Existe uma ideia generalizada de que tudo o que é mais barato tem pior qualidade, seja roupa, sapatos, restaurantes ou detergentes. A esta lista juntam-se, ainda, os medicamentos genéricos (MG — sigla pela qual são identificados). É recorrente ouvirmos alguém ao nosso lado na farmácia perguntar: “Mas é de confiança? Está tão barato. Se calhar é melhor o outro.” Se também tem esta dúvida, saiba que ela acaba agora.
Antes de tudo o resto, o que é um medicamento genérico? Como explica o Infarmed, trata-se de um medicamento com a mesma substância ativa, forma farmacêutica e dosagem e com a mesma indicação terapêutica que o medicamento original, de marca, que serviu de referência.
No novo livro “Mitos e Crenças na Saúde“, lançado a 19 de fevereiro, o professor e médico António Vaz Carneiro revela de forma muito simples, mas baseado na evidência científica, que a ideia de que estes medicamentos têm menos qualidade, e que podem mesmo ser perigosos, é falsa.
“O processo de disponibilização no mercado de medicamentos (genéricos ou não) é muito rigoroso e baseia-se numa enorme quantidade de estudos (…) durante um período de tempo que pode facilmente chegar aos 15 anos”, explica.
Só depois de se provar que o fármaco é eficaz e seguro é que ele pode entrar no mercado e ser utilizado para tratar os doentes.
Mas porque é que são mais baratos?
Deve estar a perguntar-se como é que as empresas farmacêuticas responsáveis pela investigação e desenvolvimento de medicamentos têm retorno financeiro. As agências do medicamento e governos garantem a exclusividade da sua comercialização durante um determinado período de tempo. Depois disso, perdem a patente e a molécula original pode passar para qualquer outro laboratório, sob a forma de MG.
Como revela o especialista e autor do livro, que é professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, todo o processo é feito sob a análise das agências do medicamento — em Portugal é, então, o Infarmed.
“Durante este procedimento, procura-se precisamente garantir que o MG é em tudo equivalente ao medicamento original do qual deriva.”
Segundo a explicação no site oficial do Infarmed, estes fármacos são 20 ou 35 por cento mais baratos do que o medicamento de referência, com a mesma forma farmacêutica e igual dosagem caso não exista grupo homogéneo, o que se torna uma vantagem económica — para os utentes, porque estas opções são substancialmente mais baratas do que o medicamento de referência; e para o SNS, porque permite uma melhor gestão dos recursos disponíveis.
Em “Mitos e Crenças na Saúde”, editado pela Livros Horizonte, António Vaz Carneiro destaca um estudo americano publicado no jornal “JAMA“, em 2008, que comparou uma enorme quantidade de medicamentos genéricos com os originais para doenças cardíacas. Resultado: não foram detetadas quaisquer diferenças na sua eficácia e segurança.
Portanto, o conselho do autor do livro é seguir as instruções do médico e tomar os genéricos, caso lhe sejam prescritos. Se tiver alguma dúvida, pode questionar o especialista que está a acompanhá-lo ou o Infarmed.