De Nova Iorque, nos EUA, a Sidney, na Austrália — no outro lado do mundo — em 19 horas e 16 minutos. O voo mais longo da história da aviação comercial aconteceu entre a noite deste sábado, 19 de outubro, e domingo, dia 20, atravessando mais de 16 mil quilómetros sem parar nem reabastecer. A viagem histórica e recordista foi sobretudo um teste para o que aí vem; e tudo indica que este terá sido mais do que superado.
Com partida às 21h07 de sábado em Nova Iorque, hora local, e chegada mais de 19 horas depois a Sidney, o voo da Qantas que fez história era sobretudo uma experiência: quase 50 pessoas, entre passageiros, pilotos e comissários de bordo, foram monitorizados durante praticamente todo o dia que passaram no ar. O objetivo era entender, registar e criar regras adequadas para o impacto no corpo de estar num espaço pequeno, milhares de metros acima do solo, durante tantas horas — e ainda por cima num voo feito no sentido contrário ao da rotação da terra.
Os primeiros resultados são animadores: “Eles dançaram a “Macarena” a 10 972 metros acima de Las Vegas, jantaram camarões escalfados com pimenta e limão e bacalhau picante e assistiram a vários filmes, incluindo a obra biográfica de Elton John, ‘Rocketman'”, resume o “The Guardian“.
O jornal britânico adianta que os 49 passageiros eram compostos por seis pilotos, cinco membros de tripulação de cabine, um chef, vários jornalistas, seis passageiros frequentes e ainda o presidente da companhia aérea australiana.
O avião, da Boeing Dreamliner, levou um número deliberadamente restrito de pessoas — e também de bagagem e de todo o peso não essencial — porque uma das coisas mais importantes era perceber até que ponto o combustível chegava; e se ainda sobrava, como chegou a acontecer: havia mais 70 minutos de combustível de sobra, no final.
De resto, relatam os jornalistas que estiveram presentes, terá sido uma aventura bem sucedida, com detalhes que ficam para a história. Os passageiros do primeiro de três testes da Qantas — há outros dois previstos para breve — tinham de levar os seus relógios no horário de Sydney, para tomarem ações que pudessem minimizar o jetlag. Foram instruídos a manter-se primeiro acordados o mais tempo possível, pelos mesmos motivos: e para o ajudar, o primeiro jantar, uma de várias refeições servidas a bordo, foi propositadamente picante.
Seis horas depois, as luzes de cabine foram diminuídas, e os passageiros terão dormido confortavelmente a noite inteira.
Na manhã seguinte, tal como na véspera, todos os presentes foram incentivados a passear entre cabines para que o sangue circulasse, bem como a fazer alongamentos regulares, assumir posturas de ioga; e até a dançarem a “Macarena”, pelos mesmos motivos, procurando manter a atividade do corpo.
Durante todo o tempo e todo o processo, foram rigorosamente monitorizados por várias máquinas, tendo ainda de preencher diversos diários de atividades e de sono.
Finalmente, no cockpit havia câmaras para registar as operações e quaisquer possíveis sinais de alerta; e os pilotos usaram equipamento de monitorização para registar o seu estado de alerta e concentração.
No final, citada pelo “Daily Mail” uma passageira disse que se sentia “incrivelmente bem”. O piloto principal descreveu este como o ponto alto da sua carreira.
Agora, os dados vão ser estudados, algumas regras criadas e novos testes realizados, até porque a Qantas planeia ter este voo todos os dias no ar já a partir de 2022.
No entanto, o “Guardian” lembra que a questão não é assim tão linear, sobretudo com os compromissos ambientais de redução de emissões de dióxido de carbono na ordem do dia. Segundo o jornal, o voo levou 101 toneladas de combustível de aviação. A Qantas garante que a duração não tem grande impacto nas emissões, já que a grande maioria destas acontece durante na decolagem; e também frisa que o carbono criado será “compensado”
Só que, lembra o jornal, calculando com uma base na média de emissões, o voo poderá ter originado 310 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente a mais de 700 barris de petróleo.
A luta pelo “voo mais longo do mundo” não é de hoje e na história recente remonta já a 2016. Até outubro desse ano, quem detinha o título era a Emirates, com a sua rota Auckland–Dubai, percorrendo mais de 14 mil quilómetros sem paragens. No início desse mês, foi anunciado um novo vencedor: a Air India, que, ao fazer modificações na rota de Delhi a São Francisco, ultrapassou os 15 mil quilómetros sem paragens.
Exatamente dois anos depois, em outubro de 2018, a tecnologia da aviação deu um salto enorme. O voo mais longo do mundo passou a ser a ligação Singapura—Nova Iorque: 18 horas e 45 minutos no ar para percorrer os 16,700 quilómetros que separam as duas cidades. No voo inaugural, da companhia aérea Singapore Airlines, a 11 de outubro desse ano, 161 passageiros (dos quais 67 em classe business e os restantes em premium economy) passaram quase 19 horas num avião, sem nenhuma pausa.