O restaurante está agora onde era a zona de bar.
Ljubomir voltou nos dias seguintes, pronto para a ensinar a fazer “um puré de batata diferente e um entrecosto no forno com Coca-cola”. Longe das câmaras, entregou-lhe uma nota de 50€. “Disse-me para ir comprar uns livros de culinária mas sinceramente não encontrei nada, aqui em Portalegre não há nada.”
O dinheiro voltou e foi entregue à produção. Ela está agora a ler uma obra de Maria de Lurdes Modesto que lhe emprestaram.
Para Domingas, o chef “não passou quase tempo nenhum” no Café Central e os momentos em que lá esteve foram sempre de grande tensão com a cozinheira, que não conseguia evitar chorar cada vez que Ljubomir discutia com ela.
“Parece que nunca ninguém me tinha tratado tão mal ou, se calhar, nunca me tinham dito tantas verdades na vida”.
Diogo Henriques e a forma como a mãe lhe fazia as vontades também foram um grande problema entre os dois. Ele é, aos 25 anos, o proprietário do restaurante.
Domingas despediu-se para ajudar o filho
Em 2013, Diogo tinha 20 anos e nem ele nem a namorada da altura queriam estudar ou trabalhar. Domingas Mendes soube então que o histórico Café Central, aberto em 1924, se preparava para fechar e sugeriu ao filho que ficasse com o negócio.
“No início isto estava cheio, fazíamos 500€ ou 600€ por dia. Depois veio a crise e foram-se embora os clientes. Havia dias em que só chegávamos aos 80€, quando precisávamos de 300€ para não perder dinheiro.”
Ela trabalhava na área financeira e à hora do almoço ia sempre dar uma ajuda na cozinha. Acabou por ter de se despedir para se dedicar ao restaurante e tomar conta da gestão. Diogo nem sempre estava presente.
“O meu erro foi não querer saber de um espaço que é meu”. Quando a NiT almoçou no Café Central, na quarta-feira, 14 de novembro, ele também não estava. Neste momento, está a acabar o 12.º ano à noite. Diogo queria aproveitar os últimos dias antes da transmissão do episódio para acabar todos os trabalhos da escola que tem pendurados. Ele sabe que, depois de “Pesadelo na Cozinha”, a vida vai deixar de ser tão tranquila em Portalegre.
Ljubomir Stanisic não gostou da atitude dele mas, em vez de fazer frente ao chef, Diogo resolveu aceitar que ele era assim. “Já tinha uma ideia de que as coisas não estavam bem e só posso agradecer o facto de ele me ter aberto a cabeça”, conta a mãe.
Diogo absorveu de tal forma tudo o que Ljubomir lhe disse que agora está mais crítico do que nunca. “Está sempre a dizer-me: ‘Não foi assim que o chef ensinou, não era assim que ele fazia’.”
Depois da transmissão do programa da TVI, o mini Ljubomir vai juntar-se à equipa do 100 Maneiras, do grande Ljubomir, durante uma semana para receber formação de bar e cocktails. Depois segue para o Centro de Formação Profissional da Pontinha, onde vai aprender gestão hoteleira.
De um restaurante de luxo para um espaço vazio
Trabalhar num restaurante não é novidade para Domingas Mendes, só que a realidade que ela conhecia era bem diferente da que vive agora. Com o ex-marido e pai de Diogo, José Henriques — futebolista que jogou em clubes da segunda divisão, não confundir com o guarda-redes do Benfica que ficou conhecido como Zé Gato — abriu O Curto, no Monte Carvalho (Ribeira de Nisa), um espaço “de luxo”. Domingas geriu o espaço durante 13 anos. Inicialmente a dois e mais tarde sozinha (depois da separação). O restaurante chegou a ter 11 empregados, nove deles fixos, uma sala para 40 pessoas e uma esplanada com 80 lugares.
“Fazíamos tanto dinheiro que nem tínhamos tempo para gastá-lo. Comprávamos os carros a pronto, íamos de férias para todo o lado”, recorda.
Desfez-se do negócio há 14 anos quando ficou doente e percebeu que precisava de um trabalho menos exigente. Mal sabia nessa altura que teria de voltar para a restauração, desta vez diretamente para a cozinha.
Um desgosto por resolver
As gravações de “Pesadelo na Cozinha” terminaram com a habitual reinauguração do restaurante. Se com Diogo as coisas estavam encaminhadas, do lado de Domingas continuou a haver problemas durante o serviço de almoço. Com as sobras de sopa de tomate, o chef decidiu fazer uma nova entrada que não estava prevista. As cozinheiras, claro, atrapalharam-se.
“Ele explicava as coisas e ninguém estava a ouvir, é verdade, mas é mesmo muito stress. Depois disse-me que eu devia ter-lhe pedido desculpas mas, sinceramente, não via motivos para isso. Nunca lhe fiz mal”, conta.
Quanto mais Domingas chorava, mais Ljubomir ficava irritado. Os dois não chegaram sequer a despedir-se quando as gravações do programa terminaram.
“Chegou a dizer-me que se eu fosse irmã dele já tinha levado dois estalos. Parece que apanhei um desgosto por admirá-lo tanto e ele ter falado comigo daquela maneira. Só chorei assim compulsivamente na morte da minha tia.”
Domingas sorri muitas vezes ao longo da conversa com a NiT mas, sempre que menciona o chef, fica genuinamente triste. “Ficou muita coisa por dizer, sobretudo o quanto o admirava.”
Por causa do final da novela “Jogo Duplo”, a TVI adiou a transmissão do episódio uma semana — inicialmente devia ter sido transmitido a 18 de novembro. Ainda assim, nesse dia Domingas recebeu uma chamava que não esperava.
“O chef ligou-me e parecia uma pessoa completamente diferente. Eu pedi-lhe desculpa por certas atitudes que tive e ele desejou-nos muita sorte, diz que acredita em nós”, conta a cozinheira à NiT este domingo, 25, na viagem a caminho de Lisboa — na segunda-feira de manhã vai estar no “Você na TV”.
A partir de agora só falta uma coisa: “Disse-me que agora está à espera do Diogo no 100 Maneiras, que tem de ir para lá e depois para a Pontinha.”