Aos 32 anos, Hugo Lourenço já fez um pouco de tudo: trabalhou num supermercado Continente, num parque de estacionamento e em várias livrarias, onde começou a desenvolver uma paixão pelo mundo literário. Contudo, as exigências comerciais deste último emprego foram tornando-se um entrave, levando-o a sentir-se limitado. Apesar disso, o seu amor pelos livros nunca diminuiu, o que o motivou a abrir, a 17 de novembro, a sua própria livraria independente, a Inquieta.
Licenciado em Tradução e Escrita Criativa e com uma pós-graduação em arte da escrita, Hugo também acumulou algumas experiências na área da tradução, especialmente no setor jurídico, como refere em conversa com a NiT.
A Inquieta é a materialização de um sonho que decidiu concretizar sozinho. No entanto, teve de enfrentar vários obstáculos no caminho até à abertura da livraria O espaço, situado num edifício de 1960 localizado em Campolide, foi arrendado em maio, com a intenção de abrir três meses depois. Porém, as obras prolongaram-se devido à disponibilidade do empreiteiro e a alguns problemas estruturais, que já foram solucionados.
O nome da livraria, que também é uma referência a uma canção de José Mário Branco, evoca uma mente inquieta, a curiosidade, a busca pelo conhecimento e, acima de tudo, a resistência à estagnação. Inicialmente, Hugo pensou em abrir a Inquieta em Odivelas, onde cresceu e vive atualmente.
Após realizar um estudo de mercado, concluiu que o conceito teria uma melhor receção em Lisboa. Escolheu Campolide, acreditando na necessidade de uma livraria de bairro independente, uma teoria que o feedback dos clientes veio confirmar: “Sentiam muita falta de algo assim,” partilha o livreiro.
O catálogo da Inquieta foi concebido para ser diversificado, apresentando tanto títulos de editoras como a Penguin Random House, quanto edições independentes de casas como a Cutelo e Snob. A oferta abrange géneros como ficção, ciências sociais e humanas, e literatura infanto-juvenil. “Procurei ser mais seletivo,” afirma Hugo. Os preços dos livros rondam os 15€, alinhando-se com os valores praticados por outras livrarias.
Além disso, conta com uma secção de livros em segunda mão, também criteriosamente selecionados, com preços que variam entre 1€ e 7,5€. “Esta estante atrai a atenção não só pelos preços, mas também pela seleção cuidadosa.”
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A livraria ocupa dois andares. No piso inferior, que possui aproximadamente 90 metros quadrados e que o fundador descreve como “amplo e luminoso”, estão a livraria, uma sala de convívio, um espaço para eventos e um mural da artista Daniela Guerreiro. No andar superior encontra-se a zona de cafetaria. “Com o tal estudo de mercado percebi que a ideia de uma livraria convencional não atraía muito o público em geral, pois queriam algo diferente, daí a aposta nesta vertente,” explica.
Hugo é vegan e decidiu criar um menu que seguisse esse princípio, algo que sentia faltar em Lisboa. “Já tive clientes que vieram de Moscavide propositadamente para experimentar os nossos bolos.”
O bolo de banana com frutos secos, as miniquiches com base de farinha de grão e o alfajor de pistácio, Oreo ou brigadeiro têm sido um sucesso. Para acompanhar, a oferta inclui chocolate quente, galão e meia de leite, todos preparados com bebidas vegetais.
Na Inquieta, há espaço para todos, desde vegans a leitores inveterados. Os animais também são bem-vindos: “Tinha de ser pet friendly, visto que sou vegano e defensor dos direitos dos animais. Deixá-los à porta não fazia sentido para mim.” Os cães que visitam a livraria com os seus donos encontram sempre uma taça de água à disposição.
A partir de janeiro, Hugo planeia introduzir várias novidades no espaço. Na carta, serão adicionadas tostas, minipizzas e torradas, além de atividades como a hora do conto para os mais novos, debates sobre saúde mental e workshops de pintura e desenho.
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