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“Pesadelo na Cozinha”: Fernando quis bater em Ljubomir mas agora até lhe pede conselhos
Discutiram, insultaram-se e deixaram de falar. No final, abraçaram-se. O Alameda é a primeira história de sucesso da temporada.
Fernando tomou conta do Alameda em março.
Fernando Rosa chega já depois das 11 horas, desorientado, bloqueado e nervoso. Na cozinha tudo está atrasado, o serviço corre mal, há muito mais reclamações do que é habitual. É assim que começa o episódio de “Pesadelo na Cozinha” deste domingo, 11 de novembro, e foi de facto o que aconteceu a 8 de outubro, dia em que as gravações do programa da TVI começaram no Alameda, em Sines.
Agora que já viu isto, façamos rewind até à noite anterior, domingo, 7 de outubro. O staff tem menos uma empregada, que deixou o espaço uns dias antes, e ao restaurante chegam dezenas de pessoas ao mesmo tempo para jantar, todas da mesma excursão. O ritmo é frenético, os pedidos são muito superiores ao habitual e na cozinha acaba a carne de porco preto. Fernando sabe que precisa de repor o stock para receber a produção da Shine Iberia no dia seguinte. Liga ao fornecedor do costume, em Estremoz, e combina estar lá às 6 horas para recolher ele próprio a encomenda. Sai de casa já depois da uma da manhã e faz mais de 200 quilómetros. Chega às 3 horas da madrugada e decide aproveitar para dormir um pouco no carro. Acorda sobressaltado, às 7 horas, para descobrir que ninguém sabe do pedido que fez. Liga ao amigo e fica petrificado com a resposta.
“Disse-me que achava que eu estava a brincar e que não tinha lá nada à minha espera. Jurei que nunca mais lhe comprava nada [e cumpriu]”, explica à NiT. Dali seguiu para Grândola (mais 160 quilómetros), diretamente para um talho no qual confiava. Nada. Desesperado, começou a pesquisar no Google locais que pudessem vender a tal carne. Descobriu então a fábrica Montaraz, mais 70 quilómetros até Garvão. Quase ao meio dia estava de volta a Sines e ao Alameda com a encomenda. Os queijos, que também comprava em Estremoz, foi um amigo de Porto Côvo que lhos arranjou. Começavam aí cinco dias de gravações e o stress que Fernando Rosa tinha acumulado mesmo antes das câmaras serem ligadas acabaria por gerar discussões e um ataque de pânico, coisa que já não lhe acontecia há uma década.
Ljubomir Stanisic chegou na terça-feira, 9, e começou a atirar piadas mal entrou. “Isto é um restaurante ou uma loja de informática?”, perguntou, referindo-se a uma mesa cheia de papelada e computadores logo à direita da porta.
Fernando ficou a ferver. “Ele tinha razão, agora reconheço isso, mas as pessoas começaram a rir e eu não gostei. Começou logo a gozar”, conta à NiT.
O dono do Alameda tem 46 anos e passou os últimos 12 a trabalhar como informático — emprego que nunca largou por completo. “Tenho sobretudo de fazer assistências remotas, tenho umas 100 avenças. Era por isso que tinha aqui o material.”
Atualmente já não há vestígios dessa função paralela, até porque durante as gravações Fernando acordou num dia de manhã tão irritado que foi ao Alameda tirar todo o material que lá tinha.
Na noite anterior tinha tido um ataque de pânico depois de tentar defender uma funcionária, Andrea, com a qual Ljubomir estava a discutir. Quase desmaiou e foi levado para o exterior. “Houve elementos da produção que andaram comigo rua abaixo e rua acima. Há mais de dez anos que não me acontecia uma coisa assim.”
Também o chef tentou acalmar Fernando. “Estou aqui para te ajudar, juro-te pela saúde dos meus filhos”, vê-se no episódio.
Ainda assim, o proprietário do Alameda acredita que a situação ainda irritou mais Ljubomir. No dia seguinte rebentou mesmo a discussão entre os dois. “Humilhou-me e massacrou-me à frente de toda a gente. Eu disse-lhe que ele era uma besta e um ator.”
Ana, cozinheira e namorada de Fernando (cada um tem dois filhos de relações anteriores), lembra-se de ver o desespero em muitos membros da produtora Shine Iberia: “Havia pessoas com as mãos na cabeça, a andarem de um lado para o outro”.
A partir desse momento, o chef não voltou a falar com Fernando — “Contigo não vou conseguir lidar” foram as últimas palavras que lhe disse. “Desistiu de mim e só ficou por causa da Ana”, admite o proprietário do Alameda.
Aqui ninguém chamou a TVI
Fernando Rosa recebeu uma chamada em julho ou agosto da Shine Iberia. Queriam saber se estaria interessado em que o Alameda participasse na nova temporada de “Pesadelo na Cozinha”. O proprietário falou com Ana e decidiram avançar com dois objetivos claros.
“A ideia era que a Ana pudesse aprender mais na cozinha. Também sabíamos que não tínhamos clientes, havia dias em que não servíamos uma única refeição, por isso precisávamos de visibilidade”, diz à NiT.
Quem passa de carro na Avenida General Humberto Delgado não reconhece logo o restaurante naquele local. O espaço também esteve fechado durante quatro anos, o que não ajuda. Abriu pela primeira vez em 2013, como um negócio dos pais, mas só esteve a funcionar durante um ano. Desde então, Fernando insistiu com o pai para ficar com o restaurante e as chaves passaram para as suas mãos em fevereiro deste ano. O Alameda reabriu em março com uma cozinheira que não era Ana. A experiência correu logo mal.
“Esteve cá dois meses e tivemos dois mil euros de prejuízo. Desperdiçava muita coisa, eram gorduras até mais não, levava muita coisa para casa.”
Traumatizada, Ana instalou-se na cozinha, apesar desse nunca ter sido o objetivo. Trabalhou numa loja de mariscos durante 14 anos e não tinha experiência em restaurantes. “Eu gosto de cozinhar mas só para três ou quatro pessoas. Não dominava técnicas sequer”, explica.
Também por isso, a experiência com Ljubomir Stanisic foi tão diferente para ela. “Não tinha medo dele, estava aberta ao que tinha para ensinar e gostei muito porque ele explicava o porquê das coisas.”
O leitão à Bairrada continua na carta.
Sai um bife à Ljubomir
Da carta desapareceram o bacalhau à lagareiro, a carne de porco à alentejana ou a canja de mexilhão. Stanisic queria acabar também com o leitão à Bairrada, mas Fernando não deixou — é uma receita dos pais e uma das especialidades.
Ficaram as novidades: o leitão à chefe (na frigideira e com molho), as lulas ao alhinho ou o bife à Ljubomir com umas migas adaptadas por ele. Com o pão, alho, azeite e coentros misturam-se agora a linguiça e o bacon. Tanto Ana como Fernando acreditam que este acompanhamento poderá ser um dos segredos do sucesso. Aliás, já está a ser. Os clientes aumentaram e o bife à Ljubomir é dos mais pedidos.
Choradeira e tensão na inauguração
Fernando Rosa recorda que o dia da reabertura do Alameda também não correu bem. “O chef picou-me duas vezes e disse-me: ‘És o ser mais desprezível que vi até hoje.’”
O proprietário chorou “de danado” e confessa: “Estava capaz de lhe dar com um prato na cabeça.”
Ana diz que via no olhar de cada um a vontade de agredir o outro. Ficou tão nervosa que, ironicamente, as coisas acabaram por descambar na cozinha. “Não sabia onde estava nada, não conseguia acompanhar.”
Fernando recompôs-se e, antes de fazer alguma coisa, começou a perguntar a Ljubomir Stanisic se concordava. No final, houve “um pedido de desculpas, um aperto de mão e um abraço”.
O que aconteceu nas gravações — até o final do programa foi mais tenso do que é habitual — foi esquecido. Há poucos dias Fernando enviou um email à produção de “Pesadelo na Cozinha” para pedir conselhos a Ljubomir sobre carne maturada. Continua à espera da resposta do chef.