O “Ocean’s 8” é um exemplo perfeito de blockbuster de verão, daqueles que fazem revirar os olhos de tão previsíveis. É um filme que tenta ser lustroso e ágil, carregado de estrelas carismáticas de Hollywood, e que cumpre também os requisitos comerciais ao funcionar como um híbrido de sequela e remake. Infelizmente, o todo consegue ser menor que a soma das partes, e este “Ocean’s 8” acaba por ficar mais que três dígitos abaixo de “Ocean’s Eleven: Façam as Vossas Apostas”. Enquanto que a encarnação de 2001 era naturalmente elegante e engraçada sem mostrar grande esforço, o novo filme de Gary Ross consegue desaproveitar o talento do elenco com um guião medíocre e uma realização desinspirada. O filme é agradável a espaços, mas avança de forma tão desastrada que torna aborrecido o que não deveria ser.
Sandra Bullock interpreta Debbie Ocean (a irmã de Danny Ocean, pois), uma mulher que põe em prática um plano megalómano para roubar uma fabulosa jóia da Cartier no próprio dia em que sai da prisão. Com a ajuda de Lou (Cate Blanchett), a sua parceira de sempre, Debbie recruta um grupo seleto de mulheres, cada uma com um talento particular. E que depois têm direito aos cinco minutos da praxe, onde o filme nos explica os traços gerais das personagem e as suas motivações para roubar a tal jóia. Descrito assim fica óbvio que a narrativa é desavergonhadamente igual ao “Ocean’s Eleven: Façam as Vossas Apostas”, com Blanchett a funcionar como análogo de Brad Pitt. Pelo meio, ainda há Richard Armitage, que interpreta Claude Becker, um ex-namorado de Debbie que é negociante de arte e traste nas horas vagas, e Anne Hathaway, que se interpreta a si própria (aqui é Daphne Kluger, uma atriz famosa) e parece ser a pessoa que mais se divertiu com o filme.
A novidade da proposta de “Ocean’s 8” fica-se só pela reformulação de género. Na versão original de 1960, havia o rat pack de Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr., e no óptimo remake de Steven Soderbergh, a testosterona continuou forte com George Clooney, Brad Pitt, Casey Affleck, Matt Damon, entre outros. E agora a pandilha é formada exclusivamente por mulheres, com Sandra Bullock, Cate Blanchett, Helena Bonham Carter, Mindy Kaling, Rihanna, Awkwafina, Sarah Paulson e Anne Hathaway nos papéis principais. Quase todas elas estão melhores que o esperado, apesar de estarem limitadas por um argumento que não lhes permite a substância que mereciam. Das oito mulheres que compõem o gangue, apenas Rihanna (Nine Ball, a hacker de serviço) falha o alvo, por se encostar mais ao seu star power que aos (poucos) dotes de atriz. Mesmo assim, vale a presença no ecrã e fica a sensação distinta de que, com outro realizador e guião, a cantora podia ter feito algo de realmente bom no filme.
Se há uma explicação para os problemas de “Ocean’s 8” é a reverência exagerada a “Ocean’s Eleven: Façam as Vossas Apostas”, porque segue a obra de Steven Soderbergh como se fosse uma receita em vez de inspiração. Mas Gary Ross não tem o talento de Soderbergh e, consequentemente, todo o projeto se torna numa refeição de sabor um pouco desenxabido. O “Ocean’s 8” não tem o brilho visual dos filmes anteriores, a direção de fotografia fica-se pelos serviços mínimos e até a banda sonora é perfeitamente inócua. O resultado final é, em suma, um desperdício de ingredientes…e de talento.