Miguel Mazeda nasceu a 25 de novembro de 1995, em Vila Nova de Gaia, mas Guel — o seu alter-ego — só foi criado vários anos depois, a 1 de novembro de 2011. E chegou de lata em punho, em frente a um muro abandonado da mesma cidade. Agora, é um dos dez finalistas do New Talent — o concurso de jovens talentos promovido pela NiT, TVI e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que irá oferecer um prémio de dez mil euros ao vencedor para que ele possa desenvolver um projeto pessoal.
“No ensino básico, EV [Educação Visual] era a minha pior disciplina. Pedia muitas vezes aos meus colegas para me fazerem os trabalhos”, conta à NiT o street artist Miguel Mazeda.
Enquanto crescia, a família sempre pensou que ele seria engenheiro informático. Miguel arranjava os computadores dos familiares e dos amigos. E até começou a ser pago para fazer sites. Tudo isto antes de chegar ao secundário. Na altura, estava a estudar no Colégio dos Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, onde seguiu a área de ciências e teve a disciplina de programação. Ao mesmo tempo, com 15 anos, nasceu outro interesse que rapidamente se tornou numa enorme paixão.
“Comecei a gostar muito de graffiti, tinha imensa curiosidade em saber como é que se faziam coisas em sítios que pareciam inacessíveis. Apaixonei-me pelas letras e pelos desenhos, um bocado diferentes”, explica. Apesar de nunca ter ligado ao desenho clássico, juntou-se a um amigo e começou a desenhar na rua, sem grandes regras ou formalismos.
“Foi a 1 de novembro de 2011 que fiz o meu primeiro graffiti, eram letras”, conta Guel sobre o acontecimento que marcou o início da sua futura profissão. O nome artístico surgiu naturalmente.
“No graffiti, quando se começa, normalmente juntam-se quatro ou cinco letras que sejam rápidas de pintar. Peguei no meu nome e soavam-me bem aquelas quatro últimas letras.”
Miguel Mazeda ri-se quando fala sobre a ilegalidade associada a este género, até porque se lembra que os seus maiores problemas não vinham da polícia — vinham dos pais.
“Eles sabiam que quando eu saía à noite para ir pintar não era porque me tinham contratado para fazer alguma coisa”, diz sobre o pai, chefe regional de vendas de produtos farmacêuticos, e da mãe, que é jurista no hospital de Gaia.
A evolução de Guel foi rápida, assim como o fim do anonimato — muito associado aos street artists. Um ano após o seu renascimento, já estava a receber pedidos para trabalhos comissionados. No final do liceu tomou uma decisão: aliar a informática à arte. Foi por isso que ingressou no curso de Som e Imagem, da Universidade Católica, com especialização em Multimédia, seguido de um mestrado em Gestão de Indústrias Criativas, onde lançou um projeto que liga o graffiti à realidade aumentada.
Atualmente, vive do que pinta e da Sprei, uma empresa “de ativação de marcas ou produtos através de um objeto artístico”, que criou com um colega do mestrado. Entre os seus trabalhos mais conhecidos, destacam-se o Mural de Oliveira do Douro — um dos maiores murais do norte de Portugal, num campo de jogos de Oliveira do Douro — que realizou em 2014, ao lado de Bfive e Arak; e uma colaboração com a Adidas para os escritórios Adidas Business Service, na Maia.
Ainda assim, o ponto alto da sua carreira está ligado ao futebol. “Fui contratado para ser responsável pela transformação do aspeto visual interior do estádio D. Afonso Henriques. Era o projeto de sonho que eu andava já à procura há algum tempo porque sou adepto do Vitória [Sport Clube].” O projeto “Quando eu era pequenino já tinha a mentalidade” foi realizado em spray e acrílico sobre parede.
Se Guel vencer o concurso New Talent, e receber dez mil euros, vai aplicá-los na internacionalização do seu trabalho.
“Irei à procura de chegar a várias cidades europeias, principalmente, e fazer uma série de pinturas, envolvendo comunidades diferentes com o objetivo de fazer uma exposição posterior, através de registos fotográficos, de vídeo e de pinturas que retratem toda essa experiência.”