“Em termos práticos o que se pode perder é uma das coisas mais bonitas aqui, que é a socialização”, começou por explicar à NiT Álvaro Lopes, de 39 anos, um dos sócios fundadores da Jazzy Dance Studios. Esta quarta-feira, 3 de junho, a escola de dança em Santos, Lisboa, reabriu aos sócios, depois de quase três meses encerrada para travar a pandemia de Covid-19 no País.
Um dos pontos fortes desta escola, revela, é o ambiente que se vive nas aulas, nos corredores e em toda a cultura partilhada por alunos e professores — e que acaba por sofrer, inevitavelmente, numa altura em que o distanciamento é agora a norma social de excelência. “Uma pessoa quando entra aqui deixa de ser médico, deixa de ser advogado, deixa de ser estudante, passa toda a gente a ser bailarino“, continua o co-fundador.
“Vive-se muito a cultura aqui dentro. Quando se entra na escola parece muito aquelas cenas do ‘Fame‘, em que há alunos a alongar nos corredores, outros a ensaiar ou a brincar uns com os outros, de todas as idades”, acrescenta.
O regresso da Jazzy à atividade pós-pandemia foi acompanhado por uma adaptação geral das normas de segurança e circulação, que também estão agora em vigor na Academia Life Club, o ginásio que fica na porta ao lado e pertence ao mesmo grupo. Logo à entrada, os sócios encontram agora uma receção protegida com acrílicos e várias sinaléticas que indicam os procedimentos que devem ser seguidos no interior.
“Estamos a ter muito cuidado com as recomendações da DGS e a tentar ser o mais cumpridores possível”, revela Álvaro. Todas as aulas passaram agora a ter de ser marcadas pela app da Jazzy, que foi lançada no início de abril para dar treinos online e em direto aos alunos que não queriam ficar parados durante o confinamento. As lotações passaram agora a ser controladas nos estúdios — que são sete no clube de dança e quatro na Academia.
Uma das novidades que mais se destacam foi a colocação de uma tenda de 400 metros quadrados no espaço exterior, onde passaram agora a decorrer várias aulas. “As pessoas sentem-se muito confortáveis por estarem ao ar livre. Sentem-se mais seguras”, acrescenta Carla Natário, a responsável pela comunicação do grupo que acompanhou a equipa da NiT numa visita guiada.
Todas as salas têm agora gel desinfetante e marcações no chão — pequenos círculos indicativos que garantem nove metros quadrados para cada aluno — que mostram onde é que se devem colocar de forma a garantir o distanciamento. Os sócios devem ainda circular com máscara, que pode apenas ser retirada durante as aulas. Para já, os duches não podem ser utilizados nos balneários, que servem apenas para trocar de roupa.
“A limitação dos duches prejudicou-nos bastante”, revela Carla. Os alunos que tinham por hábito frequentar os clubes de manhã ou à hora de almoço, conta, acabam por não ir, uma vez que a proibição os obrigaria a ir a casa tomar banho depois dos treinos.
Os sapatos que vêm da rua devem sempre ser trocados antes de entrar nos estúdios. Todos os funcionários usam máscara, incluindo os professores, que as tiram apenas durante a aula. Cada vez que acaba uma aula, entra uma equipa de limpeza que higieniza tudo.
Em relação às lotações, foi feito um reajuste em todos os estúdios. Um dos maiores que existem na Jazzy costumava receber cerca de 50 alunos, mas as normas de distanciamento cortaram agora este número para um máximo de 20.
Na reabertura, as aulas foram também limitadas em grande número. Um dia normal na escola teria cerca de 35, mas o novo mapa apresenta agora cerca de 15 para garantir que há tempo suficiente entre as aulas, um mínimo de 20 minutos, de forma a que sejam arejadas e limpas a fundo antes que cheguem os próximos alunos. Mas os estúdios também não podem estar todos a funcionar ao mesmo tempo — “se não, no final, os corredores ficariam cheios de gente”, explica Álvaro.
As comparências no regresso foram positivas: na quarta-feira, 13 das 15 aulas da escola receberam inscrições suficientes para irem para a frente. “Ontem foi engraçado porque nota-se que as pessoas querem muito voltar a uma normalidade”, revelou Álvaro sobre o primeiro dia da nova realidade na Jazzy, uma ideia com que Carla concorda: “Temos alunos e sócios que estão mortinhos por vir e que só querem treinar e depois temos as pessoas que estão receosas”, acrescenta.
Entre os alunos que a NiT encontrou no segundo dia (esta quinta-feira, 4 de junho), estava Hugo Mota, um funcionário público de 44 anos que revelou que fez o regresso “sem medos” e apontou a proibição dos duches como a maior inconveniência da nova normalidade. Já Diana Marques Brás, consultora de 36 anos, disse que estava “muito ansiosa por voltar”.
Além da máscara, a sócia contou que foi preparada para treinar de forma a usar o menos possível o balneário, levou consigo um par de sapatilhas num saco para trocar à saída e focou-se na “higienização permanente”.
Este regresso acaba também por vir gradualmente colmatar os cortes de rendimento sofridos durante a pandemia. Entre março e junho, Álvaro Lopes revela que cerca de 15 por cento das inscrições foram canceladas e 50 a 55 por cento das restantes foram suspensas — o que representou uma quebra de cerca de 70 por cento na faturação mensal.
Ainda assim, nenhum professor foi dispensado dos clubes — que são, ao todo, quatro da Jazzy espalhados pela Grande Lisboa, além da Academia Life Club — que se mantiveram ativos com as aulas online durante o confinamento. Agora, já estão todos de volta. “Tivemos muito apoio dos alunos que quiseram continuar a pagar para nos ajudar”, acrescenta Carla.
As bicicletas para as aulas de Spinning e para o uso do ginásio estão agora todas envolvidas em película aderente para que possam ser limpas facilmente entre as utilizações. Enquanto nos explica isto, Carla indica uma aula de Spinning a decorrer na academia, com cinco alunos, por volta da uma da tarde. Toda a sala de exercícios foi reajustada, as máquinas foram afastadas para manter o distanciamento de três metros e algumas estão inutilizáveis, cobertas com fita de segurança.
“O que não nos está a ajudar neste momento de arranque é o facto de Lisboa ainda estar numa fase conturbada”, conta Álvaro. Depois da entrevista com a NiT, o sócio — que também é professor de fitness e dança — seguiu para uma aula de Ritmos, às 13h15, que contava com a lotação quase esgotada, cheia de alunas bem humoradas. Sobravam apenas dois círculos de distanciamento para estar completa.
A autorização do governo para a reabertura dos ginásios a 1 de junho, segunda-feira, foi dada apenas na passada sexta-feira, 28 de maio. “Por isso mesmo acabámos por esperar por dia 3, queríamos ter tempo de fazer as adaptações necessárias para ter tudo direitinho”, expica Carla. Todas as novas regras foram enviadas para os alunos com antecedência, de forma a que tivessem tempo de se preparar para as mudanças. “Quisemos sobretudo passar a mensagem de que estamos a cumprir todas as regras, mas num ambiente descontraído, para as pessoas se sentirem à vontade”.
A Portugal Activo (AGAP) acabou por ser também determinante na retoma da atividade, explica-nos Carla, com a criação do selo “Clean & Healthy”, o qual já foi garantido pelos espaços do grupo e que certifica que uma série de medidas de segurança estão a ser adotadas, aumentando a confiança dos alunos e o cumprimento das normas.
“Nunca foi tão seguro ir a certos sítios como é hoje”, conclui Álvaro, acrescentando: “Mas isso é bom: quanto mais disciplinados formos, mais depressa podemos retomar a normalidade de vez”.