“The Handmaid’s Tale” ou a versão como a maioria de nós a conhece, é uma história absolutamente surreal de como os Estados Unidos mergulharam numa ditadura religiosa, num mundo devastado por uma inexplicável infertilidade. O sucesso da série lançada em 2016 levou a toda uma nova geração a obra de Margaret Atwood, que assinou e editou o livro com o mesmo nome em 1985. Mas e se lhe dissermos que entre o lançamento da versão original e a nova série com Elisabeth Moss, foi feita uma longa metragem com um elenco de sonho? Pois bem, tudo isso é verdade — e pode ser a sugestão perfeita para fazer uma viagem no tempo sem sair do sofá.
Comecemos pelo argumento, que foi assinado por nada mais nem menos do que Harold Pinter, autor britânico vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2005, que chegou também a estar nomeado por duas vezes para o Óscar de Melhor Argumento — por “A amante do Tenente Francês” (1981) e “Traição” (1983).
As surpresas não ficam por aí. Robert Duvall é uma das estrelas do elenco, no papel do Comandante. Ao seu lado está outro nome de referência, Faye Dunaway, que faz de Serena. Depois há ainda Elizabeth McGovern como Moira, Aidan Quinn a fazer de Nick e, finalmente, menos conhecida, Natasha Richardson como Kate, a protagonista que na série televisiva é June Osborn.
Realizado por Volker Schlondorff, o filme foi lançado apenas cinco anos depois da obra de Atwood ter chegado às livrarias.
O processo de escrita foi atribulado. Pinter revelou mais tarde que o trabalho ficou a meio devido à exaustão. A tarefa de finalizar o argumento foi redirecionado para Atwood e o resultado final não agradou ao autor inglês, que terá mesmo pedido que o seu nome fosse retirado dos créditos finais. Não foi.
Para os fãs da nova série produzida pela Hulu, espreitar sequer o trailer da produção de 1990 é um exercício complicado: se não ficar horrorizado, é bem capaz de soltar algumas gargalhadas. É quase uma espécie de sketch, igual aos que regularmente vão sendo feitos com séries novas, reimaginando-as como uma produção de décadas passadas. Quem não se recorda do genérico de “A Guerra dos Tronos” numa versão do século passado?
Contrariamente ao livro da autora canadiana, que foi muitíssimo bem recebido pela crítica, o filme de 1990 não teve tanta sorte. Foram poucas as notas positivas recebidas entre os críticos de cinema. O célebre Roger Ebert notou que não sabia sequer o que raio é que o filme queria contar — e por isso deu-lhe umas merecidas duas estrelas em quatro possíveis. A “Entertainment Weekly” foi bastante mais dura: “É um filme que se vê, mas que é um conjunto de patetices paranóicas — tal como o livro”.
Parece que não há grandes dúvidas de que a série é bastante superior. Infelizmente, e até por causa da pandemia que obrigou a interromper todas as produções, a estreia da quarta temporada de “The Handmaid’s Tale” pode muito bem demorar vários meses ou até um ano a estrear. E para os fãs a sério da história, esse é um problema grave, que até tem um remédio. Guardem uma hora e 48 minutos do vosso isolamento para viajarem até aos anos 90, enquanto os novos episódios não chegam. O filme está disponível no serviço NOS Play.