O que é que a história de “This Is Us” avançou esta semana? A resposta certa é nada mas o objetivo também não era esse. Não vimos um único minuto do que se passa no presente — a gravidez de Kate, a espiral descendente de Kevin, a difícil adaptação de Deja, etc, etc — mas andámos entre as noites de Halloween de 1990 e 2008, o que acabou por ser uma lufada de ar fresco. Não para aqueles que esperam revelações bombásticas todas as semanas mas para todos os outros que reconhecem a importância de preencher os buracos da narrativa.
A crise dos 20
Há os terríveis dois anos, a crise dos 40 e os 20, que parecem cheios de aventuras empolgantes mas que são também a fase em que a maioria tenta descobrir a sua identidade. “The 20’s” — assim se chama o episódio transmitido esta quinta-feira, 9 de novembro pela Fox Life — apresenta-nos os três irmãos em 2008, uma época que ainda não tínhamos visitado na história. Estão todos completamente à nora. Randall teve o primeiro ataque de ansiedade há umas semanas e está prestes a ser pai. Todos os medos e inseguranças aliados a uma ventoinha de teto que não funciona quase o levam à loucura. Kevin lava cabeças num cabeleireiro em Los Angeles, não faz um único casting há um ano e acaba abandonado pelo colega de casa. Kate, pobre Kate, é empregada de mesa e enfarda fast food dentro do carro junto ao local onde os Pearson viviam. Ainda se envolve com um homem casado porque, que se lixe, está farta de esperar que as coisas pareçam certas. É triste, é penoso de ver e percebe-se como a morte de Jack, que já aconteceu há vários anos, ainda afeta tanto o dia a dia de cada um.
O Halloween de 1980
Rebecca dá mais atenção a Randall, Jack faz todas as vontades a Kate. Sobra Kevin que, apesar de parecer sempre desinteressado de tudo, vai guardar sequelas desta falta de atenção dos pais. Rebecca e Jack arranjaram fatos perfeitos de Sonny e Cher — cantores e marido e mulher, foram um sucesso nos anos 60 e 70 — mas acabam separados para conseguirem contentar os três filhos. O fofinho Randall, incrível como Michael Jackson na era de “Bad”, planeou o ataque às casas com mais doces ao pormenor. Quando a mãe tenta que ele seja espontâneo, acabam a ter a conversa sobre Kyle, o terceiro bebé que morreu, e que Randall acha agora que substituiu. Rebecca safa-se com distinção na explicação mas acaba extremamente insegura. Já em casa, quando ela volta a estar reunida com Jack, percebemos porque é que suspiramos tanto por este casal. Eles são uma dupla, é assim que funciona, e a química entre os dois atores, Mandy Moore e Milo Ventimiglia, parece que continua a crescer de episódio para episódio.
Toda a gente se esqueceu de Rebecca
O facto de Jack e Rebecca serem uma dupla inquebrável, o que já ficou provado em várias ocasiões, leva-nos a constatar que todos temos sido profundamente injustos com Rebecca. Os filhos, que não tentam entender as suas escolhas; nós, espectadores, que a julgamos por ela ter refeito a vida; e sobretudo a história que, até agora, ainda não nos tinha posto a pensar como terá sido para Rebecca sobreviver à morte de Jack. Já vimos como é que o acontecimento afetou os filhos mas o que se passou com ela ainda está longe de ser explicado. A ponta é levantada neste episódio depois do nascimento da neta, Tess, quando ela está na cozinha a apanhar os cacos de qualquer coisa que partiu e explica a Randall que viveu um dos momentos mais felizes da sua vida mas que nenhum desses momentos poderá ser partilhado com Jack. Fez pausa para chorar, não foi? Não, não, eu também não.
Façam uma vénia a Mandy Moore, dêem-lhe os prémios todos e uma estrela no Passeio da Fama
Tudo isto nos leva ao grande momento do episódio e à incrível Mandy Moore. Tess acabou de nascer e está no berçário onde quase 30 anos antes o pai também esteve. Esta sequência, que intercala monólogos de Rebecca ora com Randall, em 1980, ora com Tess, em 2008, é pura magia. No primeiro caso ela é uma mulher fragilizada que acaba de perder um filho e se apresenta ao novo filho (quão bonito é isto?), no segundo caso é uma mulher que sobrevive sem grandes expetativas mas que vê aqui a possibilidade de um novo começo. Tudo está extremamente bem escrito, bem interpretado, bem coordenado. E ter Jack a espreitar a mulher do outro lado do vidro com o olhar mais adorador do mundo fura qualquer coração de pedra.
Podemos parar de odiar Miguel
Na primeira parte do episódio vemos Rebecca a dizer a Beth que se calhar devia aderir a uma tal rede social chamada Facebook, para estar em contacto com as pessoas, dar novidades da neta e por aí fora. É o que faz no final de “The 20’s”, recebendo logo depois uma mensagem de Miguel, que não sabe nada dela há oito anos. Ah, afinal ele não é um destruidor de lares que se aproveitou da viúva logo depois da morte de Jack e ela não secou as lágrimas em três segundos para voltar a casar. Pelo contrário, Rebecca está de luto há muito tempo — aliás, em 2008 ainda usa aliança — e o mais provável é que nunca recupere da perda. Dava-nos tanto jeito odiar Miguel, focar a nossa frustração em alguém mas “This Is Us” tem sempre surpresas, por mais pequenas que sejam, e esta, há que admiti-lo, faz sentido e dá uma hipótese à personagem. Vá lá pessoal, vamos abrir os braços e acolher Miguel.