A pandemia provocada pelo novo coronavírus obrigou a muitas mudanças em todas as áreas. Para a nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida, as adaptações foram mais fáceis do que julgava, uma vez que já fazia consultas online antes deste período de isolamento social. Contudo, estava assustada, sobretudo com o impacto que o stress e ansiedade de viver algo assim poderiam ter nos seus pacientes.
“Tenho muitos seguidores de fora de Lisboa e até de Portugal, inclusivamente muitos emigrantes, e senti essa necessidade desde cedo. Todo o meu trabalho já estava adaptado ao online, por isso, a transição foi fácil. O que senti que mudou um pouco foi mais no sentido dos acompanhamentos, pessoas que já eram seguidas por mim e preferiram adiar as consultas com o início da pandemia, para que pudessem fazê-las presencialmente”, conta à NiT.
Por outro lado, a pandemia foi o empurrão que faltava a algumas pessoas que já seguiam a especialista e que não tinham tempo ou disponibilidade para começarem a ser acompanhadas. “No geral, sinto que a situação se equilibrou bastante e o volume de consultas não foi tão prejudicado como imaginei”, acrescenta.
No entanto, rapidamente Mafalda percebeu que havia preocupações extra. Inicialmente, os pacientes mencionaram a disponibilidade de ingredientes frescos. Quando tudo era incerto, sentiu que alguns tinham receio de sair de casa e não compravam tantos legumes e fruta frescos, o que altera bastante os planos alimentares que já estavam definidos.
Nestes casos, a também autora do blogue NiT “Loveat” recomendou que os pacientes realizassem as compras em quantidades que permitissem congelar alguns ingredientes para sopas, batidos, salteados e purés, por exemplo.
Depois, houve uma segunda questão: o aumento da ansiedade e do stress, que interferem muito com o sono, assim como com a disponibilidade emocional para o foco alimentar.
“Comecei a ter mais casos de fome emocional no primeiro mês de isolamento e muitas pessoas que petiscavam ao longo do dia. Pedi-lhes que parassem e estivessem mais presentes nas refeições, tentassem verbalizar mais este stress com a família ou amigos para evitar o comportamento de compensação, evitarem restrições alimentares que levam a descompensações, manterem os horários das refeições, não comprarem ingredientes viciantes como bolachas, batatas fritas, gomas, pipocas e chocolates e, se possível, fecharem a porta da cozinha”, revela a nutricionista.
Mafalda Rodrigues de Almeida lembra-se de receber algumas mensagens em jeito de desabafo, algo que tenta incutir naqueles que acompanha para que se sintam à vontade e falem tanto dos seus receios como vitórias.
“Passei para partilhar que o caminho nem sempre é plano e que às vezes os atalhos são enormes desvios. Desde sexta-feira que a ansiedade atacou e que nos últimos dias não tenho sabido lidar com ela. Bloqueou tudo o que aprendi nas últimas semanas e o instinto levou-me a compensar novamente na alimentação de conforto”, pode ler-se numa das mensagens que recebeu.
A paciente continua: “Estou a trabalhar no regresso, a aceitar que fiz essa compensação, que se fizer de conta que está tudo bem não vou conseguir resolver nada, perceber o que posso fazer de diferente e que, um dia, esta ansiedade se vai dissipar. O que estamos a passar é difícil, a ansiedade faz parte mas estou a aproveitar este tempo para aprender a viver com ela e a dar-lhe a volta.”
Embora tenha sentido que numa primeira fase foi mais difícil os seus pacientes manterem os planos alimentares, notou que o facto de Portugal estar a conseguir aplanar a curva epidemiológica diminui a ansiedade de muitos deles e aumentou a sensação de segurança para ir às compras.
Contudo, foram necessárias algumas alterações aos planos inicialmente propostos. Uma das mudanças sugeridas pela especialista foi retirar o snack a meio da manhã. “Como as pessoas começaram a acordar mais tarde, ajustei um pouco, visto que, em muitos casos, deixaram de ser necessários”, diz à NiT.
Houve casos de pacientes que conseguiram manter o peso, mas também de outros que ganharam. A razão, explica a nutricionista, está relacionada com o regresso ao consumo de quantidades maiores de alimentos como o arroz, a batata, a massa, a aveia, entre outros que tinham sido reduzidos no plano de perda de peso.
Também muita gente começou a fazer mais pão e bolos em casa, incluindo-os em alturas do dia como o lanche, o que contribuiu para o ganho de peso.
“Recomendei apenas que se reforçasse a atenção quanto à higiene dos alimentos e superfícies, assim como lavar muito bem a fruta e legumes, limpar bem a bancada e o chão depois de vir do supermercado e lavar os sacos reutilizáveis. Pedi à maioria das pessoas que começassem a reduzir o aporte calórico dos snacks comendo mais fruta fresca, frutos secos e sementes, evitando bolachas, tostas, papas de aveia, entre outras coisas que são mais calóricas”, revelou também.
A nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida tem um conselho simples e eficaz para manter uma alimentação saudável e equilibrada em tempos de isolamento social: “Manter o plano alimentar e a rotina de treino de sempre e reforçar o cuidado da saúde mental. Dormir bem, estar atento a sinais de ansiedade, conversar, admitir medos e ansiedades, procurar ter tempo para interiorizar os problemas e aceitar a incerteza da pandemia.”
Neste momento, a especialista usa o Skype ou o Zoom para dar as suas consultas online, uma vez que a videochamada permite ter contacto visual com os pacientes. Também recorre ao Nutrium, um software de registo de pacientes, onde elabora os planos alimentares, e que permite o acesso a uma app móvel para registo de peso e diário alimentar com contagem calórica.
A primeira consulta custa 40€ e dura cerca de 60 minutos, enquanto as de seguimento são 25€ e têm a duração de 30 minutos. Pode fazer a marcação na agenda online da nutricionista.
Agora, carregue na galeria para conhecer nove receitas saudáveis da autora do blogue “Loveat”.