Televisão
Falámos com o Night King de “A Guerra dos Tronos” — o mais duro foi gravar com Arya
Esta segunda-feira vai ser transmitido o último episódio da série. A NiT entrevistou Vladimir Furdik.
Este foi um dos momentos épicos do último episódio.
Chama-se Vladimir Furdik, tem 48 anos e nasceu em Bratislava, na Eslováquia. Se o vir na rua, provavelmente não vai reconhecê-lo. Mas quase 18 milhões de pessoas assistiram à morte dele (ou da personagem que interpretava) na televisão no final de abril. Em “A Guerra dos Tronos”, é o Night King — o temível líder dos white walkers — e Arya Stark tirou-lhe a vida no final chocante do terceiro episódio da última temporada da série.
Em Hollywood, todos o tratam por Furdo. Apesar de ter alguns créditos como ator ao ter feito papéis bastante secundários (“Sherlock Holmes: Jogo de Sombras” ou “Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo”), ele é, na verdade, um duplo profissional.
Tanto serve para substituir atores sem experiência em cenas mais físicas e de combate, como coordena e ensina os movimentos certos para os atores executarem.
É esse, afinal, o seu grande trabalho em “A Guerra dos Tronos”. Só por acaso é que acabou a liderar o exército dos mortos e a ser um dos maiores vilões do enredo. O primeiro ator a interpretar a personagem foi o galês Richard Brake, que entretanto teve de abandonar a produção por incompatibilidades de agenda.
Vladimir Furdik já trabalhava na série como consultor — ele é um mestre em lutas de espadas e com outras armas medievais — e tinha feito um pequeno papel. Foi o primeiro white walker que Jon Snow conseguiu matar com a sua espada de aço valiriano. Além disso, Furdo fez de duplo de Arthur Dayne, o cavaleiro que luta contra Ned Stark na visão flashback que Bran tem e na qual percebe que Jon é filho de Lyanna Stark.
Como os criadores da série gostavam do seu trabalho, convidaram-no para ser ele mesmo o Night King. Furdik aceitou de imediato, sem pensar muito no que isso iria implicar. O primeiro episódio no qual interpretou o vilão foi aquele em que Hodor morre, no penúltimo capítulo da sexta temporada.
Vladimir Furdik na cena flashback que mostra como se tornou o Night King.
Na verdade — e apostamos que já não se lembra disto —, Vladimir Furdik apareceu sem qualquer maquilhagem nem próteses em “A Guerra dos Tronos”. É na cena flashback que explica como é que os white walkers foram criados. Vê-se o ator amarrado a uma árvore pelas Crianças da Floresta, que o atacam com uma lança de vidro de dragão. Em vez de morrer, aquele homem torna-se o primeiro white walker e, por consequência, o rei deles. Foi o terrível legado que as Crianças da Floresta deixaram para Westeros.
A NiT entrevistou Vladimir Furdik ao telefone poucos dias depois da sua morte em televisão — neste momento ele está a trabalhar como duplo nas gravações de outra série, em Budapeste, na Hungria. O próximo episódio de “A Guerra dos Tronos” — o último da temporada — será transmitido na madrugada desta segunda-feira, 20 de maio. Pode vê-lo, como sempre, na plataforma de streaming da HBO e no canal Syfy. Até lá, leia a entrevista exclusiva com o Night King.
Como é ser o maior vilão do mundo neste momento?
[risos]Acho que não sou o número um. Acha que sou? Estou um pouco confuso sobre tudo isto que me está a acontecer. Quando aceitei este papel nunca pensei que seria algo tão grande em “A Guerra dos Tronos”. Porque eu sou basicamente um duplo. Fiz alguns papéis, mas nada tão grande quanto isto. Fico feliz que daqui a um ano tudo tenha acabado, porque eu nunca fui famoso [risos]. Sempre trabalhei com atores conhecidos, mas foi para os ajudar a serem famosos, a lutar bem, não para eu o ser.
Teve pena que o Night King morresse tão cedo na temporada? Logo no terceiro episódio.
Não, não. Eu sou duplo e ator e nós seguimos regras. Alguém escreve a história, alguém a realiza, alguém está a produzi-la. Se não os quiser ouvir, um dia tenho de produzir o meu filme. Por isso não fiquei desapontado.
Acha que o Night King e os white walkers tinham algum objetivo secreto — ou simplesmente queriam matar todos os que estavam vivos?
Penso que o Night King estava a planear algo — mas quem sabe? Ele estava a vingar-se, na verdade. Ele não estava feliz por ser o Night King, porque foram as Crianças da Floresta que o obrigaram a ser o Night King. Agora ele só queria vingança.
Quantas horas demorava a transformar-se na personagem, com toda a maquilhagem e próteses?
Com o fato e tudo, acho que demorava umas seis ou sete horas, dependia. Sentava-me na cadeira para começar às duas ou três da manhã e às dez tinha de estar no set para gravar. E depois era até à noite.
Os outros atores metiam-se consigo nos bastidores por o Vladimir interpretar o seu grande inimigo, o Night King?
Às vezes quando eu estava no set alguns atores nem sabiam quem eu era, não sabiam que eu era o Night King, porque eu fazia parte da equipa de duplos e só me reconheciam daí. Eu preparava-os para a luta e alguns não sabiam que era eu o Night King [risos].
Gostaria que a personagem tivesse falado, que tivesse participado em diálogos? O Night King nunca disse nada.
Não, eu estava feliz que fosse assim, porque não tenho um inglês assim tão fluente. E esta personagem diz tudo com a cara dela, não foi preciso mais nada.
Como este era um trabalho diferente, ficava nervoso quando ia gravar as cenas, à medida que a personagem ia crescendo?
Estava nervoso no dia ou na semana antes, mas na altura de gravar, com a preparação toda feita, estava ok. Porque os realizadores dirigem-te muito bem e fazem com que te sintas bem. Gostei muito de trabalhar com o Miguel Sapochnik.
Se não fosse o Night King, que personagem gostaria de ter feito?
O Tyrion Lannister, ele foi uma das melhores personagens nesta série.
Enquanto um dos coordenadores das equipas de duplos e movimentos de luta, como foi trabalhar nesta série? O mais difícil foi gravar esta última batalha de Winterfell?
Sim, foi bastante. Não houve muitas pessoas a perceber tudo o que tivemos de fazer para gravar as cenas em segurança, como, por exemplo, teres pessoas a subir uma muralha. Também houve coisas com efeitos especiais, mas os mortos a subirem a muralha eram pessoas reais e tivemos de treinar isso bem. Quando as pessoas atravessam fogos [como a cena em que os mortos apagam as trincheiras] também tudo foi real. Não houve efeitos de computador. Todas as partes da batalha, cada cena, cada movimento, foi tudo pensado e bastante treinado e preparado. Todos os atores sabiam o que estavam a fazer. Não houve grande espaço para o improviso. Tivemos uns três meses de preparação para toda a oitava temporada, e depois um mês e meio só para este episódio.
E como foi gravar a última cena do Night King, com a Arya?
Foi um dia muito difícil, era de noite, estava a chover, repetimos a cena muitas vezes — para a gravarmos de ângulos diferentes e testarmos os posicionamentos das câmaras. Tivemos uma semana de preparação só para treinar o salto da Arya e aquela cena. Foi um dos dias mais difíceis de trabalho, e para ela também.
Houve algum ator com quem foi mais difícil treinar os movimentos de luta?
Todos eles têm um grande respeito por isto e muitos tinham já uma experiência de muitos anos, especialmente o Kit Harington [Jon Snow], o Nikolaj [Jaime Lannister] e o Iain Glen [Jorah Mormont]. Foi fácil para nós.
Foi Arya que conseguiu matá-lo.