No norte de Itália, milhares de profissionais de saúde ficaram doentes enquanto tratavam pacientes infetados com o novo coronavírus — e dezenas deles acabaram por morrer. Nas regiões do sul, a situação foi menos grave, já que os hospitais acabaram por ter mais tempo para se prepararem antes da chegada do vírus.
Segundo Stuart Ramsay, um correspondente britânico da “Sky News” em Itália, o Hospital de Cotugno, em Nápoles, dedica-se agora exclusivamente a tratar a Covid-19. Nos seus corredores há guardas armados que controlam os fluxos de pessoas.
Numa reportagem transmitida esta quarta-feira, 1 de abril, o jornalista explica que, à entrada do hospital, há máquinas de desinfeção que se assemelham aos scanners dos aeroportos, mas que têm como propósito limpar todos os visitantes que entram pelas portas.
A velocidade de expansão do vírus apanhou de surpresa a população no norte do país e as equipas médicas viram-se assoberbadas com a quantidade de trabalho e o forte impacto que a doença estava a ter nas massas de pacientes que procuravam socorro, mas as coisas em Nápoles aconteceram de maneira muito diferente.
Stuart Ramsay e a equipa de reportagem tiveram a oportunidade de o testemunhar em primeira mão ao entrar totalmente equipados com fatos protetores na unidade de cuidados intensivos de Cotungo, que descreveram como “um nível completamente diferente daquilo que alguma vez viram”.
Os membros do staff que tratam os pacientes usam máscaras super avançadas, que se assemelham mais a “máscaras de gás” do que àquelas que normalmente vemos nos profissionais de saúde. Os fatos são todos impermeáveis e selados por fora, para não existir qualquer hipótese de contágio.
Neste hospital, nenhum dos membros das equipas médicas foi infetado com o vírus, o que pode mostrar que é possível evitar o contágio com os equipamentos médicos certos e seguindo os protocolos estabelecidos.
Durante a visita, a equipa de reportagem viu ainda uma enfermeira a tratar uma paciente em estado grave. Para preparar a injeção, os enfermeiros nunca entram nas salas — os medicamentos são passados aos colegas através de uma pequena janela para evitar ao máximo o contacto.
Depois de passar os medicamentos, retira as luvas imediatamente e desinfeta-se, mesmo não entrando em contacto com o paciente. Há uma constante atenção ao detalhe para garantir a segurança dos profissionais. Ainda assim, este hospital é uma exceção no sul do país, uma vez que segue as medidas mais avançadas e tem uma equipa bem preparada para tratar doenças graves.
Segundo o staff, a classe média é a que se infeta com mais facilidade, por ser a que mais viaja. Além disso, pessoas de todas as idades correm o mesmo risco de infeção e não apenas os mais velhos. À medida que cada paciente entra pelo corredor, as portas são trancadas imediatamente para evitar a propagação do vírus.
“É muito, muito importante separar o corredor e por aí fora, para organizar como nos podemos vestir e despir, como podemos pôr um médico ou enfermeiro na sala, como podemos colocar a máscara devidamente”, explica à “Sky News” Roberto Parella, o diretor de medicina respiratória no hospital.
A separação é a chave do segredo e os médicos do sul reconhecem que teria sido impossível para os colegas do norte perceberem isso a tempo, porque as ondas de pacientes que entravam pelos hospitais eram enormes e muito difíceis de gerir.
Giuseppe Fiorentino, que está à frente de duas das alas do hospital, contou também à “Sky News” que as equipas médicas deste hospital estavam mais preparadas para lidar com um vírus desta magnitude por já terem tido experiência com doenças muito sérias, como a SIDA ou a tuberculose, pelo que as medidas de segurança que estão a seguir agora já lhes são naturais — o que pode ter sido uma peça chave na sua proteção.