Um pastor (de ovelhas), uma Miss Nova Jérsia, um beto chunga, um hipnotizador, uma brasileira, uma venezuelana, uma vendedora ambulante do norte, uma cabeleireira cigana, um bombeiro, um gay e um homofóbico entram numa casa… Podia ser o começo da anedota mais bizarra de sempre, mas é apenas o elenco de participantes do novo “Big Brother”.
Acho que nem num videoclip da Maria Leal conseguíamos encontrar um leque tão aprimorado de personagens. Há várias considerações que quero fazer sobre o grupo de concorrentes que vai entrar na casa do “BB” e sinceramente nem sei por onde começar. Sinto-me como num buffet: quero encher logo o prato com dez fatias de picanha, salsichas toscanas e arroz com feijão, mas levo primeiro um pratinho com salada de rúcula e feijão frade, para não parecer um javardo.
Começando então pela salada de rúcula, o que dizer da prestação de Cláudio Ramos, nos comandos do novo “Big Brother”? Gostei, o Cláudio esteve bem e acho que ninguém — esparramado confortavelmente de pantufas no sofá — pode dizer que faria melhor. “Esperei 20 anos para realizar este sonho, o de estar à frente deste programa. Só não sabia que seria com uma plateia vazia”, disse Cláudio Ramos na abertura. Não havia público no estúdio, mas felizmente o ar condicionado estava a funcionar e isso é meio caminho andado para o Cláudio não se passar dos carretos e manter-se sereno.
E a verdade é que conseguiu manter esta postura durante toda a emissão, até mesmo quando falou com Pedro Alves, um dos concorrentes, que confidenciou ser um bocadinho homofóbico. É só um bocadinho, por isso não faz mal, não é? Ser um bocadinho homofóbico é como ser um perfeito imbecil, só é duro e difícil para os outros. Um jovem de 25 anos dizer, em 2020, que tem “um bocadinho” de fobia a homossexuais é quase tão triste como aquelas pessoas com mais de 50 anos que fazem vídeos no Tik Tok. Parem com isso, se faz favor. Já não bastava terem invadido os comentários do Facebook com os vossos stickers gigantes de cãezinhos a mandar corações, agora ainda mais isto.
O apresentador explicou que todos os concorrentes vão ser testados duas vezes antes de entrarem na casa mais vigiada do País. Presumo que seja à Covid-19, porque ao QI já percebemos que não foi. Por falar em casa, a TVI desta vez puxou os cordões à bolsa e a velhinha casa da Venda do Pinheiro deu lugar a uma mansão na Ericeira. Ou seja, o engenheiro José Sócrates vai deixar de ser a única pessoa na vila a viver numa casa emprestada com vista para o mar.
O vencedor desta edição vai ganhar um prémio de 50.000€ — que era mais ou menos o que a mãe de Sócrates tirava do cofre para lhe dar como semanada — mas para isso terão de aguentar três meses fechados num casarão gigante com vista para o mar. Vai ser duro, principalmente para a casa, que ao que parece é inteligente e, coitada, vai ter de levar com aquelas criaturas nos próximos meses. E quem são eles? Aqui ficam as primeiras impressões sobre os meus concorrentes favoritos. Divirtam-se, que eu agora tenho de ir depilar-me.
Sónia, 26 anos (Vendedora ambulante de Vila Nova Gaia)
A Sónia é vendedora ambulante — deve ser por isso que fala aos berros — e a sua grande preocupação quando estiver na casa é como fazer a depilação. “Tenho de fazer depilação, não vou andar aqui com a pintelheira.” Cá está, Sónia a criar o primeiro grande soundbyte do “BB 2020”. Acho até que podia ser a hashtag perfeita para ilustrar este período de confinamento que vivemos #naovouandaraquicomapintelheira. Daqui a cem anos, quando os historiadores quiserem perceber o que foi viver estes tempos de pandemia, têm aqui um arquivo vivo único.
Sónia tem duas filhas e diz: “todos os dias falo com elas, através da mente e das fotografias”. Percebo agora porque é que a Sónia achou que o Big Ben era a “torre de Paris”, pois claro. Se a rapariga tem de usar a mente para contactar com a família, depois já não há espaço para guardar mais informação. Se for possível alguém da produção oferecer um telemóvel à Sónia, acho que era simpático. E assim quando ela for a Roma, até vai poder tirar fotografias da Estátua da Liberdade e tudo.
Rui Alves, 22 anos (Pastor de Vila Real)
O Rui é o Zé Maria versão 2.0.2.0. A experiência comprova que o público gosta sempre de ter um simplório a participar nestes programas e a TVI sabe que a fórmula funciona, por isso não quis deixar de ter como participante um matarruano que é tão castiço que até parece que está a imitar o Ricardo Araújo Pereira a imitar um matarruano.
O Rui trabalha como pastor de ovelhas e sonha ter um rebanho grande. Gosta de tocar acordeão para as ovelhas e diz que elas cantam para ele. Revela que quer aparecer na TV para cumprir o sonho de pagar um cruzeiro à mãe. Define-se como trapalhão e acredita que as raparigas da casa vão gostar dele, porque é bonito. Pronto, se as ovelhas o dizem, quem somos nós para contradizer.
Iury, 27 anos (Personal trainer oriunda de Nova Jérsia)
Apesar de ter nome de construtor civil ucraniano, esta jovem nasceu em Nova Jérsia, nos EUA, e aos seis anos de idade veio com os pais para Portugal, onde reside em Oliveira do Bairro. O seu sonho sempre foi ser Miss e o propósito de entrar no programa é “poder dar visibilidade a esta cultura”. Já era altura de termos um participante do “Big Brother” ativista das grandes causas culturais, e por isso a Iury é sem dúvida uma das minhas concorrentes favoritas. Força, Iury, e muita paz no mundo.
Daniel Guerreiro, 28 anos (Hipnoterapeuta de Palmela)
O Daniel apresenta-se como hipnoterapeuta, hipnotista, mentalista e formador nas áreas da hipnose, linguagem corporal e desenvolvimento pessoal. Só esta frase já me deixou com vontade de adormecer, por isso claramente funciona. “Eu ajudo pessoas a resolverem traumas, fobias ou receios que tenham”, começou por afirmar. Olha, vai-se a ver e no final do programa o Daniel ainda transforma o Pedro em ativista da causa LGBT+. Pode ser que com uma sessão ou duas de hipnose o Pedro Alves deixe de viver em 1940. Ou então transforma-o numa galinha, que sempre era mais divertido para todos.
Daniel confessa que adora cantar e para mostrar canta um excerto do “Solta-se o Beijo”, da Ala dos Namorados, o que é uma tragédia porque, como sabemos, sempre que alguém começa a cantar “espreito por uma porta encostada…” há um gato fofinho que é brutalmente atropelado. Juro.
Hélder, 39 anos (Técnico eletrónico de Santa Maria da Feira)
Metrossexual assumido, o Hélder é viciado no solário e em exercício. Recentemente, ganhou o Óscar de Sócio Mais Fit do ginásio que frequenta. O seu roupeiro está organizado por cores e modelos… Paro por aqui ou ainda conseguem ler mais sem vomitar? Além das preocupações com o corpo, o concorrente destaca outros vícios: mulheres, motas e o Facebook. Esqueceu-se foi de mencionar o quarto vício, que é ele próprio. Hélder acredita que tem talento para representar e para a imitação de vozes e então brindou-nos com algumas das suas imitações. Foi nesse momento que dei por mim a pensar que preferia apanhar coronavírus do que ficar fechado numa casa com este gajo. Dito isto espero que ele fique por muito tempo, só para manter equilibrados os meus níveis de vergonha alheia.
Pedro Soá, 44 anos (Profissional da área do marketing, Montijo)
“Consigo arruinar alguém só a falar. Se eu quiser derrubo uma pessoa sem lhe tocar.” Foi com estas palavras que Portugal ficou a conhecer o Pedro Soá. Só o nome já é bom. Faz lembrar o Bruno Pidá, que ainda hoje é dos meus nomes favoritos. Se calhar o Pedro estava a querer avisar que sofre de halitose extrema e que quando abre a boca as pessoas caem para o lado, de outra forma não estou a ver como é que se derruba alguém só a falar. É que eu já assisti a um discurso do Ferro Rodrigues ao vivo e tudo bem que ficamos com a cara cheia de perdigotos, mas não é suficiente para nos derrubar. Será que este dom do Pedro funciona com pelos púbicos? Talvez a Sónia não precise de se preocupar, basta pedir ao Pedro para falar um bocado e… pumba, depilação brasileira feita.