Já abriram restaurantes, cafés, lojas e até campos de padel e ténis. No entanto, quando se falam em ginásios, health clubs e estúdios, ninguém arriscar a avançar uma data — e isto não acontece só em Portugal, mas em muitos outros países europeus e de outros continentes.
Isaac Bogoch, especialista em doenças infecciosas do Hospital Geral de Toronto, no Canadá, diz que estas instalações são das mais difíceis de reabrir, enquanto a pandemia de Covid-19 for uma ameaça.
“Se vamos fazer uma lista de atividades de alto risco, o ginásio estará na extremidade superior dessa lista. Ter muitas pessoas num espaço interior fechado com superfícies de alto contacto e também elas a se exercitarem, talvez expelindo mais ar no ar, é muito complicado”, revelou à “Global News”.
Segundo o especialista, para que se chegue a esse estado, os países devem apresentar um número de casos consistentemente baixos e protocolos rígidos para manter a segurança dos utilizadores destes espaços.
“Não é um ambiente seguro quando estamos a lidar com uma infecção respiratória que pode ser facilmente transmitida de pessoa para pessoa. O limiar para abrir ginásios novamente será alto, e precisaremos de ver muitas medidas em vigor”, acrescentou.
🏋🏃 Is this the new normal?
Hong Kong gyms have reopened with new #Covid_19 #SocialDistancing and safety measures like glass partitions. More @business: https://t.co/JQ1OsTVBau pic.twitter.com/5bC8ynkGUB
— Bloomberg QuickTake (@QuickTake) May 18, 2020
O que será necessário para a reabertura?
O distanciamento e os protocolos de limpeza são duas regras essenciais, garante. Além disso, limitar o número de pessoas nas salas, de acordo com o tamanho do ginásio ou clube, está na lista de regras. Será igualmente importante medir a temperatura de cada pessoa logo à entrada. As zonas com água também devem ser desativadas e as máquinas de cardio mantidas a dois metros de distância, se possível.
Para Jay Kaufman, epidemiologista da McGill University em Montreal, também no Canadá, a reabertura será difícil pelo uso de máscaras que, embora essencial, pode impedir o exercício. Os dois especialistas falam sobre o seu país, mas garantem que os receios e a realidade é igual aos restantes.
“Pessoalmente, hesitaria em ir a um ginásio agora se pudesse encontrar exercícios alternativos ao ar livre”, disse. “Eventos como aulas de spin, aulas de Zumba, aulas de ioga… Devem ser movidas ao ar livre, com espaçamento adequado entre os clientes”, sugere Kaufman aos proprietários destes espaços.
Na Alemanha, o 11 de maio ficou marcado pela reabertura de vários espaços, com o alívio de algumas das medidas tomadas por causa da Covid-19, como é o caso dos ginásios, clubes de fitness e estúdios.
Como avança o jornal alemão “The Local”, os estados estão a adotar as suas próprias regras para este regresso. Por exemplo, na Baviera os “desportos individuais sem contacto e com distância”, como ténis, atletismo, golfe, vela ou equitação, são permitidos. Lá, é possível treinar sozinho ou em pequenos grupos, de até cinco pessoas, ao ar livre. Porém, os balneários devem permanecer fechados até ordem contrária.
Na Austrália, o setor afirma estar pronto para a reabertura de ginásios e health clubs, embora ainda não haja uma data específica para isso, deve acontecer na segunda fase do desconfinamento, de acordo com a imprensa internacional. A “ABC“ avança que entre as medidas deste país está o limite da presença de apenas 20 pessoas de cada vez. Medir a temperatura dos sócios, aumentar a frequência da limpeza e desinfeção do espaço e dos equipamentos também estão na lista, bem como a redução do número de pessoas nas aulas.
Na Dinamarca, em que a reabertura destes espaços começou em meados de abril, pratica-se a distância de segurança e limpeza de máquinas, equipamento e superfícies, entre outras medidas. Em França, não há qualquer previsão para o funcionamento destes espaços, enquanto na Suécia estes sítios nunca chegaram a encerrar, já que país segue a lógica da imunidade de grupo.
O que já se sabe sobre a reabertura dos ginásios em Portugal
A 19 de maio, a Associação de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP) reuniu com o governo e a Direção-Geral da Saúde para que esta reabertura possa acontecer. Embora não haja nenhuma data definida, a AGAP garante que os espaços portugueses estão prontos para a reabertura já em junho.
Entre as medidas propostas por esta instituição, destacam-se limitar a capacidade das aulas a uma pessoa por cada quatro metros quadrados, a utilização de metade das máquinas e equipamentos de cardiofitness e musculação ou a limitação do tempo de treino.
Na Madeira, onde o número de casos não sobe há vários dias e o número total é o mais baixo do País (90 casos no total), a reabertura de ginásios e health clubs aconteceu a 12 de maio, no contexto do desconfinamento gradual. Entre as regras estipuladas estão, então, a limitação da utilização de cada espaço a um terço da sua capacidade e a limitação de uma hora por cada utente dentro do ginásio.
No que diz respeito às aulas de grupo ou com mais de duas pessoas, incluindo o instrutor, estão proibidas no interior dos ginásios. Estas aulas são permitidas ao ar livre, ainda que sujeitas à regra de distanciamento de uma pessoa por cada cinco metros quadrados.
De forma a evitar o uso de balneários, que devem estar fechados, o governo regional da Madeira decretou que os utilizadores dos ginásios e espaços do género devem ir já equipados e que são necessárias zonas distintas de entrada e saída dos espaços, além da desinfeção generalizada dos equipamentos, espaços e superfícies com os quais haja contacto, de todas as áreas comuns, incluindo sanitários, bem como de todos os aparelhos, depois de utilizados.
No Fitness Factory Madeira, por exemplo, as regras são explicas numa publicação nas redes sociais: através de uma app do clube, o sócio escolhe o espaço onde quer treinar ou a aula na qual quer participar e faz a reserva; no dia dirige-te à receção e apresenta o QR Code que se encontra no canto superior direito da app; e pode desfruta do treino.
“A reserva pode ser feita a partir de 12 horas antes; as reservas são feitas de hora em hora; podes apenas fazer uma reserva por dia. Se faltares, terás uma penalização de três dias”, pode ler-se. “Sem marcação não podes fazer aulas”, alerta em seguida.
Até à data de publicação deste artigo, o funcionamento de ginásios no arquipélago não significou um aumento de casos, embora possa ser cedo para retirar conclusões.
No continente, vários ginásios, como o Solinca ou o FITTEJO, apostaram nos treinos outdoor com um número muito baixo de participantes e com as medidas de higienização e distanciamento necessárias. Segundo especialistas internacionais, como os que mencionámos acima, a realização de treinos e aulas ao ar livre deve ser privilegiada nesta fase inicial.