Esta quarta-feira, 8 de abril, a conferência de imprensa começou com o secretário de estado da Saúde, António Lacerda Sales, a falar sobre os 699 novos infetados nas últimas 24 horas com o novo coronavírus em Portugal, num total de 13.141 casos confirmados. A taxa de crescimento em relação ao dia anterior foi de 5,6 por cento.
“Muito se tem dito sobre a curva epidemiológica”, começou por afirmar, acrescentando: “no entanto há uma coisa que não podemos perder de vista: a curva portuguesa pode ter oscilações mas a nossa resposta tem de ser firme e determinada”.
O secretário de estado da Saúde destacou ainda as medidas tomadas nas estruturas residenciais para idosos, desde há cerca de um mês. Interditaram-se as visitas, foram criados apoios à contratação de pessoal, disponibilizados materiais formativos relativos às normas de higiene e criado um mecanismo para que essas estruturas possam receber voluntários. “Neste momento estão a ser realizadas centenas de testagens em utentes e profissionais em lares de todo o País”.
Desde dia 1 de março, foram processadas mais de 130 mil amostras para diagnóstico da Covid-19 em Portugal. A partir desta quarta-feira, 8 de abril, esta informação vai passar a estar disponível diariamente no microsite dedicado ao vírus.
Neste momento, há cerca de 11 mil testes de capacidade diária para diagnosticar a doença em Portugal. Na semana passada foram distribuídos 65 mil testes no norte do País. O ministério da Saúde continua a focar-se em enviar o equipamento necessário “privilegiando a otimização de recursos e o investimento duradouro na estrutura do Serviço Nacional de Saúde”.
João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19, afirmou durante a conferência de imprensa que a resposta da medicina intensiva em Portugal “tem sido excelente”, destacando o aumento de capacidade de resposta, que, conclui, se deve ao esforço de todos os profissionais de saúde para ultrapassar “este desafio”.
Segundo João Gouveia, há uma “carência crónica de ventiladores”, camas de medicina intensiva de nível três que está a ser combatida. Já foram distribuídos 144 ventiladores que chegaram a Portugal: 19 no Hospital de São João e no Centro Hospitalar Universitário do Porto; 78 entregues na Àrea Metropolitana de Lisboa; e, dos restantes, 76 por cento foram entregues à ARS do Norte “devido ao esforço a que os hospitais desta região estão sujeitos”, nomeadamente aos hospitais de São João, Vila Nova de Gaia, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Unidade Local de Saúde do Nordeste e Hospital de Braga.
Também na Área Regional de Saúde do Norte foram distribuídos cerca de 60 aparelhos médicos, 43 por cento daqueles que era possível atribuir ao País. O presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19 salientou que estes recursos estão a ser distribuídos privilegiando as necessidades de cada região.
António Lacerda Sales explicou ainda que os testes nos lares “não podem todos ser feitos ao mesmo tempo” e são sinalizados de acordo com a densidade de cada região. “Estamos permanentemente alerta e atentos para corrigir e afinar qualquer assimetria que possa existir relativamente a esta matéria”.
“Não temos falta de testes, não temos falta de zaragatoas”, explica, acrescentando que há uma certa falta de reagentes de extração que está a ser resolvida, mas que este elemento indispensável para fazer os testes acaba por colocar em causa a capacidade diária de cerca de 11 mil — o dia em que foram realizados mais testes de diagnóstico da Covid-19 foi a 1 de abril, com um número superior a 9 mil.
Graça Freitas explicou ainda que os testes serológicos (que servem para testar a imunidade ao vírus) só serão úteis numa fase de convalescença da doença, não sendo ainda certo quanto tempo levam os anticorpos a formarem-se no organismo e a atingirem um nível em que se tornam protetores, uma situação que está a ser acompanhada e avaliada até haver “um caminho para saber estas respostas”.
A diretora da Direção-Geral da Saúde explicou ainda que as normas nos lares definem que um idoso que entra pela primeira vez num lar, vindo de onde vier, tem de fazer primeiro um teste e receber o resultado negativo. Mesmo depois do resultado, terá de ficar de quarentena durante 14 dias. Os que se tiverem de deslocar fora do lar para realizar consultas médicas não precisam de fazer teste ao regressar, mas devem ficar em isolamento também. Estas normas, sublinha, devem ser sempre respeitadas.
As curvas epidemiológicas real e a projetada podem estar a atingir uma certa estabilidade, a qual poderá indicar a chegada a um planalto, mas Graça Freitas explica que “isto não é um dado garantido” de que o País já terá atingido o pico, podendo ainda existir novas vagas de infetados. “Temos de olhar para estes dados com muita cautela muita precaução e sabermos que, se abrandarmos as medidas, a curva poderá voltar a subir”.
Vão ser realizados estudos para avaliar o modo como a demografia poderá afetar a taxa de letalidade no País, como a idade dos infetados, a concentração em lares de idosos e a densidade populacional. Em Lisboa, por exemplo, a taxa de letalidade é inferior à média nacional.
João Gouveia admitiu que poderá ainda chegar-se a um ponto em que os recursos humanos não serão suficientes para os recursos materiais que estão a ser instalados, já que, à partida, há uma carência de medicina intensiva. No entanto, há mais de 260 profissionais de medicina intensiva e condições para dar formação a outros profissionais, um número que considera positivo. “Podemos não ter médicos intensivistas suficientes para tratar todos os doentes, mas está pensada toda uma estrutura que permite o tratamento adequado desses doentes através do trabalho de outros profissionais”.