Se um programa de televisão cair no meio de uma floresta e não estiver lá ninguém para o ver, será que faz barulho? Foi este o pensamento que me assolou depois de assistir à estreia de “Boom”, a nova aposta da TVI para as noites de domingo. Marco Horácio tinha a difícil tarefa de ocupar o espaço deixado livre pelo “Big Brother”, que terminou na semana passada e era líder de audiências.
O apresentador fez o que pôde para trazer alguma animação ao formato, mas deram-lhe uma bomba difícil de desativar e nem o MacGyver conseguia ajudar nesta situação. O conceito é engraçado, mas na prática o programa fez-me lembrar aqueles concursos para crianças, que a Sílvia Alberto apresentava na RTP2 no final dos anos 90, quando todos ficámos apaixonados pela forma fofinha como ela pronunciava a letra L: “Óua, sejam bem-vindos ao Cuube Disney”.
Neste concurso, duas equipas de quatro jogadores têm o desafio de responder a questões enquanto desarmam várias “bombas”, numa luta contra o tempo, para ganhar um prémio de 30 mil euros. Para responderem às perguntas propostas, as equipas têm de cortar os cabos das respostas erradas.
Caso cortem o cabo da resposta certa — “boom” — a bomba explode-lhes na cara e ficam com o aspeto de um caloiro às quatro da manhã numa festa da espuma. No tempo em que ainda havia caloiros e festas das espuma. E pessoas a interagir às quatro da manhã. Saudades, eu sei. Aliás, quando vi a promoção do “Boom” fiquei a achar que era um documentário sobre a quarentena e o facto de as pessoas estarem todas prestes a explodir.
É que já ninguém aguenta, são os miúdos em casa, é o teletrabalho, o raio das máscaras… Eu sei que são indispensáveis, mas eu tenho barba, e barba e máscara, com este calor, combina tanto como um militante do PAN vestido de forcado. É horrível, ter de usar máscara com barba é como sair à rua com um podengo português cheio de pulgas enfiado na cara. É um calor e uma comichão insuportável. Eu até ia arranjar uma daquelas máscaras transparentes que parece que vamos soldar um tubo de escape, mas dizem-me que usar aquilo ou uma couve é exatamente o mesmo, por isso vou ter de continuar a sair a rua com o cão na cara.
Eu acho que este ano não devia contar. Devíamos fazer como os putos e dizer “rebenta a bolha! Rebenta a bolha que o corona fez batota.” E, pronto, ficávamos todos no coito — quem puder, claro — e em dezembro, na Passagem de Ano, celebrávamos outra vez um feliz 2020.
É que isto assim não dá, é mandar um ano para o galheiro, e eu já não vou para novo. Se era para tirar um ano sabático forçado deviam-nos ter avisado antes, que eu assim tinha comprado uma caravana e ia numa viagem de descoberta pelo País. Mas, principalmente, do meu interior, como as influencers fazem agora, para ficarem com imensas fotos ao pôr do sol, para publicar no Instagram com legendas inspiradoras, como esta que eu acabei de inventar: “Se caminhares numa estrada sem saber o destino, não olhes para trás e escolhe a direção que te indica o coração”. A não ser, claro, se estiveres numa estrada cheia de trânsito, tipo a Nacional 125, aí convém mesmo olhar para trás para não levar com um camião da Torrestir. Por outro lado podia dar uma ótima foto viral e aumentar imenso os seguidores e as parcerias, miga.
Uma das coisas que eu gostei do “Boom” foi o facto de terem substituído a maioria das velhotas do público por fotografias de velhotas feitas em cartão. Uma boa ideia para evitar contágios em tempo de Covid, sendo que esta opção tem algumas vantagens.
Não é preciso estar sempre a parar as gravações para as senhoras irem fazer xixi e, ao contrário das velhotas de carne e osso que costumam estar na plateia destes programas, pelo menos estas estão sempre sorridentes e bem dispostas, independentemente do que esteja a acontecer. Vendo bem, se calhar o truque para aguentar os próximos tempos de incerteza é fazer como as velhotas da plateia do “Boom”, um sorriso Corega e a certeza de que no final vai ficar tudo bem.