Se ser poeta é ser mais alto, e maior do que os homens, então Florbela Espanca merece estar no alto de um pedestal. A poetisa portuguesa, cujo poema foi imortalizado pela canção de Luís Represas nasceu e morou em Vila Viçosa, e uma das suas moradas está ao abandono.
Existem várias homenagens à escritora em Vila Viçosa, é um facto, no entanto, a casa do número 59, na Rua Florbela Espanca, onde a poetisa morou, está completamente ao abandono há vários anos.
Segundo a NiT conseguiu apurar junto do Município de Vila Viçosa, esta casa está bastante degradada e os proprietários atuais nem sequer moram na região. Tal como foi avançado pela Divisão da Cultura da Câmara Municipal, o imóvel pertence a vários herdeiros, que não conseguem chegar a um acordo sobre o futuro daquele espaço.
Enquanto os anos passam, a casa vai-se degradando cada vez mais. Quem por lá passa, não deixa de reparar na fachada amarela, onde existe uma caricatura da poetisa e uma placa onde se pode ler: “Nesta casa viveu Florbela Espanca”. O que também não passa despercebido são as janelas estragadas e com vidros partidos e os dois contentores mesmo à porta.
Desde 2015 que está disponível uma petição para que este espaço seja transformado numa casa-museu. Tiago Passão Salgueiro, que sempre viveu em Vila Viçosa, foi o responsável pela criação deste abaixo-assinado, que ainda está disponível online.
“Há uma memória muito grande associada a Florbela que se pode perder”, conta Tiago à NiT, explicando também que existem várias peças de espólio da poetisa que está há vários anos no Posto de Turismo de Vila Viçosa e que incluí fotografias inéditas, algumas delas da autoria de Bonfilho Faria, amigo de Florbela, telas feitas por João Maria Espanca, pai da autora, postais escritos e assinados e até mesmo manuscritos.
Além da casa da Rua Florbela Espanca, existe ainda outro imóvel na Rua Dr. Gomes Jardim, que está devoluto há vários anos. Esta foi outra das casas onde a família Espanca morou, e terá até sido aqui que a poetisa se casou com Alberto de Jesus Silva Moutinho, e existe mesmo um registo desse casamento, que Tiago tem consigo.
“Muitas pessoas mais velhas aqui de Vila Viçosa ainda se lembram do velho João Maria Espanca, de o ver no jardim daquela casa a plantar espargos e cogumelos”, diz Tiago, recordando que o pai de Florbela morreu em 1956.
Até 24 de março, a petição contava com pouco mais de 300 assinaturas. Nesta data, Miguel Somsen, responsável pela marca Gin Lovers e que trabalha no departamento de promoções da TVI, fez uma partilha com uma fotografia da fachada do número 59 da Rua Florbela Espanca na sua página de Facebook, onde quase 20 mil seguidores. Em poucos dias, as 329 assinaturas transformaram-se em 1279.
A casa "onde viveu" Florbela Espanca em Vila Viçosa está hoje abandonada atrás de cinco ecopontos e um Opel Corsa mal…
Publicado por MC Somsen em Sábado, 24 de Março de 2018
“Já tentei falar várias vezes com a Câmara sobre este imóvel, e até o presidente da Assembleia Municipal já demonstrou algum interesse em avançar com este projeto, mas, até agora, está tudo na mesma”, conta Tiago. “Agora tive a sorte de ver o número de assinaturas aumentar, porque partilharam a petição no Facebook.”
Muitos foram os comentários de pessoas que se apressaram a assinar a petição pública, onde se apela que o Município “tente encontrar forma de criar condições para que este património local seja dignamente salvaguardado e divulgado e permitida a sua fruição pública”, até à data de publicação deste artigo, a publicação de Somsen contava com 526 partilhas, e 126 comentários, muitos deles de desagrado.
“Um país que assim trata o Património Cultural… está doente…”, escreve Simão Silva. “É uma vergonha, perder-se a oportunidade de fazer uma casa-museu dedicada ao nome mais sobrevalorizado das letras portuguesas”, diz Hugo van der Ding.
A NiT tentou falar com o presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa, Manuel João Fontainhas Condenado, que detém também o pelouro da Cultura da autarquia, mas até à data de publicação deste artigo não foi possível obter um comentário oficial.