Foi no início de 2018 que “The End of the F***ing World” estreou na Netflix e se tornou um fenómeno global. A primeira temporada terminou com um final épico e dramático em que um dos protagonistas, James, levou um tiro da polícia depois da onda de crimes que cometeu com Alyssa — num registo Bonnie & Clyde adolescente.
O final foi ambíguo. Será que James sobreviveu? Ou morreu com o tiro? De qualquer das formas, foi uma ótima conclusão para esta história vibrante, que não exigia de todo uma segunda temporada. Apesar disso, e como tudo aquilo na indústria do cinema e televisão que tem sucesso tem de continuar ou sofrer um remake, “The End of the F***ing World” foi renovada para uma segunda temporada.
Quase dois anos depois da primeira, estreou esta terça-feira, 5 de novembro, na plataforma de streaming. No total tem oito episódios, mas é uma série que, apesar de intensa, se vê perfeitamente numa tarde, tendo em conta que os capítulos variam entre os 18 e os 25 minutos.
Jessica Barden e Alex Lawther regressam aos papéis de Alyssa e James, respetivamente, sendo que passaram dois anos desde os acontecimentos da primeira temporada — agora eles têm 19 anos. E estiveram este tempo todo sem se verem.
Foram obrigados a seguir as suas vidas, sendo que James teve uma longa e difícil recuperação no hospital, e Alyssa saiu de casa com a família para irem morar para o campo com a tia. Como na primeira temporada, existe uma grande ambiguidade em relação ao tempo e ao espaço.
A produção foi gravada no País de Gales, no Reino Unido, mas tanto há elementos britânicos como referências mais americanas — em relação a referências temporais, a ideia é que isso não desempenhe um papel nada determinante. Não há Internet, telemóveis ou tecnologias minimamente inovadoras.
Voltando à história, Alyssa tentou mesmo seguir em frente e vai casar com o novo namorado. Mas é uma outra nova personagem, chamada Bonnie, que vai reunir James e Alyssa. Tal como os protagonistas, Bonnie é retratada como uma jovem maltratada pelo mundo, pela família — a mãe obriga-a a comer o próprio batom porque pode ser uma distração dos estudos — mas o grande facto sobre ela é que tinha uma espécie de relação com Clive Koch, o professor psicopata que James e Alyssa assassinaram na primeira temporada.
Ou seja, Bonnie quer vingar-se dos protagonistas e é esse o grande fio condutor na narrativa desta temporada. Tal como na primeira, parece que a história nunca vai por onde imaginamos, porque há sempre algo que corre mal, algum tipo de imprevisto, o que torna o enredo imprevisível e dinâmico — se por um lado pode ser irritante, por outro é muito bom sinal.
Ainda assim, a história vive muito à sombra da primeira temporada. A morte de Clive Koch, os momentos de amor disfuncional entre James e Alyssa e até a própria casa onde esse momento marcante aconteceu são fundamentais para a narrativa deste ano.
No entanto, se olharmos para tudo o que acontece ao longo da segunda temporada, a verdade é que há muitos avanços e recuos mas não existe um grande progresso, as coisas não estão assim tão diferentes no final. A história não é tão boa como a da primeira temporada e esse era um risco difícil de correr. Desta vez também não existe um final épico, a aposta foi numa conclusão mais pacífica e feliz, o que é, inevitavelmente, mais aborrecido.
Ainda assim, mantêm-se todos os elementos que fizeram com que esta história baseada numa novela gráfica conquistasse tantos fãs. O humor negro e ácido, o sarcasmo: as personagens ricas, complexas e complicadas; os diálogos ótimos; a grande qualidade da representação; os detalhes nos planos e na realização; a estética vintage; a banda sonora; enfim, são muitos os argumentos para ver mais uma temporada desta série, que mantém um grande nível de qualidade mesmo que não seja tão brilhante ou não tenha o mesmo encanto, porque também perdeu o efeito de novidade.