Cinema
Michael B. Jordan: a estrela de Hollywood que começou em “The Wire” e nos “Sopranos”
O novo filme deste workaholic, “Creed II”, estreou em Portugal a 27 de dezembro.
O primeiro trabalho foi um anúncio da Toys R Us.
É uma das grandes estrelas de Hollywood na atualidade — e uma das principais referências afro-americanas do cinema, num país onde a questão da raça é tão importante. Michael B. Jordan teve um grande ano na ressaca de “Black Panther” e o seu novo filme, “Creed II”, estreou a 27 de dezembro.
É a sequela de “Creed”, que pegou na história do mítico pugilista Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone, e a direcionou para esta nova personagem, o lutador Adonis Creed.
Ele é o filho de Apollo Creed, antigo amigo e também rival de Rocky Balboa. Stallone abandonou em definitivo os ringues para ser treinador e mentor do rapaz. O primeiro filme estreou em 2015 e foi bem recebido tanto pelo público como pela crítica. Nesta nova história, Creed tem de enfrentar — e com a ajuda de Balboa — o poderoso Viktor Drago (Florian Munteanu), o filho do também icónico Ivan Drago (Dolph Lundgren), que já tinha entrado no quarto episódio.
Tudo começou, porém, há muitos anos para Michael B. Jordan. O ator nasceu em 1987 na Califórnia, nos EUA, mas a sua infância foi passada em Newark, a capital da Nova Jérsia, numa das zonas mais pobres da cidade
“Cresci num bairro difícil”, contou numa entrevista à revista “Vogue”. “Havia muitas drogas, gangues, muitas armadilhas por onde quer que andasses. Adoro Newark, mas era fácil envolveres-te na situação errada.” Apesar disso, sempre se conseguiu manter fora de problemas — apesar de causar algumas dores de cabeças aos pais. Parece que o pequeno Mike gostava de incendiar papel higiénico em casa.
A mãe, Donna Davis, era uma artista e conselheira numa escola local. O pai, que se chama Michael A. Jordan, é um ex-fuzileiro que tinha uma empresa de catering. Por causa disso, Michael — com uma irmã mais velha e um irmão mais novo — passava várias horas por dia a cortar vegetais para ajudar o pai. Ainda hoje ele adora cozinhar: diz que a sua especialidade é um risotto de brócolos e parmesão.
O nome de Michael B. Jordan não tem nada a ver com a super estrela da NBA Michael Jordan. Mas claro que isso influenciou a carreira do ator. “Penso que ter crescido a fazer desporto e com o nome Michael Jordan tornou-me extremamente competitivo, costumavam provocar-me muito com o meu nome”, contou à “NPR”. E acrescentou: “Mas isso fez-me ambicionar a grandeza.”
O “B” que separa Michael de Jordan é de Bakari — que significa “de promessa nobre” em suaíli, língua que é falada em vários países da África central.
Jordan começou a trabalhar como ator porque uma amiga da mãe tinha filhos que faziam trabalhos de modelo em Newark. Estreou-se num anúncio publicitário para a cadeia de brinquedos Toys R Us, depois fez mais alguns trabalhos do género e, aos 12 anos, apareceu em duas séries icónicas da televisão: “Cosby” e “Os Sopranos”, a série sobre a máfia italiana de Nova Jérsia, precisamente o sítio onde cresceu. Aparece no sétimo episódio da primeira temporada — mas não é um papel de todo relevante.
Foi o suficiente, contudo, para participar (ativamente) na primeira temporada de “The Wire” e interpretar Wallace. Jordan mudou-se para Los Angeles. Era um jovem que vivia numa realidade violenta, que tinha de equilibrar a sua necessidade de subir na vida do crime com o perigo que isso lhe iria trazer (e trouxe). Michael B. Jordan criou uma personagem madura que mostra a sua inteligente e humanidade. Tinha apenas 14 anos.
A mãe costumava acompanhá-lo nas gravações da série, mas no último dia — quando iria ser gravada a cena do seu assassinato — Jordan pediu-lhe que ela ficasse em casa. A produção iria ser demasiado emocional.
“Eu sabia que ia acontecer. E quando o [argumentista] David Simon bate à porta da roulote a dizer: ‘Eu adoro-te. As audiências adoram-te. Temos de te matar.’ Nunca me vou esquecer. Lembro-me de dizer à minha mãe para não aparecer nesse dia, ela costuma emocionar-se e isto era demasiado”, contou numa entrevista à “Vulture”.
Michael B. Jordan era Wallace em “The Wire”.
Essa experiência fez com que Michael B. Jordan se apaixonasse em definitivo pela representação — mas não resultou num sucesso imediato. Aliás, teve dificuldade em arranjar trabalhos fixos nos anos seguintes e quase desistiu do sonho de ser ator. Pensou em voltar para casa, do outro lado dos EUA, longe de Hollywood, mas acabou por participar em séries como “All My Children” e “Friday Night Lights” — além das participações especiais em episódios de “CSI”, “Lie to Me”, “Casos Arquivados”, “Ossos” ou “Sem Rasto”.
O filme que mudou tudo foi o indie “Fruitvale Station”, de 2013, onde conheceu Ryan Coogler — o realizador do primeiro “Creed” e de “Black Panther”. “Ficámos próximos assim que nos conhecemos”, disse Coogler à “Vogue”. “Somos da mesma idade, vimos de famílias parecidas e de cidades com códigos semelhantes.”
Foram esses filmes que o tornaram uma verdadeira estrela de Hollywood, apesar de alguns fracassos pelo caminho — como “Quarteto Fantástico”, de 2015, se revelou um fracasso. Michael B. Jordan aceitou o papel por ser um enorme fã do universo dos comics e anime. Já tinha sido apontado para aparecer nos filmes da Marvel “O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro” e “Capitão América: O Soldado de Inverno”, mas o sucesso a sério neste género só aconteceu mesmo com “Black Panther”.
Michael B. Jordan gosta de manter a sua vida pessoal privada, mas diz que os seus hobbies são sobretudo jogar videojogos como “Call of Duty” e “NBA 2K” com os amigos. Passa muito tempo no ginásio e vive com os pais numa mansão que comprou para a família em Los Angeles. A mãe sofre de lúpus e assim também consegue estar próximo dela para a ajudar — Michael B. Jordan já contribuiu para várias associações e fundações que ajudam as pessoas com esta doença.
Nunca falou sobre nenhuma relação amorosa, mas neste vídeo da “Vogue” faz questão de desmentir o rumor de que só sai com mulheres negras.
O ator explicou ainda que ter relações é difícil em Los Angeles, porque que as pessoas são “oportunistas”. Mas isso não é uma prioridade para ele. Jordan acorda, vive e adormece a pensar no trabalho. Tem acordos de publicidade com a Nike, a Acura e a Piaget e lançou nos últimos anos a própria produtora, a Outlier Society Productions. O nome vem do livro de Malcolm Gladwell, “Outliers”, sobre pessoas que não se enquadram nos standards normais mas conseguem ascender na vida porque encontram oportunidades e trabalham incansavelmente. Esta poderá ser a melhor definição para Michael B. Jordan.
Ele e a sua empresa estão a trabalhar num reboot de “O Caso Thomas Crown” — o primeiro filme, com Steve McQueen, estreou em 1968; e o segundo, com Pierce Brosnan, é de 1999. Além disso, estão a preparar uma produção de animação chamada “Super Day Care”, com estreia prevista para 2019. E ainda vai criar uma série de televisão com o dramaturgo Tarell Alvin McCraney, um dos guionistas de “Moonlight”. “Creed II” é o primeiro filme em que, além de participar como ator, é produtor executivo.
Os críticos de cinema dizem que ele será o próximo Denzel Washington ou Will Smith.
“O Mike pensa que pode ser o próximo Tom Hanks”, diz à “Vogue” o melhor amigo do ator, o apresentador da MTV Sterling “Steelo” Brim. Ou seja, ele não quer ser uma grande estrela afro-americana — prefere ser reconhecido pelas características transversais, tal como Tom Hanks, que tantos fãs adoram: o bom humor e a personalidade genuinamente decente.
“Os meus sonhos são enormes”, diz Jordan. “Sonho o dia inteiro, todos os dias. Quero ter restaurantes um dia? Sim. Quero entrar na área da hotelaria e ter os meus próprios hotéis? Claro que sim. Quero ter uma grande produtora que trabalha com todos os estúdios e atores a criar projetos de animação e videojogos e boas séries de televisão? Sim, sim, sim. E já o estou a ver.”