No que toca a relações falhadas, poucos percebem tanto do assunto como Taylor Swift. A fama precede-a e no que toca a revoluções e mudanças radicais, pode dizer-se que a artista é perita em mudar de vida. Fê-lo em 2015, quando acabou a longa relação com a comunidade country que fez dela uma estrela, e a trocou pela pop. Pelos vistos, Swift voltou a partir corações.
A 24 de julho, apenas um ano depois do lançamento do último disco, era lançado “Folklore”. O aviso surpresa feito apenas 24 horas antes chocou os fãs, mas ninguém estava preparado para a verdadeira surpresa.
“Taylor Swift, uma estrela pop que está farta da pop”, afirma o “The New York Times”, na dianteira de uma avalanche de críticas positivas que sublinham mais uma guinada na direção da norte-americana, desta vez rumo a sons mais alternativos. “Ao oitavo álbum, mergulha de cabeça no mundo da folk, do rock alternativo e do indie”, explica a “NME”. A “Pitchfork” também não tem dúvidas de que Swift “também ama o indie”.
Feito durante a quarentena com a colaboração de Bon Iver e Jack Antonoff, entre outros, o disco não surpreendeu apenas a crítica especializada. Nas duas primeiras semanas vendeu mais de dois milhões de cópias e bateu recordes de audições no Spotify.
Fala-se já de uma nova Taylor Swift, mais adulta e mais madura, liberta da prisão da pop e livre para explorar. Pode é não ser a última paragem, até porque a carreira e a vida têm sido feitas de revoluções — nem todas musicais.
Adeus à country
Sonhava com canções de Shania Twain, queria ser como Faith Hill e cantava temas de Dolly Parton. Ainda era uma adolescente e já viajava para Nashville, a capital da música country, para se tornar numa estrela. Foi difícil mas conseguiu, embora muitos puristas continuassem a ter as suas reservas, à medida que Swift se tornava na maior estrela do género.
A relação com Nashville, começada em 2003, conduziu a uma das maiores honras atribuídas aos músicos country. Na gala da Academy of Country Music Awards de 2014, na qual subiu ao palco para receber um prémio de carreira entregue a artistas com impacto inegável no género, partiu o coração aos fãs e despediu-se oficialmente do country.
Os sinais estavam por todo o lado, mesmo antes do lançamento do êxito pop “1989”, e a declaração só veio confirmar que era uma relação condenada. O country ficava para trás. Pela frente estava um namoro promissor com a pop que elevaria ao estatuto de estrela — e um dos nomes mais fortes da música mundial. E ao fim de três álbuns, o paradigma parece que está prestes a sofrer outra revolução.
Uma força política
As eleições de 2016 foram o culminar de uma divisão feroz na população norte-americana. Democratas e republicanos, apoiantes de Hillary Clinton e apoiantes de Donald Trump, a chegada inesperada do polémico candidato e hoje presidente obrigou a intervenções de muitos artistas, ansiosos por ajudarem a combater a sua eleição.
Quase ninguém se manteve afastado da batalha. Swift, sempre cuidadosa com a sua imagem, manteve-se num espaço neutro. Os jornalistas bem tentavam, mas tinham pouco sucesso. No dia da eleição, em 2016, limitou-se a uma publicação onde apelava ao voto, sem indicar nomes. Uma abstenção da qual se viria a arrepender.
“Estava apenas a tentar proteger a minha saúde mental — evitar ler as notícias, votar, dizer às pessoas em quem votar. Sabia bem o que era ou não capaz de aguentar. Estava à beira do colapso”, revelou em 2019 em entrevista ao “The Guardian”, na qual recorda o período turbulento pelo qual passava em 2016, com um ressurgimento do cancro da mãe e a batalha pública com Kanye West e Kim Kardashian. Apesar disso, mostrou-se “arrependida” de não ter feito qualquer intervenção a favor de Clinton.
O silêncio começou a ser alvo de críticas, não só de colegas de profissão mas dos próprios fãs. Os elogios de grupos de extrema-direita também não ajudaram. Dois anos depois, tudo mudou.
A velha e neutral Swift deu lugar a uma artista politicamente ativa e de dedo apontado aos republicanos — e a Donald Trump. Em 2018, Swift usou o poder dos seus então 112 milhões de seguidores para apelar ao voto as eleições intercalares, particularmente em dois cadidatos democratas no seu estado do Tennessee. Quase instantaneamente, foram registados picos de novos votantes registados, não só a nível estadual como a nível nacional.
A revolução na posição outrora neutra teve o impacto esperado. Donald Trump, que em 2012 a achava “espetacular”, afirma agora que gosta “25 por cento menos” da cantora. Também a admiração dos conservadores pela artista começou a esfriar.
De repente, Swift não só quebrou o silêncio como se tornou numa voz ativa da agenda liberal. Manifestou-se contra os tiroteios violentos, apoiou candidatos que publicamente defendem os direitos LGBTQ — e lançou o marcante vídeo “You Need To Calm Down” —, atirou diretamente contra a Casa Branca em galas de prémios e fez a promessa de que Trump seria votado para fora do cargo em novembro.
A mulher sem medo
A tímida miúda de cabelo loiro que cantava sobre romances frustrados já não é a mesma. As letras continuam a falar sobre as relações que vão e vêm, mas Swift está longe de ser apenas a voz e a mente por detrás dos temas.
Em 2013, depois de um concerto de apresentação de “Red”, Swift recebeu alguns fãs para os tradicionais meet and greet. Foi num desses encontros que foi vítima de uma agressão sexual por parte de David Mueller, que a terá apalpado.
A artista não tornou o caso público, mas informou os patrões do DJ, que acabou por ser despedido. Eventualmente, Mueller veio a público acusar a artista de o ter acusado injustamente e de o ter feito perder o emprego — e colocou mesmo uma ação por difamação. Swift não esteve com contemplações e levou-o também a tribunal.
O caso arrastou-se nas manchetes e muitas das críticas viraram-se para si. “Porque é que não gritaste? Porque é que não reagiste mais rapidamente? Porque é que não te afastaste? Eu estava tão zangada. Irritada por ter que estar ali. Zangada porque isto acontece às mulheres. Porque todos os detalhes foram enviesados”, revelou no documentário de 2020, “Miss Americana”.
Estava na altura de transformar a imagem de menina pop em mulher aguerrida e assim o fez. O júri havia de considerar Mueller culpado de agressão sexual e dar o direito a Swift de receber a indemnização que a própria pediu: o valor simbólico de um dólar.