Michael J. Fox é um yuppie ambicioso. Talvez yuppie e ambicioso sejam um pleonasmo. Tanto na realidade como na ficção. Tudo depende do argumento, vamos lá ver. Michael J. Fox é Brantley Foster, sobrinho de Howard Prescott, dono da empresa onde começa a estagiar como rapaz do correio interno. Páginas tantas, Michael J. Fox passa também a ser Carlton Whitfield, um dos principais executivos da dita empresa. O seu dia a dia é puxado: entra no edifício como Brantley, sobe o elevador como Brantley, ao lado de tantos rostos anónimos, e, de repente, transforma-se em Carlton, homem de ideias peregrinas, todas de sucesso.
Passam-se os anos, muda-se o século e eis a versão feminina de “O Segredo do Meu Sucesso”, de 1987, com Jennifer Lopez a arriscar toda a vida profissional com base num perfil falso da cabeça aos pés. Em “Segundo Ato” — que estreia em Portugal esta quinta-feira, 27 de dezembro —, Maya é uma funcionária bem sucedida numa cadeia de supermercados e falha a sonhada promoção. A ausência de um curso universitário prega-lhe uma grande, enorme rasteira. No dia do seu 40.º aniversário, o fracasso atira-a para o abismo dos ideais profissionais e até sentimentais. Lá se vai o namoro com Trey (Milo Ventimiglia, o Jack do “This Is Us”). Lá se vai o emprego estável assim-assim.
O twist é provocado pelo filho da amiga forever Joan (Leah Remini). Expert em informática, o rapaz adultera a vida de Maya com uma série de perfis vistosos. O administrador veterano de uma empresa (Anderson Clarke = Treat Williams) está atento e contrata-a para trabalhar num produto de beleza 100% orgânico, numa competição interna com uma equipa liderada por Zoe (Vanessa Hudgens), filha adotiva de Anderson. Adotiva? Olá, tu queres ver?
Adiante. Segue-se uma sequência infinita de twists, uns caricatos, outros previsíveis. O filme entra num ritmo frenético, como se fosse um barco desgovernado, sem terra à vista. Maya ganha, perde, dança, ganha, perde, corre, ganha, perde, chora. Tudo numa série de flashes descoordenados, metidos à pressa, durante uns segundos mínimos, com a inenarrável voz de fundo delicodoce a dar um toque moralista à “Anatomia de Grey”.