Pode já ter passado por elas — ou no solo, mesmo por cima delas — milhares de vezes e nunca imaginou sequer que ali estavam. Os vestígios de uma Lisboa antiga continuam vivos e preservados a escassos degraus da estrada onde todos os dias carros, lisboetas e turistas passam. O submundo da capital é na verdade um outro mundo, acessível duas vezes por ano, com visitas organizadas pela Câmara Municipal que esgotam mais rápido do que os bilhetes para um concerto dos U2. Todo o alvoroço, todo o frenesim é compreensível: as Galerias Romanas da Rua da Prata são mesmo incríveis e a NiT foi confirmar — e fotografar — para que possa perceber porquê.
Diz a Câmara de Lisboa, por meio da EGEAC, que as galerias romanas de Lisboa, datáveis do início do século I d.C., são abertas ao público cerca de duas vezes por ano — e são apenas duas vezes por razões de preservação do monumento e segurança. Este ano, as primeiras visitas já estão marcadas (e como habitualmente, esgotadas): mais de três mil visitantes são esperados nos dias 29, 30 e 31 de março (esta sexta-feira, sábado e domingo), das 10 às 19 horas. O segundo bloco anual de visitas deverá acontecer, como de costume, em setembro.
Todos os anos a historia repete-se: assim que a autarquia anuncia a marcação das inscrições para as visitas, os bilhetes voam — quando a NiT anunciou as vagas para estas datas de março, elas esgotaram minutos depois de o artigo ser publicado. E isto com dezenas de horários disponíveis, em vários dias.
Cada visita custa 2€ — os menores de 12 anos não pagam. Além das visitas “normais”, o Museu de Lisboa promove percursos pedonais temáticos com início nas Galerias Romanas e final nos núcleos do Museu de Lisboa: Santo António, Teatro Romano e Casa dos Bicos (núcleo arqueológico).
Desde há uns anos, e com o objetivo de alargar as possibilidades de visita e de evitar as longas filas que se formavam, as inscrições são realizadas exclusivamente através de uma plataforma na Internet, estando a reserva confirmada após o levantamento do bilhete.
A história das galerias
Segundo a EGEAC, esta estrutura romana foi descoberta no subsolo da Baixa de Lisboa, em 1771, na sequência do terramoto de 1755 e posterior reconstrução da cidade.
Ao longo dos tempos, as galerias têm sido objeto de diversas interpretações quanto à sua função original. Atualmente, teses quase unânimes avançam a possibilidade destas galerias romanas terem sido um criptopórtico. Ou seja, uma solução arquitetónica que criava, em zona de declive e pouca estabilidade geológica, uma plataforma horizontal de suporte à construção de edifícios públicos de grande dimensão.
A descoberta de uma inscrição a Esculápio, Deus da Medicina, que se encontra atualmente no Museu Nacional de Arqueologia, poderá ser uma confirmação do carácter público deste edifício. A inscrição está feita em nome de dois sacerdotes do culto imperial e em nome do Município de Olisipo, gravada numa das faces de um bloco de calcário e datada do séc. I a.C.
No início do séc. XX, as galerias ficaram conhecidas como as “Conservas de Água da Rua da Prata” por serem utilizadas pela população como cisterna. Quando está fechado, o monumento romano tem um nível de água superior a um metro de altura, proveniente de lençóis freáticos que correm por baixo de Lisboa, havendo por isso necessidade de uma operação de bombeamento da água para possibilitar a visita ao seu interior —e ainda uma limpeza para que as visitas se realizem em segurança.
A autarquia lembra por isso que estas visitas são possíveis graças à conjugação de esforços da Câmara Municipal de Lisboa, da EGEAC, do Museu de Lisboa, do Regimento de Sapadores Bombeiros, da Polícia Municipal, do Centro de Arqueologia de Lisboa, da Direção Municipal de Mobilidade e Transportes, Serviços Elétricos e Mecânicos, e ainda da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.
Em 2017, a Câmara de Lisboa admitia que, dado o interesse revelado pela população, ponderava abrir as Galerias ao público durante todo o ano, retirando constantemente a água, mas esta opção tem sido adiada.
Carregue na galeria para conhecer melhor este incrível tesouro dos subterrâneos de Lisboa.