Todos nós já pensámos, pelo menos uma vez na vida, como seria largar tudo — empregos, tecnologias, carros, corridas à creche e ao supermercado, até, pelo menos fisicamente, família e amigos — e ir viver para longe, bem no meio da natureza. Agora pode saber, e experimentar, o que é isso. Ainda por cima numa incrível — e, claro, minúscula — Hobbit House, um Alojamento Local que nasceu em abril no meio da Serra do Açor.
Em 2013, Teresa Leite Gonçalves e Ricardo Gonçalves viviam e trabalhavam no Porto. Ela era marketeer e Ricardo era biólogo. Fazia um importante trabalho de ligação entre as pessoas que precisavam de órgãos e dadores.
Há exatamente seis anos decidiram deixar tudo para trás. Com um bebé pequeno, saíram do Porto e mudaram-se para o interior de Portugal: perto de Coja, Açor, distrito de Coimbra.
Foi um caminho sem regresso, conta Teresa à NiT. Mas isto não quer dizer que tenha sido fácil. “Na altura, todos os nossos amigos chamaram-nos loucos, porque achavam que íamos deixar tudo o que tínhamos de garantido para irmos para o meio do nada”, começa por explicar.
E foi quando o casal repensou um pouco a decisão. “Sentimos sobretudo uma necessidade enorme de apoio para uma mudança tão radical de vida, deixar a cidade e os empregos para vir para o meio do campo. E também falta de apoio para uma mudança de vida que é muito psicológica e interior.”
Quando veio a adaptação, veio a ideia: criar um sistema de apoio a quem quisesse fazer o mesmo. E foi assim que nasceu a Vida em Transição. É uma comunidade familiar que pretende ajudar pessoas individuais ou famílias que queiram fazer alguma mudança de vida — seja individual ou não, seja de que tipo for.
“Convidamos as pessoas a passarem uma semana connosco e ajudamo-las a saber se faz sentido a mudança na sua vida. Muita gente quer ir para o campo mas não entende bem o que significa, o que implica, e nós ajudamos a orientar. E também noutras questões de como vivemos a vida, como encaramos viver”, diz Teresa.
Há cerca de três anos que o casal, agora com dois filhos, recebe pessoas e as ajuda na sua transição — seja física ou interior. Foi neste contexto que surgiu a ideia da Hobbit House.
“Há dois anos sofremos com os incêndios aqui da região, perdemos tudo menos a casa, pelo menos a casa ficou. Mas todas as infraestruturas, casas de banho, chuveiros, etc, arderam. E o que queríamos voltar a fazer? Uma coisa que se integrasse na natureza, que parecesse certa no local onde está, que parecesse estar mesmo numa montanha — eu queria mesmo dentro da montanha mas para as nossas possibilidades era muito complicado”, explica a proprietária.
O espaço fica na Serra do Açor, perto de praias fluviais inesquecíveis, quase intocáveis pelo homem. Está junto à Fraga da Pena, numa região de casas de xisto. A ideia era integrar-se na natureza e, por isso, a casa foi erguida em madeira, com ajuda da empresa MiniCasas, e é ecológica.
É mesmo mini: três por três metros quadrados, nove no total. “Cabe um casal de adultos, quanto muito com um bebé”, explica Teresa.
A Hobbit House abriu no início de abril e já teve visitas — os primeiros hóspedes gostaram tanto que estenderam a estadia. Pode ficar lá de duas maneiras: simplesmente ir passar uma noite num alojamento rural, um mini retiro na natureza, escapadinha ou descanso; ou então fazer um programa, de fim de semana ou de uma semana, da Vida em Transição.
De qualquer forma, tem sempre a experiência de viver na serra: o casal mora no mesmo terreno e até os hóspedes tomam o pequeno-almoço com eles. Podem meditar, ajudar na horta, conversar. A casa de banho é seca para alimentar a horta (ou seja, há um reaproveitamento que serve depois de adubo), que faz parte do conceito de vida em círculo do casal e o chuveiro é aquecido com fogão a lenha. O lixo é o mínimo possível.
Os preços é que variam: para dormir na Hobbit House paga a partir de 35€ por noite; para a Vida em Transição, paga por um fim de semana a partir de 100€ por pessoa e pelo programa de uma semana 300€. Há preços especiais para famílias.