É difícil encontrar palavras para descrever a importância de “O Padrinho”, o livro icónico de Mario Puzo sobre uma família da máfia ítalo-americana que deu origem ao filme com o mesmo título — e que se tornou num clássico do cinema (e o início de uma saga de culto).
O livro que conta a história dos Corleone — e que influenciou a literatura, o cinema e os próprios mafiosos — celebrou 50 anos a 10 de março. Mario Puzo estaria orgulhoso da sua obra. O autor americano, descendente de italianos, morreu em 1999, aos 78 anos.
Para assinalar este aniversário redondo, foi publicada uma reedição de “O Padrinho”, que tem uma nova introdução escrita por Francis Ford Coppola, o realizador do filme. Pode ser encomendada através da Amazon para Portugal, por um valor de cerca de 12€ (além dos portes de envio).
Neste texto, o realizador que agora tem 79 anos conta algumas histórias de como o livro se transformou num filme. Coppola explica que o tremendo sucesso de “O Padrinho” (e o respetivo mediatismo) foram um choque para ele: um miúdo tímido de Queens, em Nova Iorque, que tinha más notas na escola e que havia contraído poliomielite quando tinha apenas nove anos.
Também ele descendente de italianos, Coppola tinha apenas 33 anos quando “O Padrinho” estreou nos cinemas. Antes de fazer este filme, era um argumentista e realizador desconhecido — e pobre.
Ele explica como tudo aconteceu nesta reedição do livro. “Eu tinha visto um anúncio na secção de livros do ‘New York Times’ e fiquei curioso, porque a ilustração na capa sugeria uma história sobre ‘poder’, e o nome italiano do autor fez-me pensar que ele era um intelectual como Umberto Eco ou Italo Calvino.”
Coppola diz que ficou surpreendido na primeira vez que leu o livro. Os estúdios da Paramount já tinham comprado os direitos para uma adaptação ao cinema e estavam à procura de um realizador — Coppola era uma das possibilidades, mas ele não queria fazer aquele filme.
“Eu sabia que estava a ser considerado para realizar o filme e a minha primeira reação foi recusar. Mas precisava bastante do dinheiro e de um filme para fazer, por isso decidi lê-lo novamente e tomar notas com cuidado. E percebi que era uma ótima história, quase clássica na sua natureza: a de um rei com três filhos, sendo que cada um herdou uma característica da sua personalidade.”
Francis Ford Coppola acabou por aceitar o convite e trabalhou com Mario Puzo na adaptação do livro para cinema. “Adorava estar com ele, é como se fosse o meu tio favorito. Ele era tão divertido, afetuoso e sábio.”
Todo o argumento de “O Padrinho” foi escrito num casino em Reno, no estado americano do Nevada. “Como o Mario adorava jogar, sugeri que nos instalássemos num casino para trabalhar no guião”, escreve Coppola na nova edição de “O Padrinho”. O modus operandi funcionou tão bem que eles fizeram o mesmo para os dois filmes da saga que se seguiram.
“Um casino é o sítio perfeito para escritores ou argumentistas colaborarem. Não há relógios, por isso podem-se pedir ovos e bacon (ou outra coisa) a qualquer hora. Quando chegas a um bloqueio, podes sempre descer para jogar à roleta, algo que o Mario adorava fazer. E se perderes muito dinheiro (algo que o Mario detestava — ele era um jogador terrível, apesar de perceber muito daquilo), escapavas novamente lá para cima e continuavas a trabalhar. Ele costumava dizer: ‘Estou a perder milhares aqui em baixo, mas lá em cima estamos a fazer milhões’.”