Esta terça-feira, 21 de abril, a Suécia registou o seu dia mais mortífero desde que rompeu o surto do novo coronavírus no país: em apenas 24 horas, 185 pessoas morreram. No entanto, continua a ser o único país na Europa que resolveu não implementar medidas restritivas severas, quarentenas obrigatórias ou o “lockdown” dos serviços não essenciais.
Isto significa que os bares e lojas continuam abertos e que as populações não têm quaisquer impedimentos de os visitar. Estocolmo, a capital, é o centro do surto na Suécia, mas ao contrário do que acontece em grande parte do continente, as suas fronteiras continuam abertas.
Ginásios, cafés, escolas, bares, escritórios e retalho continuam a funcionar, mas os ajuntamentos de mais de 50 pessoas foram banidos e os professores foram aconselhados a transmitir tudo o que possam através da Internet.
Anders Tegnell, o epidemiologista oficial da país, foi o responsável por esta estratégia relaxada do governo e argumentou o distanciamento social como alternativa às restrições severas e às multas, defendendo que os protocolos suecos são sustentáveis a longo prazo, ao contrário da maioria daqueles que imperam no resto da Europa.
“É importante ter uma política que possa ser mantida por um maior período de tempo, de ficar em casa se estiver doente, que é a nossa mensagem”, disse, acrescentando: “Fechar as pessoas em casa não vai funcionar a longo prazo. Mais cedo ou mais tarde as pessoas vão sair, de qualquer forma”.
Os voos domésticos foram restringidos a um horário mínimo, mas as fronteiras não foram fechadas. Segundo a Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, a Suécia tem o 20º número mais elevado de casos no mundo, mas está em 13º lugar no número de mortes.
Os cidadãos acima de 70 anos foram encorajados a ficar em casa, enquanto vários surtos foram registados nos lares e centros de idosos por todo o país. Mais de um terço das mortes registadas na Suécia foram de idosos que viviam em lares.
Esta forma de lidar com a pandemia tem sido exaustivamente debatida internacionalmente, muitas vezes considerada arriscada e imprudente. No entanto, os próprios suecos parecem estar de acordo com a abordagem do governo, demonstrando um esmagador apoio às medidas tomadas e aos aconselhamentos dos cientistas.
A “Euro News” disse mesmo que “este não é um país dividido”, apesar de ter sofrido um número de mortes bastante superior ao dos países vizinhos. A Suécia tem já 16.004 casos e 1.937 mortes, mas na Noruega, com cerca de metade da população, os casos são 7.275 e as mortes apenas 185, enquanto que na Finlândia os infetados são 4.129 e as mortes confirmadas 149.
Comparativamente, o vírus foi quase dez vezes mais mortífero na Suécia, apesar de ter apenas cerca do dobro da população dos seus vizinhos. Ainda assim, os hospitais não estão saturados e a capacidade está a funcionar a 80 por cento.
Por outro lado, não é surpreendente que o impacto económico da pandemia tenha sido menor na Suécia, onde os gastos pessoais desceram apenas 30 por cento — na Dinamarca foram 66 por cento e na Finlândia 70 por cento. O desemprego na Noruega cresceu quatro vezes mais depressa do que na Suécia, onde se espera que a economia não sofra da mesma forma que nos outros países da Europa.
Outro fator importante é a imunidade de grupo. Estudos sugeriram que 25 a 40 por cento da população pode já ter tido o vírus, uma percentagem que pode subir aos 60 até ao final de maio. Em França, acredita-se que este número poderá neste momento rondar os seis por cento.
A questão que se coloca é esta: terá a Suécia encontrado uma forma de travar, ou pelo menos abrandar, os impactos negativos da pandemia e dos segundo e terceiro surtos, que chegarão no futuro? Para já, ainda é muito cedo para que as autoridades e especialistas consigam chegar a uma conclusão.