Barack Obama já foi como nós, um jovem perdido à procura de quem é e do sentido para tudo isto. “This is not my scene”, diz ele várias vezes durante o filme “Barry“, realizado por Vikram Gandhi e produzido pela Netflix. A verdade é que nada parece ser a cena de Barry, diminuitivo de Barack, nuns EUA pouco dados a exotismos ou dificuldades semânticas.
Este biopic acompanha o primeiro ano que Obama passa na Columbia University, em Nova Iorque, depois de dois anos a estudar na Occidental College, uma faculdade liberal de artes, em Los Angeles.
Devon Terrel, um jovem ator de 24 anos muito parecido com Ben Harper, foi o escolhido para retratar Obama. Terrel esforçou-se por imitar a forma pausada e grave do discurso de Obama, praticou afincadamente até conseguir jogar basquete e escrever com a mão esquerda (Obama é canhoto). Fartou-se de fumar, já que o ainda presidente dos EUA fumava um maço por dia, e a verdade é que acreditamos nele.
Barack Obama revela-se um jovem angustiado e solitário
O problema não é o ator principal, nem sequer os secundários (Avi Nash, um jovem ator que faz de Saleem, amigo de Barack, é o comic relief perfeito), com excepção de Ellar Coltrane, o rapaz de “Boyhood”, que tem o carisma e o jeito para a representação de um peixe. O problema é o argumento. Não é mau, é só pouco.
As angústias de Obama são várias, desde a busca pela sua identidade, tentando encaixar-se na comunidade negra, sem sucesso, e na branca, também sem sucesso, por não se sentir verdadeiramente parte de nenhuma delas graças à herança mista (mãe branca, do Kansas, pai negro, do Quénia); convicções políticas da proteção dos mais fracos, mas a que não dá importância; a ligação complicada com um pai que viu uma única vez aos dez anos e a mágoa em relação à mãe, que casou com um homem indonésio e o levou para viver em Jacarta e mais tarde em Honolulu.
Se, por um lado, “Barry” nos mostra um lado mais descontraído do presidente dos EUA, não nos dá muito mais. O filme começa e acaba da mesma forma — não acontece nada de verdadeiramente importante. Barry termina como começou: perdido, sozinho, ligeiramente isolado e agarrado aos melhores amigos que conhece, os livros.