Aos poucos e poucos, a música pop da Coreia do Sul — que é conhecida pelo termo k-pop (sendo que o “k” é de “korean”, ou seja, “coreano”) — tornou-se um fenómeno de popularidade em todo o mundo.
O maior marco aconteceu em 2012 quando o cantor Psy lançou “Gangnam Style”, o tema que chegou a ter o vídeo mais visto de sempre no YouTube em todo o mundo e que foi a música do ano em muitos países — incluindo Portugal.
Os movimentos de dança ajudam a tornar o k-pop carismático — assim como os instrumentais animados e as vozes enérgicas (mesmo que muitas vezes o público estrangeiro não consiga entender sequer uma palavra).
No início de abril, uma das bandas mais populares do género, os Ateez, atuaram em Lisboa. No dia anterior havia algumas dezenas de fãs acampados à porta da sala de espetáculos Lisboa ao Vivo. Este ano, o Museu do Oriente, também na capital portuguesa, fez workshops para ensinar a dançar k-pop.
São provas de que em Portugal o fenómeno tem um público fiel, mesmo que seja um nicho mais de adolescentes e jovens adultos. Esta terça-feira, 4 de junho, outro ícone da pop coreana estreia-se em Lisboa, no Estúdio Time Out.
O seu nome é Eric Nam. Nasceu e foi criado em Atlanta, nos EUA, e começou por fazer sucesso no YouTube a fazer covers. A partir daí foi convidado para um programa de televisão de talentos na Coreia do Sul, o país dos seus pais, e recuperou essas raízes coreanas ao ficar por lá a trabalhar na indústria do entretenimento.
Acabou por começar uma carreira a sério na música e hoje faz digressões por todo o mundo. Os bilhetes para o concerto em Portugal estão ainda à venda na Ticketline por 40€. O espetáculo começa pelas 21 horas. Antes da chegada a Portugal, a NiT falou com Eric Nam ao telefone.
Primeiro do que tudo, gosta do rótulo de k-pop?
Sim, agarrei nesse termo e aceito-o porque foi o primeiro — e único — sítio que me deu a oportunidade para seguir um percurso na música. O k-pop tornou-se agora um género de música tão global e poderoso que as pessoas em geral estão conscientes de que existe e estão dispostas a ouvir. Claro que há algumas diferenças naquilo que as pessoas percecionam como k-pop. Mas, de qualquer forma, permitiu que eu tivesse uma carreira, por isso fico muito grato e sinto-me próximo do movimento.
E para si, que nasceu e cresceu nos EUA, mas depois com os anos recuperou as raízes coreanas, como é que vê o fenómeno da cultura asiática cada vez mais presente no mundo ocidental?
A Ásia é uma parte do mundo tão grande, até em termos de população, e durante muito tempo a cultura asiática foi considerada exótica e não talvez não lhe tenham prestado grande atenção. Mas agora tem havido esse crescimento: comida asiática, dramas asiáticos… É ótimo porque acho que o mundo é um sítio diverso e interligado e os meios que seguimos deviam refletir isso. É muito encorajador ver esse crescimento.
Falando disso, o público que encontra nos seus concertos nas tours internacionais — como aquela que vai fazer agora na Europa e que vai passar por Lisboa — é bastante diferente? Ou já existe uma espécie de comunidade k-pop global?
Acho que é muito diverso, há a ideia de que o público que vai a um concerto de k-pop é todo asiático, mas isso não é de todo verdade. Mesmo nos EUA costumo ter concertos em que 50 por cento do público é latino. E também há uma grande percentagem de afro-americanos e de caucasianos. Uns dez por cento é que são asiáticos. Mas claro que depende da cidade. O que aprendi com as tours é que a música é realmente uma linguagem universal.
O público do k-pop é muito intenso e maluco?
Acho que o público é muito apaixonado pelo k-pop e gosta mesmo dos artistas e da música. E são ótimos, tenho os melhores fãs do mundo, apoiam-me imenso. Seguem todos os meus passos. Claro que há públicos diferentes: por exemplo, no Japão eles são muito mais reservados mas para eles é um sinal de respeito e de amor pela arte. E depois há países como os EUA e o México, onde as pessoas gritam imenso, por isso há diferenças culturais, mas em geral todos apoiam muito os artistas.
E qual foi a coisa mais doida que um fã seu já fez?
Uma coisa que acontece regularmente e me surpreende são os fãs que acampam às portas das salas de concerto durante a noite, antes do dia do espetáculo. E depois estão lá ao sol ou à chuva só para terem os melhores lugares. E isso é incrível, porque acho que eu não teria paciência para fazê-lo. E eles ficam lá dez, 15, 20 ou 24 horas. É incrível e só espero que não se magoem ou que fiquem doentes por causa disso.
Há algo que faça sempre antes de subir ao palco para atuar?
Normalmente escovo os dentes e faço alongamentos, muitos alongamentos, antes de ir para o palco.
Na carreira do Eric, antes da música, veio o entretenimento.
Sim, acho que tens de ser tudo. Não podes fazer só música, não podes fazer apenas televisão, tens de fazer tudo porque é um país pequeno e tens de ser visto e tens de estar presente em todo o lado. E por isso é que fiz vários trabalhos de apresentação e de entrevistar convidados na televisão, e depois é que decidi começar na música. E chegou a uma altura em que, com os concertos que estava a dar, e com o dinheiro que estava a fazer — não era muito mas era suficiente —, senti que podia apostar nisto.
Além da música e da televisão, gostava de fazer mais alguma coisa na indústria do entretenimento, que ainda não tenha feito?
Acho que gostava de ser ator, é algo que pode acabar por acontecer. Tenho algum receio, porque não sei se seria um bom ator, mas é algo que quero tentar a determinado momento.
E pensa que o k-pop ainda está no início da sua popularidade? Ainda há muito espaço para crescer? Ou já chegou ao ponto de saturação?
Acho que estamos numa nova fase. O k-pop já existe há muito tempo — e há dez anos já se dizia que era muito famoso — mas agora estamos numa nova dimensão. E espero que continue a crescer. Claro que, na primeira interação que têm com a música, as pessoas podem estranhar mas encorajo-as para darem um passo em frente e aprofundarem-se mais no k-pop. Acho que ainda há muito potencial.