“The Walking Dead” não tem meio-termo: ou nos dá tudo de uma vez ou nos deixa a definhar semanas seguidas, testando a nossa paciência e dedicação até ao limite do aceitável. A estreia da oitava temporada deu-nos tudo o que podíamos desejar e ainda mais qualquer coisa — mas preparem-se, vamos penar algures no meio dos 15 episódios que temos pela frente, a não ser que a série tenha encontrado uma fórmula milagrosa para não repetir o mesmo erro que cometeu em todos os anos anteriores.
“Mercy” — transmitido esta segunda-feira, 23 de outubro, pela Fox — teve ação do primeiro ao último minito. O pessoal de Alexandria, O Reino e Hilltop está junto e pronto para atacar os Salvadores. A narrativa podia arrastar-se durante várias semanas, não seria nenhuma novidade, mas os guionistas decidiram por tudo a mexer. Com a ajuda de Dwight, os pontos de vigia dos inimigos são identificados e cada um é eliminado e riscado de uma lista. Passada a primeira barreira, Rick, Maggie, Jesus, Gabriel e vários carros protegidos por placas metálicas dirigem-se para o Santuário para fazer uma visita surpresa. Enquanto isso, Daryl, Carol, Tara e Morgan atraem um bando de walkers para encaminhar para o refúgio de Negan. Daryl, mesmo com aquela guedelha sempre à frente dos olhos, consegue conduzir a mota com uma mão e com a outra disparar sobre pontos com explosivos que vão chamando os zombies.
Claro que temos direito a discursos inspiradores dos três líderes definidos do lado bom da Força (Rick, Ezequiel e Maggie) e é impossível não revirar os olhos cada vez que o Rei abre a boca — “o dia vai derrotar a noite”, a sério? — mas até isso passa depressa porque há muito para fazer em 44 minutos de história.
Façamos só aqui uma pausa de 30 segundos para refletir sobre o que raio se passa com a gravidez de Maggie. Por pouquíssimo tempo que tenha passado — pelo que ela diz ainda está no primeiro trimestre —, não há qualquer alteração, um vislumbre da barriga, uma má-disposição?
Andam metade da temporada à procura de armas e balas e depois é tudo desperdiçado a partir vidros?
A comitiva chega ao Santuário e toca de começar a disparar (afinal, não há campainha). Negan aparece com alguns dos seus amigos, incluindo Dwight e Eugene, e Rick avisa que está na altura de se renderem. O mauzão do Negan ri-se (assim como todos nós deste lado do ecrã). O bonzinho do Rick começa uma contagem decrescente para obter uma resposta e no número sete já chovem balas sobre os inimigos. Claro que ninguém acerta em Negan e não se percebe para quê tanta conversa em vez de terem aproveitado logo o elemento surpresa e terem acabado com o gozão do taco de basebol assim que ele abriu a porta. E tanta munição gasta a partir vidros, valha-me Deus. Andam metade da temporada à procura de armas e balas e depois é tudo desperdiçado assim? Exatamente para quê? Como o episódio até está a ser bom, fechemos os olhos a isto.
Uma caravana choca contra o edifício, explode e abre caminho para o Santuário. Negan fica a coxear e Rick claramente não treinou bem a pontaria. Hora de ir embora, avisa Gabriel, porque isto hoje é como no “MacGyver” e está tudo programado ao segundo.
O padre é vencido pelos seus melhores instintos cristãos e sai do carro para ir salvar o traidor e banana Gregory — que achou que ainda tinha poder sobre Hilltop e algo para oferecer aos Salvadores. Resultado: Gregory foge no carro do padre e Gabriel fica cercado por zombies. Esperem, está ali uma porta. Só que do outro lado, surpresa, está Negan, as suas piadas gastas e aquela cara de gozo que só apetece esmurrar. O episódio termina com milhares de walkers a tentarem chegar aos dois fechados num contentor, prevendo-se, claro, que os Salvadores vão salvar o líder e fazer do outro prisioneiro nos próximos capítulos.