A foto não se tornou viral, nem nada que se pareça — só mesmo à minha escala de poucas centenas de seguidores. Partilhei uma selfie no Instagram com a legenda: “muito forte no primeiro dia de ginásio”. Foi das publicações mais comentadas da minha insignificante presença nas redes sociais. Quase me senti um influencer com tanta mensagem — claro que não eram centenas ou milhares, mas para mim foi como se fossem. Os meus amigos mais próximos sabem da minha aversão a ginásios, multidões de pessoas suadas, treinos e exercícios conjuntos. Daí todo o burburinho nas respostas que recebi.
Smiles espantados, palmas, “como assim?”, “muita forte” e polegares para cima. Era agora que ia entrar finalmente no mundo do fit. Não. Calma senhores. Ainda não foi desta que me converti, mas pode estar para breve, já lá vamos. Em casa tenho dois pares de sapatilhas desportivas, umas azuis outras vermelhas.
Não foram compradas para correr, nem nada do género. Foi apenas numa altura em que este tipo de calçado estava na moda para um estilo casual e diário. Até confesso que estavam um pouco empoeiradas quando lhes peguei esta semana para este artigo: experimentar um ginásio para quem não gosta de ginásios. Nada que um pano húmido não resolvesse.
O Circle é o novo spot de treino de Lisboa. Abriu no final de dezembro e trouxe até Portugal um sistema inovador, o Prama, cheio de luzes, som, e sensores no chão e nas paredes. Tudo para fazer exercício sem ser nas habituais máquinas com pesos, passadeiras e afins, e até mesmo fora das típicas aulas de grupo com movimentos que todos repetem, tipo zumbas e body jump.
A atividade física na minha vida resume-se às aulas de educação física que tive até ao 12.º ano, aos jogos de futsal com os amigos onde até me safava muito bem à defesa — era sempre um dos primeiros a ser escolhido para as equipas —, e uma breve experiência na equipa de futebol de 11 da faculdade — nada de entusiasmante com várias derrotas e muito pouco de positivo para dizer.
Depois disto, nem uma corrida ao final da tarde, um jogo de futebol de solteiros contra casados, nada. Por isso, resistência física: nula. Sim, sou sedentário, mas eu quero mudar, eu vou mudar (ou não) e este foi um primeiro passo: experimentar uma aula no inovador Circle.
O apelo do ginásio foi algo que nunca me chegou e foi com alguma resistência que entrei no Circle. Fiquei logo agradado nos balneários. Tudo muito limpo e espaçoso, nada amontoado mesmo se estivesse cheio a uma dada altura do dia.
Duches individuais e com porta que não me importava de ter em casa — só a parte do temporizador da água é que dispensava, mas percebo que aqui faça sentido —, champô e gel duche da The Body Shop. Cacifos maiores do que muitos armários de quartos em casas para arrendar em Lisboa — e com direito a cabide e tudo.
Por mim, ficava aqui, mas não tinha passado a ferro a T-shirt e a calças de fato treino para me deixar ali sentado. Não sei se se usa o ferro de engomar nestes casos, mas eu usei. As sapatilhas também já estavam sem pó, por isso estava tudo pronto para descer até à sala maior do Circle.
Foi aí que me encontrei com Ernesto Carvalho, um dos sócios deste ginásio, que me ia acompanhar nesta aula. “Então, costumas fazer exercício?”, perguntou-me. Por este texto já se percebeu que não. “Tinha aqui no nível dois, mas vou baixar para o um.” Sim, foi muito bem pensado, fiquei logo cansado só de ouvir “nível”.
A tecnologia inovadora com que esta sala, e outras do Cirle, está equipada chama-se Prama. Os exercícios são definidos através do programa com diferentes objetivos e intensidades, ajustado sempre ao tipo de público que a vai fazer. Ernesto escolheu o Energy para a minha falta de prática.
O programa tinha duas séries de exercícios. Spoiler alert: quase nem acabei o primeiro e fiquei a morrer só com o aquecimento. Até tinha sido eu a pedir, só para previr lesões e aquelas dores no corpo habituais depois de um esforço físico do qual não estamos habituados — dessas não me livrei, é um facto.
O sistema funciona em estações. Num ecrã apenas são informadas as por onde iria passar, já o PT exemplificou em cada uma o que tinha de fazer. Estava a recuperar o fôlego depois do aquecimento quando me mostrou todos os exercícios que se iam seguir. Só fiquei mais cansado de o ver.
O que é interessante no Prama é que tudo acompanha o que estamos a fazer, desde as luzes ao som, que variam também quando é para seguirmos para outra estação. Estamos a fazer exercício, mas é tudo levado numa outra lógica de ação/reação e não tão de esforço e obrigação como num ginásio comum.
Comecei em prancha num círculo no chão a cruzar os pés e a tocar em pontos, numa espécie de relógio; segui para um género de uma macaca em que tinha de atirar uma bola e avançar para as casas à frente; e depois, tive de parar um pouco. Tirei os óculos que me estavam a escorrer da cara devido ao suor.
O Ernesto Carvalho tinha sempre a preocupação de me corrigir os exercícios, para os fazer de uma forma correta. E se não conseguia atingir o desejado, alterava para algo não tão complicado, mas que me permitisse treinar alguma parte do corpo. Num tapete de vinil dancei como se de hip hop se tratasse, e era o que a música pedia, que estava sempre ritmada e a puxar para não ficar parado.
Passei de seguida para um jogo do galo onde mais uma vez de prancha elevava os pés até algumas das linhas; uns saltos num TRX que estava pendurado; e com uma bola de basquetebol tive depois de acertar em números que estavam acessos na parede, sempre com algum movimento.
O cansaço já era algum, sairam-me alguns palavrões, pois claro, pensei em parar, mas só depois da música e a luzes mudarem é que o fiz. O exercício final consistia em percorrer um corredor à medida que os números ficavam acessos. Foi quase a atirar-me para o chão que o fiz — ou não, visto que o computador quase não vez alguma (e estava correto).
As duas séries do Energy eram para durar uns 18 minutos. Fiz metade disso e não conseguia mais. O corpo não conseguia mais, era um facto, mas eu até nem me importava de continuar. Foi puxado, sim, mas um puxado diferente de outros exercícios que vejo em ginásios. Até nem me importava de voltar, mesmo apesar de toda a aversão que tinha (e ainda continuo a ter) a ginásios. Depois de um descanso de alguns minutos, até fiz mais um exercício na parede dos números e não me safei nada mal.
Não sei se minha vida vai mudar agora no que ao exercício e ginásios diz respeito, mas a verdade é que não me importava de me tornar sócio do Circle.