhamos sido visitados por vários portugueses, não só anónimos, como também mais conhecidos, como a Merche Romero, José Carlos Pereira, Sofia Arruda, Oceana Basílio, etc..
Eat, Love and Bali ❤️! Thanks for visiting us @sofiaarrudagram 📍@batubali
Publicado por Batu Bali em Domingo, 24 de Junho de 2018
E os moradores, o que acham?
Eles adoram as moelas, nunca as tinham provado assim cozinhadas, o Bife na Pedra, pois é Halal [permitido], o Polvo à lagareiro, o Bife de Atum à moda dos Açores e as Pataniscas de Bacalhau.
Tem mais turistas ou moradores?
Eu diria que temos mais turistas como clientes, mas a comunidade portuguesa expatriada cresce diariamente e também adora a nossa cozinha. Os balineses gostam de experimentar outros tipos de gastronomia.
Qual o prato mais pedido?
Fácil, o famoso Bitoque.
Morar em Bali é aquele paraíso de chinelos no pé durante todo o ano?
Sim, é. Mas às vezes precisamos de umas galochas, quando chove muito…
Os pratos nacionais.
Para quem nunca foi a Bali, quais são as suas dicas?
Aproveitem todos os momentos e aceitem o que Bali tem para vos dar, pura energia. Visitem a cidade de Ubud que é muito cultural e tem muitos centros de yoga e meditação, os lindos campos de arroz em Tegalalang. E as praias de Canggu, Nusa Dua e Uluwatu, a maior parte delas com altas ondas para a prática do surf.
Não esquecer as compras em mercados tradicionais como em Ubud, Sukawati e os restaurantes e bares trendy em Kuta e Seminiak. Devem também visitar os Templos espalhados pela ilha e assistir às danças balinesas.
A ilha consegue ter todas as vertentes, o equilíbrio espiritual, a praia, a cultura, as compras, os desportos de mar, etc.. e, obviamente, não esquecer as massagens, que são óptimas. E existem outras ilhas perto de Bali que para nós são obrigatórias, como Nusa Penida, Nusa Lembongan, Lombok e Gili.
Qual é a melhor altura do ano para fazer esta viagem?
Nós normalmente vamos pela Emirates, que só tem uma escala: Lisboa-Dubai, Dubai-Bali. Quanto à altura, para mim é outubro e novembro e abril e maio. Mas todas as alturas são boas, noutros meses pode estar mais cheio, ou ser época das chuvas, mas é sempre bom.
O que é que não se pode mesmo perder?
Depende muito de cada um e com que objetivo a pessoa quer conhecer a ilha. Mas na minha opinião, se visitarem as zonas de Ubud, Canggu, Uluwatu, e conhecerem as ilhas circundantes de Bali, como Nusa Penida e Lombok, já ficarão com um conhecimento bastante razoável de Bali.
Patrícia Curinha, a proprietária.
E onde é que podemos ficar?
Quanto a alojamento existem variadíssimos hotéis, mas o ideal é ficar em villas ou bungalows, pois assim poderão ter um maior contato com a realidade local. Ficam os melhores sítios para cada uma das praias ou locais imperdíveis de Bali.
Uluwatu: Sal Secret Spot, Pondok Indah (para um budget mais pequeno), Mu (tem aulas de yoga às 9h30 todos os dias!), Gravity Hotel, Villa Joya (Balangan), Boho Bingin, Villa Gula, U Spa (Massagens imperdivéis), Dream Sea Surf (Surf Camp), Fado Villa Prestige.
Canguu: Villa Sal, Villa Lua, Villa Paz, Como Uma hotel, Mondo Surf Village, Gypsy Moon.
Ubud: Vai abrir um hotel brevemente que não devemos perder (Utopia), Pertiwi Bisma 1, Uma by Como, Komaneka, The Yoga Barn.
Nusa Dua: Villa Romeu e Julieta, o Westin (mais carote).
Gili: Le Pirate.
Lombok: Harmony Hotel.
Rote: Bo’a Vida Rote.
Que conselhos tem para os portugueses que estão a pensar viver em Bali?
Temos que nos adaptar ao ritmo deles, e não ao nosso. Se calhar, eles é que estão certos! Vivem mais e não se chateiam com nada. Aceitam tudo o que a vida lhes dá. No fundo, respeitar Bali e o povo.
Os vistos e as burocracias são complicadas?
O ideal é irem à Embaixada da Indonésia, em Portugal, caso venham mais de 30 dias. Para trabalhar é necessário um visto adequado e estar legalizado. Isso é muito importante — sobretudo quando se está num país tão diferente e tão longe de Portugal.