“You’ve been gone too long, Alice (Estiveste fora demasiado tempo, Alice).” A frase ouve-se da voz inesquecível de Alan Rickman, que morreu em janeiro, mas o sentimento pode não ser comum a todos os espectadores desta sequela.
“Alice no País das Maravilhas” chegou ao cinema em 2010 numa adaptação de Tim Burton. O nome do realizador e um elenco com Johnny Depp, Mia Wasikowska, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway tinham tudo para ser um sucesso. Mas não foi. Apesar de até ter conquistado dois Óscares em categorias técnicas, a crítica dividiu-se. O cenário mágico foi elogiado mas a densidade da narrativa e das personagens foi considerada pobre.
O mesmo volta a acontecer no segundo filme, “Alice do Outro Lado do Espelho”, que estreia em Portugal esta quinta-feira, 26 de maio. A história corre apressada com viagens ao passado dentro de viagens ao passado e, se adormecer durante cinco minutos, corre o risco de já não perceber nada do que se passa.
Mia Wasikowska cresceu e apresenta uma Alice mais madura, consistente — embora continue a encaixar-se perfeitamente num mundo de fantasia — e mostra que a própria atriz evoluiu nos últimos anos.
O chapeleiro perdeu muita da alegria do primeiro filme — ou seja, grande parte do encanto da história — mas ao mesmo tempo revela um lado mais humano e vulnerável da personagem, quase a morrer de desgosto, convencido de que ninguém acredita nele quando diz que a sua família ainda está viva. Johnny Depp continua a ser cativante neste género de papéis carregados de adereços e maquilhagem mas a verdade é que já temos saudades de ver o ator num papel sério, com mais ênfase na interpretação do que no espalhafato de roupas, lenços e perucas — “Black Mass — Jogo Sujo”, de 2015, não correu propriamente bem.
Helena Bonham Carter volta a ser a Rainha Vermelha e é igual a si própria: espalhafatosa, expressiva e tão, tão boa. Anne Hathaway é o oposto, doce, delicada e boazinha.
Deixámos para o fim a verdadeira estrela deste filme, Sacha Baron Cohen. São dele as melhores cenas e os melhores diálogos. Ele é o Tempo, quem controla os minutos e os segundos, quem decide quem tem de morrer. É um vilão que, no fundo, tem um coração mole — faz tudo para conquistar a insuportável Rainha Vermelha e no fim ainda se sacrifica pelo grupo. Apesar do cliché, é impossível não gostar dele.
Em “Alice do Outro Lado do Espelho”, o realizador mudou, sendo Tim Burton substituído por James Bobin (“Os Marretas”, “Da Ali G Show”). Ainda assim, notam-se poucas diferenças — para o bem e para o mal. Os cenários continuam a ser ricos em pormenores e cor, os efeitos visuais ganham ainda mais destaque com 3D e a componente mágica está presente na maioria das cenas. Já o argumento volta a parecer uma sequência atabalhoada de acontecimentos, onde tudo se processa demasiado depressa sem haver tempo para aprofundar personagens ou momentos.
O elenco salva o filme mas, se calhar, já chega de sequelas e, desta vez, Alice pode manter-se definitivamente por lá, do outro lado do espelho.