Numa altura de exceção, como a que vivemos mundialmente devido à pandemia do novo coronavírus, são necessárias medidas igualmente de exceção. No dia 30 de abril, o governo dava conta da reabertura das livrarias no dia 4 de maio, “independentemente da área”.
Porém, as livrarias optaram por uma série de medidas a aplicar, além das indicadas pela Direção-Geral da Saúde, para a proteção e confiança dos seus clientes.
Provavelmente, a pergunta que logo surge prende-se com a possibilidade de folhear livros. É uma das práticas mais comuns na ida a estes espaços, e que poderá ficar comprometida durante a pandemia do novo coronavírus.
A NiT falou com várias livrarias para saber a resposta a esta e outras perguntas relativas às medidas de proteção que estão a ser implementadas aquando da reabertura.
“Neste momento, abrimos a livraria a partir de 8 de maio. A galeria, café e esplanada mantêm-se encerrados. Todas as atividades presenciais, como lançamentos, workshops, debates, e projeção de filmes, estão suspensas, por enquanto”, explica à NiT o coletivo responsável pela livraria Tinta nos Nervos, na Rua da Esperança, em Lisboa.
Depois de estarem encerrados desde o dia 14 de março, o regresso faz-se com um novo horário (quarta-feira a domingo, das 11 às 18 horas) e novas regras.
“O uso de máscara é obrigatório, assim como a desinfeção das mãos à entrada, antes do manuseio de livros e demais objetos, respeitar a etiqueta respiratória, manter o distanciamento social, apenas será possível a presença simultânea de quatro clientes em loja, e do nosso lado só teremos uma pessoa no atendimento.”
E os clientes podem folhear os livros? “Sim, depois de desinfetarem as mãos com álcool-gel que nós providenciamos. Também vendemos máscaras a preço de custo para quem não tenha”, rematam.
Já Joaquim Gonçalves, gerente da livraria A das Artes, pede que se evite folhear os livros: “Pedimos que evitem. Pegamos nós neles, com luvas, e mostramos o que o cliente quer ver. Mas, se for caso disso, também podem e, como são poucos, de seguida os livros são passados por um pano com álcool”.
O gerente do espaço que se situa na Avenida 25 de Abril, em Sines, refere ter “vendas residuais” atualmente. “Na rua há carros, mas não pessoas”.
Durante o tempo de encerramento dos espaços, a venda de livros aconteceu ao postigo ou com entregas ao domicílio. Porém, vários dos gerentes com quem a NiT falou queixam-se de entregas bastante demoradas por parte dos CTT, situação que, no entanto, consideram normal, devido ao grande volume de envios devido ao surto.
“[Durante este período] usámos sobretudo os CTT, o que significa que estamos dependentes do estado mais ou menos caótico das estações de correios, tem havido grandes demoras. Também fizemos algumas entregas ao domicílio em que fomos nós diretamente levar os livros aos clientes”, relata Ana Coelho, sócia-gerente da Palavra de Viajante, na Rua de São Bento, em Lisboa, que refere ainda que os cliente podem folhear os livros, “mas aí são convidados a usar o gel [desinfetante] antes e depois”.
Também na Rua de São Bento, a Distopia Livraria implementou várias medidas de higienização. “Neste momento, podem entrar apenas duas pessoas de cada vez, o uso de máscara é obrigatório, estão disponíveis líquidos de higienização à entrada e ao balcão, o TPA de multibanco é limpo entre cada utilização, e há especial atenção à limpeza geral da livraria com produtos adequados”, explica-nos Sónia Silva, sócia-gerente.
“Neste momento, é completamente incerto como vão ser os próximos meses ou anos, sendo que uma recessão económica é certa a nível mundial. O setor livreiro, ainda que essencial, é muito frágil e desde sempre desvalorizado nas políticas culturais”, acrescenta, quando questionada sobre quais as maiores preocupações relativamente ao futuro.
Preocupação também é o que sente Liliana Cordeiro, sócia-gerente da Livraria e Papelaria Espaço, que se situa na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, em Algés.
“[As maiores preocupações são] equilibrar as contas, pagar vencimentos, pagar a fornecedores, procurar alternativas para os eventos realizados na livraria, como horas do conto, clube de leitura, lançamento de livros”, conta-nos.
Também as livrarias de grandes cadeias, como é o caso da Fnac, já fizeram notar as medidas implementadas nas suas lojas, que passam pelo reforço da limpeza e desinfeção; utilização de luvas, máscaras e viseiras por parte dos funcionários; disponibilização de gel desinfetante; limite de cinco clientes por 100 metros quadrados; utilização obrigatória de máscara pelos clientes e circulação dos mesmos pelo sentido de percurso indicado.
As lojas FNAC que já reabriram são: Rua Santa Catarina, GaiaShopping, Amoreiras Shopping, Atrium Saldanha, Alegro Alfragide, CascaiShopping, e Forum Algarve.