Philip Speer era um nome forte na cena da cozinha texana. Era tão obsessivo com os ingredientes como com a bebida, que por pouco não o matou. À quarta vez que foi apanhado a conduzir alcoolizado, decidiu mudar. O acidente que lhe destruiu o carro — e que resultou numa pena de prisão de dez dias e sete anos de pena suspensa — foi o momento decisivo. Em 2014 entrou em reabilitação e dedicou-se à corrida, a única coisa que podia fazer.
Seis anos depois, a ferramenta que lhe permitiu superar a adversidade serve agora para dar alguma paz aos colegas da indústria. “Correr sempre serviu como uma forma de aprender, processar as coisas na minha cabeça, lidar com o stress e com a vida”, revela Speer à “Runner’s World”. Foi também para partilhar essa virtude que criou o Comedor Run Club.
O nome inspira-se no restaurante que abriu em 2019 em Austin, Texas, e que como muitos outros, foi tremendamente afetado pela pandemia. Mas este espécie de grupo terapêutico não nasceu com a chegada pelo coronavírus. O seu efeito tranquilizante já se fazia sentir muito antes.
Speer é o homem no cartaz do clube de corrida: era gordo, tinha diabetes e fumava um maço e meio de cigarros por dia. Três anos depois de começar a correr fez a sua primeira maratona.
Assim que abriu o Comedor, decidiu que estava na altura de criar uma nova forma dos trabalhadores dos restaurantes locais conviverem — que não fosse fora de horas, enfiados num bar entre garrafas e shots. Antes dos turnos, um pequeno grupo reunia-se para correr e relaxar. Em pouco tempo já eram mais de 60.
Depois veio a pandemia e os temíveis turnos de 20 horas, que desapareceram, começaram a parecer tentadores perante a ameaça do desemprego. Alguns foram mesmo despedidos, outros colocados em lay-off — mas todos sentiram o stress e o medo de uma indústria em perigo. As três corridas semanais eram o seu escape.
“Somos um grupo de tipos desajustados, sempre fomos. O que nos atrai para esta comunidade de corrida urbana é que vemos todo o tipo de pessoas de níveis atléticos distintos, de diferentes contextos sociais, raciais, culturais”, conta. Foi essa mentalidade de grupo, sem preconceitos, que ajudou a “fazer sentido de tudo o que estava a acontecer” durante a pandemia.
“Todos nós tínhamos percebido que a corrida nos dava clareza mental e saúde e, de repente, estamos nestes tempos sem precedentes. Os nossos restaurantes estão a funcionar a meio gás e está tudo completamente fora do nosso controlo, mas correr permite-nos fugir disso por breves instantes”, conclui James Robert, chef e proprietário de um restaurante — e apenas mais um dos nomes inscritos no clube.