O segundo episódio de “Casados à Primeira Vista”, que foi transmitido este domingo, 28 de outubro, na SIC, trouxe mais uma boa dose de emoções, declarações surpreendentes e aquela vergonha alheia que é o aconchego perfeito para terminar o fim de semana — e tem ainda o bónus de não nos provocar tanta neura na segunda-feira de manhã.
Aos três casais que conhecíamos da estreia — e sobre os quais eu já escrevi —, juntam-se agora mais dois. Sendo que durante a semana passada, nos compactos da SIC denominados de “Diários”, foi apresentado outro casal, a Sónia e o João, mas que não apareceu no episódio de domingo, porque ao que parece já se separou. Por acaso não vi nenhum destes excertos semanais, mas foi só porque tenho uma coisa que é…como é que se chama aquilo…vida, é isso. Por isso mesmo esta crónica debruça-se apenas sobre os casais apresentados nos episódios transmitidos aos domingos.
Ora bem, aqui vai. Na boda da Graça e do José Luís houve espaço para tudo, embora o destaque vá mesmo para os amigos dos noivos que foram os grandes protagonistas deste episódio. Do lado do José Luís, o momento alto da noite, quando uma amiga de Graça canta acapella o tema “Fascinação”, de Elis Regina, e Fernando, o padrinho do noivo, começa a rir descontroladamente, tentando disfarçar com o guardanapo à frente da cara. No final da atuação, alguém pergunta: “Estás a rir ou a chorar?” Ele responde: “Eu sempre que ouço ‘Fascinação’ choro!”… Bravo, Fernando.
Do lado da Graça, um grupo de senhoras que a avaliar pelo nível de excitação abusaram dos shots de tequila com corega, a única coisa que querem é que a amiga noiva desvende “se o pacote do Zé Luís corresponde ao resto…” E, entre risinhos, como se estivessem no baile de finalistas da Escola Básica 2,3 da Areosa ainda acrescentaram: “Ui! Ele vai comê-la”. Eu no lugar da Graça tinha cuidado, porque estas supostas amigas estão a um copo de atacar o Zé Luís e rasgar-lhe o embrulho para descobrir a dimensão do pacote. Mas a noiva prefere destacar outros atributos do seu novo parceiro, como por exemplo o bigode. A dado momento, enquanto o afaga, diz: “Vocês gostam do meu Carlos da Maia?” Afinal, a Graça não está à procura de um marido, está na realidade à procura de um irmão para fazer malandrices sob o pretexto de não conhecer o seu historial.
Começo também a ficar fã da mãe do José Luis, uma figura que é um mix entre aquelas matriarcas das novelas portuguesas dos anos 90 e uma versão feminina do Pinto da Costa, mas com cabelo. Durante o jantar, a curiosidade falou mais alto e a senhora pergunta ao filho: “Ó Zé, como é que se chama a tua esposa?”. José Luis apanhado de surpresa por uma questão tão complexa, hesita mais do que devia até ser interrompido pela nova mulher que se apresenta como Graça. Estou contigo José, também sou péssimo para nomes, e percebo que sendo esta a sua quarta mulher é natural que a pessoa às tantas se baralhe. Mas fica o conselho: para que não chegues à quinta tentativa, talvez seja importante começar por decorar o nome da senhora.
Ana tem demasiada areia para a camioneta de Hugo
Neste episódio ficámos também a saber mais sobre a Ana e o Hugo, que a produção do programa entendeu que deviam casar num “terceiro andar” a oito metros de altura dos convidados. Os amigos, coitados, passaram a cerimónia inteira de pescoço para o ar, como se estivessem a assistir a um casamento entre dois pilotos da Red Bull air race. Ter de ir a um casamento já é por si uma experiência dolorosa, agora sair de lá e ainda precisar de ir a um endireita, também é abuso.
Durante a troca dos votos, o camionista emocionou-se e verteu umas lágrimas, provavelmente porque percebeu que a sua nova mulher era efetivamente areia a mais para a sua camioneta, tal como o próprio requisitou na entrevista que teve com a equipa de especialistas. Por falar em requisitos, se bem me recordo, para o Hugo, os seios e glúteos tinham de ser generosos. No entanto, quando lhe fizeram a mesma pergunta durante o copo-de-água, à frente de todos os convidados, a resposta mudou para “respeito”. Então Hugo, é um mau princípio começar a relação a mentir… A resposta correta seria “respeito… por um bom rabinho e um par de mamocas.”
Quem parece estar em pulgas para que o filho consuma o seu casamento é a mãe de Hugo. Durante o cocktail virou-se para as amigas de Ana: “Se eles puderem transar ainda hoje, era ótimo”. A senhora parece ser adepta das novelas da Globo e não está para esperar pelas cenas do próximo capítulo. Sou só eu ou a Ana é um género de fusão entre a Clara de Sousa e a Ana Bacalhau, dos Deolinda? Se calhar sou só eu…
O drama, o horror… Será que Eliana ainda fuma?
Do conto de fadas da Eliana e do Dave, não tivemos grandes desenvolvimentos, mas tudo parece correr lindamente, apesar da revelação bombástica de Eliana de que é uma fumadora ocasional. O drama, o horror…O casal amanheceu feliz da noite de núpcias e Eliana revela a estranheza de acordar e não saber bem quem tinha na sua cama: “Olhei para o lado e…ups quem és tu?” Está visto que Eliana claramente não fez Erasmus.
Ao pequeno-almoço um envelope revela o destino da lua-de-mel: Tailândia! Por ser o país do Muay Thai, Dave pergunta a Eliana como é que ela está ao nível de artes marciais, o que me leva a depreender que na noite de núpcias não deve ter havido combate… A Tailândia também é conhecida pelo seu Ping-Pong Show, mas do que vi até agora, não creio que a Eliana seja adepta desta modalidade. Se não conhecem e querem gastar dois minutos do vosso tempo em algo completamente inútil, pesquisem no YouTube (se estiverem a ler isto num escritório em open space, ponham o som alto e chamem os colegas, pode ser um momento épico de team building).
A louca Lídia encontrou o Jorge Francisco Jesus
No episódio de ontem assistimos ainda a dois casamentos, da Lídia e do Francisco, que logo nos primeiros minutos parece destinado ao fracasso e da Daniela e do Daniel, que logo nos nomes já têm algo em comum. Ó que fofinhos. De resto parece-me que esta devia ter sido a técnica a utilizar em todos os pares: juntá-los pela parecença dos nomes. É que essa história dos eletroencefalogramas até dá um ar futurista, estilo “Black Mirror”, mas sinceramente parece-me tão eficaz como uma escolha por nomes ou pelo tipo de cereais que gostam de comer ao pequeno-almoço. “O quê, também gostas de Estrelitas? Não acredito, somos almas gémeas, possui-me!”
De facto, pelo que vimos ontem, a Lídia não está nada satisfeita com o par que lhe foi atribuído e como se não bastasse já não ter nenhum convidado do seu lado a assistir ao casamento, à excepção do filho, ainda deixou os convidados do lado do noivo à seca para começar o copo-de-água. Fugir do altar ainda é admissível, agora impedir os convidados de usufruir da única coisa que vale a pena numa festa de casamento, que é comer e beber como se o Bolsonaro e o Trump tivessem declarado guerra ao Kim Jong-un e o holocausto nuclear estivesse prestes a rebentar, é que não se faz. Lídia está com muitas dúvidas e o casamento pode mesmo não ir em frente, mas isso ficará para o próximo episódio.
A Lídia tem 44 anos e vive em Massamá com o filho. Descreve-se como “uma louca, polémica, que quer abanar a sociedade”. Ao falar sobre o possível match, diz apenas: “Esmerem-se, senão não vai correr bem…” Ui, medo. Os especialistas encontraram um parceiro para a Lídia e, surpresa das surpresas, não correu bem. Se meia hora depois de casar a Lídia já está a pôr em causa toda a experiência, este casamento tem tudo para vir a ser um caso comentado pelo Hernâni Carvalho no “Linha Aberta”.
O Francisco tem 52 anos e é antiquário. Foi fuzileiro e jogador de futebol federado pelo Sacavenense, o que se nota claramente naquele vocabulário à Jorge Jesus. Romântico, gosta de andar de mão dada sem medo de dar carinho em público. Infelizmente, da primeira vez que o tentou fazer com a Lídia, ficou pendurado. Francisco foi impedido de penetrar na área adversária, mas está a explanar todo o seu futebol para convencer Lídia a seguir em frente com esta experiência. Mas será que valerá à pena correr atrás do prejuízo, ou acabará por claudicar com um contra-ataque venenoso, que resultará numa inevitável chicotada psicológica? Veremos, prognósticos só no final do jogo.
Daniela e Daniel: o casal mais desesperado do País
A Daniela tem 35 anos e vive com os dois filhos. É instrutora de Ioga, meditação e trabalha com “cristais e energias”. Procura qualquer tipo de homem: “Desde que acredite em alguma coisa, senão vai achar-me pirada”. Para a Daniela vale qualquer coisa: adeptos da teoria da terra plana, da existência de marcianos, desde que não seja ateu, tudo bem.
Diz que tem tentado conhecer o amor através da Internet, mas não tem funcionado bem. Provavelmente está a precisar de alinhar os chacras do router. Às vezes pode ser disso, Daniela.
O Daniel tem 35 anos e é das Caldas da Rainha. Quis inscrever-se porque quer muito voltar a apaixonar-se. No dia anterior ao casamento, foi passear pelas ruas de Lisboa e deu por ele a achar que todas as mulheres o atraíam. É compreensível, acontece a qualquer um (solteiro claro) e é consequência dos nervos. Talvez tivesse sido uma boa ideia a produção ter instalado o Daniel num daqueles hotéis ali no Conde Redondo, onde algumas senhoras têm ligeiras parecenças com os bonecos das caldas, e assim o rapaz sempre se sentia mais em casa.
Texto escrito pelo humorista e cronista da NiTfm Miguel Lambertini.