Em 2017 inaugurou a Tasca Fit porque havia falta de restaurantes saudáveis em Lisboa com comida saborosa. André Borralho, de 28 anos, construiu uma carreira em torno do seu estilo de vida ligado ao desporto e à alimentação, e é uma inspiração para os mais 14 mil seguidores que soma no Instagram, onde publica os seus treinos e evolução — mas nem sempre foi assim.
Nasceu no Alentejo, em Castro Verde, e era um miúdo “magrinho e alto” que praticava muito desporto e seguia uma alimentação mediterrânica. Até aos 16 anos jogou ténis de alta competição, além de futebol, ftendo chegado mesmo a fazer vários trabalhos como modelo, que começou a levar mais a sério quando tinha 15 anos.
No entanto, tudo mudou quando foi estudar engenharia alimentar para Coimbra, em 2009. Fora de casa dos pais, começou a comer fast food, parou de fazer desporto e os quilos foram-se acumulando. “Ia ao McDonald’s todos os dias, às vezes mais do que uma vez”, revela à NiT. Chegou a pesar 110 quilos quando fez Erasmus na Finlândia, onde a sua alimentação “ficou ainda pior”.
Depois de três anos em que não teve qualquer cuidado com o corpo, foi desafiado por um amigo a jogar futebol, onde teve o primeiro choque: “comecei a correr e percebi que estava cheio de dores nas canelas”, recorda. André descobriu que tinha uma inflamação e que os descuidos com a saúde estavam a ter consequências negativas no seu bem estar. Foi aí que decidiu inscrever-se no ginásio e mudar radicalmente de estilo de vida, acabando por perder mais de 20 quilos.
Como era a sua alimentação quando era miúdo?
Tinha uma dieta mediterrânica, com muito azeite e refogados. Era uma alimentação que considero muito saudável. Eu era um miúdo muito magro e alto, além de que praticava bastante desporto, como ténis e futebol.
Quando é que isso começou a mudar?
Quando fui estudar engenharia alimentar para Coimbra passei a alimentar-me à base de fast food e arroz com atum, aquela alimentação típica dos estudantes. Parei completamente de fazer desporto, tinha uma vida académica com muitas saídas à noite. Em épocas de exames houve uma altura em que fazia pelo menos uma refeição por dia no McDonald’s e era viciado em Coca-Cola.
Qual foi o máximo que pesou?
O máximo foi quando estava a fazer Erasmus na Finlândia. Cheguei a pesar 110 quilos. A comida nórdica tem muitas natas, não é tão saudável como a nossa e, como eu não gostava de quase nada, passava a vida no Burger King.
Quando é que percebeu que tinha de mudar o seu estilo de vida?
Em 2013 voltei de Erasmus para Portugal e um amigo desafiou-me para um jogo de futebol. Comecei a correr e percebi que estava cheia de dores nas canelas, até que descobri que estavam inflamadas. Eu era o falso magro: como sou muito alto (mede 1,90m) não se percebia que estava mal. Quando começamos a descambar, não nos importamos muito, é como se fosse uma bola de neve. A auto-estima, os padrões que temos para nós mesmos mudam e começamos a aceitar coisas que nunca aceitaríamos.
Que passos aplicou para mudar?
Inscrevi-me no ginásio e comecei a falar com um personal trainer que me ajudou a desenvolver um plano de treinos com objetivos. Ao início passava muito por relembrar aos meus músculos que eles existiam. Fazia máquinas, mas também cardio e exercícios com o peso do corpo.
Como foi a adaptação ao novo estilo de vida?
Às tantas comecei a treinar de mais. Acordava e sentia-me cansado, porque já estava a abusar. Cheguei a treinar duas vezes por dia, estabelecia 11 treinos por semana. E estive com seis por cento de massa magra.
Acha que tem de existir um equilíbrio para não perder qualidade de vida?
Sim, tem de se ter um padrão saudável, porque eu comecei a sentir-me horrivelmente mal. Na altura pesava a comida e contava as calorias que comia, agora já não é assim.
Que tipo de alimentação e treinos segue hoje em dia?
Eu hoje treino com gosto. Faço exercício três a quatro vezes por semana e tento sempre variar: às vezes ténis, outras futebol, ginásio ou corridas à beira rio. Em termos de alimentação preocupo-me em comer coisas que façam bem ao meu corpo, foco-me mais na parte nutritiva. Por exemplo, guacamole tem imensas calorias, mas são calorias saudáveis, que eu sei que me fazem bem.
Quais foram as principais mudanças que sentiu no seu corpo?
Eu pesava 110 quilos e agora peso à volta de 84 ou 85. Mas o mais importante aconteceu na composição corporal: eu tinha 25 por cento de massa gorda e agora tenho à volta de 10 por cento. Isso significa que o meu corpo costumava ter mais de 25 quilos de gordura — que é altamente inflamatória. Hoje só tem à volta de oito quilos de gordura.
Em que aspetos considera que este estilo de vida mudou a sua vida?
Quando fui fazer o mestrado em segurança alimentar já estava focado nesta mudança. Desenvolvi uma tese sobre a suplementação desportiva, com um suplemento que era feito à base de lixo da indústria alimentar. A vida é assim, damos um passo para o lado e tudo muda. A seguir abri a Tasca Fit porque não havia restaurantes saudáveis em Lisboa com coisas saborosas, que eu tivesse vontade de comer. Agora estou a tirar o curso de piloto de aviões e noto que a minha memória é muito melhor do que era nos tempos de faculdade e tenho a certeza que tem a ver com a alimentação. Já não acordo cansado, estou sempre bem disposto e com energia. As pessoas sempre me disseram que isto acontecia, mas agora sei que é verdade.
O que podemos esperar de si no futuro?
Em termos pessoais vou continuar a focar-me na alimentação, em ter menos flutuações de peso, porque elas ainda acontecem. A nível profissional, estou focado em expandir a Tasca Fit para chegar a mais pessoas noutros lugares, mas ainda não posso revelar nada.