O casal fofo e sem vergonha na cara armou-se em chique e foi ao Lumni, do chef Miguel Castro e Silva. Há gente com mania, o que se há-de fazer? Sairam de lá deslumbrados, apaixonados e maravilhados. E nós aqui, a comer sandes de fiambre. Está muito bem.
Restaurante: Lumni
Local: Lisboa
Preço médio (2 pessoas): 60
Rating: 68 (de 0 a 69)*
Ele: Não é todos os dias que se chega ao último andar dum hotel de charme, em brava antecipação dum restaurante recomendadíssimo, e somos recebidos pelo próprio artífice — e um dos mais notáveis chefs portugueses. Miguel Castro & Silva, um gentleman, fez-nos maturar água na boca com uma conversa prévia de uma hora no terraço do Lumni (condimentada com um par de deliciosos Porto Sour). É um Homem do Norte, carago.
Ela: Sim, um homem do Norte que viajou por imensos paladares e percebeu que, para si, só um caminho faz sentido: a gastronomia portuguesa. Fala de pratos como eu retrato os meus avós, com o mesmo carinho e paixão. Explicou-nos o porquê e fez todo o sentido. Mais do que cozinha de autor, quer apresentar pratos com sentimentos. Comida estruturada e bonita, claro. Mas com a paixão das tradições nacionais. As mesmas que as nossas avós traziam para a mesa de domingo.
Ele: Na parede principal uns retratos de estilo clássico encaram os convivas cada vez mais ébrios a cada prato carinhosamente servido (e explicado pelo chef). Quando enfim noto que os figurões se apresentam com um par de óculos escuros de armação verde, confirmo a impressão: já fui. O casal amigo que levámos a jantar tranquiliza-me: não estás bêbado, os quadros são mesmo assim. Mais sereno, faço-me ao atum e ao arroz de lingueirão como se fosse a última vez na vida que os apreciasse. E deve ter sido. Melhores não encontrarei.
Ela: O arroz teve uma inspiração especial na ilha de Faro, onde o açafrão ganha destaque. Mas foi a lula recheada que me conquistou, com sabores únicos de frescura e ambição, que nos voltam querer dar a provar tudo aquilo que já não comia desde pequena.
Ele: Se fosse possível engarrafar e vender a luz de Lisboa, eu por esta altura andava a comprar ilhas das Maldivas com bitcoins. O Lumni existe motivado pela graça desse espectro de cores ao redor da capital e tem toque de humor à saída: oferece uns óculos escuros. Apetece ser Ícaro e no dia seguinte desafiar o Sol.
Ela: A sobremesa é divinal. Perdi-me e pronto. Na verdade, acho que ainda não saí do restaurante. Fico aqui à espera de uma segunda dose do mil folhas com queijo de cabra e sorvete caseiro. Hmmm.
Ménage a Trois
Um restaurante a roçar o perfeito, atendimento personalizado pelo chef, e vinhos aconselhados – e produzidos — pelo próprio (um hobby que em 2017 se traduziu numas meras 20 mil garrafas). A Santíssima Trindade.
Orgasmo múltiplo
Pessoas diferentes gostam de coisas diversas e é no equilibrar (e complementar) que está o ganho. A Sara atingiu o Nirvana com a lula recheada, o Luís foi ao céu com o risotto de cogumelos (um prato 100% terra, nas palavras de Miguel Castro & Silva).
Turn off
Não é fácil chegar ao Lumni, mas vale a pena. E não façam como nós, que para chegar ao Bairro Alto estacionámos sensivelmente nos arredores de Salvaterra de Magos. O Hotel Lumiares tem parque.
O Luís e a Sara vivem juntos numa casa e num espaço virtual chamado Welcome ABorges.