A sua arte, ou expressão artística, tem um quê de Califórnia — a sua inspiração inicial —, um pouco de Índia em alguns desenhos e muito da nostalgia portuguesa. Ou não fossem estes quadros naturais absolutamente saudosos e efémeros: só duram até o mar, o vento ou as pisadas de quem os admira os levarem.
Muitos dos frequentadores das praias nacionais, sobretudo as da região da Grande Lisboa com destaque para a zona de Oeiras, já passaram por eles nos últimos meses. São desenhos gigantes e incríveis, feitos na areia com delicadeza, mestria e detalhe. Costumam aparecer no areal — sobretudo se a maré baixa ajudar — às primeiras horas de manhã. Depois, desaparecem naturalmente.
A NiT descobriu o autor que faz estas pinturas misteriosas durante as horas vagas, precisamente quando a maioria das pessoas ainda está a dormir. Bruno Maurício, de 44 anos, é na verdade decorador de interiores e nasceu e cresceu em Paço de Arcos, o que justifica a sua forte ligação com a zona, com a praia e com o mar.
Descobriu os desenhos na praia por mero acaso. Durante uma pesquisa na Internet, viu trabalhos semelhantes de alguns artistas californianos e ficou imediatamente apaixonado pelo conceito.
Em 2015, num fim de semana com uns amigos, resolveu comprar um ancinho para experimentar fazer o primeiro desenho. Enquanto o grupo se divertia na praia, Bruno ficou cerca de duas horas perdido e isolado a riscar a areia. A sensação foi “de alienação total” — e nunca mais quis parar. O resultado final foi uma surpresa, tanto para o artista como para os amigos.
A sua experiência em desenho e pintura fez com que se sentisse confortável nesta técnica desde muito cedo. O hobby prolongou-se nos quatro anos seguintes.
“Já fiz mais de 50 desenhos na areia, por todo o País, de norte a sul. A grande maioria foi feita na zona onde habito, Oeiras”, conta à NiT.
Não faz os desenhos sempre que quer (ou seriam mais), mas sim quando pode. “Trata-se de um processo limitado, que não depende apenas do meu estado de espírito, como acontece na pintura. Depende sobretudo das marés. É fundamental que a maré esteja baixa e a areia molhada. Tenho ainda que ser rápido, pois o mar rapidamente volta a subir”.
Os desenhos começam quase sempre de madrugada. “Dá-me um enorme prazer acordar cedo, algumas vezes ainda de noite, fazer a viagem até à praia, sentir o frio e a humidade da manhã, o facto de não haver gente e a simbiose ser total — eu e a natureza”.
A mesma natureza que, depois de horas de trabalho, destrói a sua obra em poucos segundos.
“O mar levar faz parte da arte efémera. Como faz parte o vento levar, as pessoas pisarem ou o sol fazer secar. No entanto, despeço-me antes de guardar o ancinho no carro. Depois gosto de me misturar com quem está a apreciar ou a fotografar, passando incógnito, de modo a ouvir os comentários ou as críticas”.
A escolha das praias como tela tem a ver com a sua paixão pelo mar, mas também com a questão do confronto da escala. “Agrada-me o desafio da dimensão da praia, a ausência de pontos de referência e a dificuldade da perspetiva”.
Por regra, procura especificamente praias que tenham uma encosta alta para permitir fotografar com facilidade. Não havendo esta possibilidade, Bruno usa um drone para captar os desenhos da melhor forma possível.
Quanto aos temas e inspiração, vai buscar um pouco a tudo o que o rodeia: viagens, filmes, exposições, revistas, música.
“Os temas variam, ou tenho um esboço previamente pensado e aí sigo as diretrizes, ou sem qualquer planeamento, desço à praia e começo a riscar a areia. Esta última é a que me dá mais prazer”.
Como não é uma obra que perdura no tempo, a fotografia acaba por ser o meio de divulgação mais importante para Bruno, e as redes sociais o seu veículo. “À imagem do que acontece com qualquer artista, o reconhecimento é sempre importante. Desta forma, o impacto que o meu trabalho possa causar positivamente nas outras pessoas, pode ser manifestado com um simples ‘gosto’ ou um comentário nas minhas páginas”.
Os trabalhos de Bruno podem ser vistos num site próprio ou nas suas páginas nas redes sociais Facebook e Instagram.
Carregue na galeria para conhecer algumas das obras de Bruno Maurício que foram registadas em fotografias.