Televisão
“Big Brother”: concorrentes vão ser testados (duas vezes) à Covid-19 na televisão
O programa estreia a 26 de abril na fase “BB Zoom”, com os participantes isolados, antes de chegar o formato mais convencional.
Cláudio Ramos é o apresentador.
A pandemia global do coronavírus obrigou a que uma das maiores apostas do ano na televisão portuguesa, a edição comemorativa de “Big Brother 2020”, fosse adiada pela TVI. O programa deveria ter estreado a 22 de março, mas só vai chegar à televisão no próximo domingo, 26 de abril.
Em causa estava, claro, a segurança dos concorrentes e da equipa de produção durante esta crise pandémica. Passado este tempo, o formato foi repensado e adaptado às circunstâncias e vai consistir essencialmente em duas fases, como explicou o diretor de programas da TVI, Nuno Santos, à NiT e a outros jornalistas numa conferência de imprensa nesta segunda-feira, 20 de abril.
“Sentimos que tomámos a decisão certa naquele momento, pelas circunstâncias e até pelo desconhecido que tínhamos pela frente, fizemos tudo o que tínhamos para fazer neste período e agora temos o processo controlado”, explica Nuno Santos.
A primeira fase — aquela que estreia já a 26 de abril — é “BB Zoom”. Vai ser, basicamente, uma quarentena dos concorrentes transmitida na televisão durante 14 dias. Os participantes estarão isolados em apartamentos na Grande Lisboa e não vão ter contacto com o exterior — nem televisão nem redes sociais — e só poderão falar através do programa de conversação Zoom (que tem sido muito popular nesta pandemia) no âmbito do formato.
Ou seja, vão apresentar-se ao público nos seus apartamentos, e vão poder conhecer à distância os outros concorrentes. Eles próprios vão gravar conteúdos, mas os apartamentos também têm câmaras instaladas pela produção.
“O Cláudio Ramos vai ser a única pessoa da equipa do ‘Big Brother’ que fala com os concorrentes, que lhes mede o estado de alma, que os questiona uns sobre os outros, e isso é verdade nas duas fases do programa. Mesmo nesta primeira fase há uma espécie de confessionário.”
Os horários e os vários formatos do programa são idênticos nesta fase e na seguinte: vai haver uma emissão principal ao domingo, conduzida por Cláudio Ramos; um formato diário durante a semana por volta das 19 horas; um formato diário durante a semana por volta da meia-noite; e uma versão compacta que resume o melhor da semana ao sábado. Maria Botelho Moniz, Mafalda de Castro, Marta Cardoso e Ana Garcia Martins também farão parte da equipa que estará a conduzir e a comentar o formato.
“Na segunda fase poderá existir mais alguma coisa, que nós temos pensado, discutido, mas também tem muito a ver com as circunstâncias que teremos durante o mês de maio e mais para a frente. Por exemplo, uma das ferramentas muito usadas no ‘Big Brother’ é a presença das famílias no estúdio. Isso pura e simplesmente não é possível no dia de hoje. Será levantado o estado de emergência a 2 de maio? Achamos que sim, mas nenhum de nós sabe verdadeiramente. Quais são as restrições efetivas a partir de 4 de maio, segunda-feira? Parece que há por aí uma pequena ideia, de que podem abrir os pequenos negócios, mas também ninguém sabe verdadeiramente. E portanto só podemos tomar decisões a partir dessas decisões mais macro.”
O objetivo é que, passados 14 dias – o período de incubação do novo coronavírus — os concorrentes possam ser submetidos a dois testes da Covid-19, uma prova e uma contra-prova, antes de entrarem na casa, para que estejam garantidas as condições de saúde. Todo este processo será demonstrado na televisão. Só depois de todos os concorrentes testarem negativo ao vírus é que poderão entrar na casa, o que deverá acontecer na semana de 10 de maio, apesar de não existir ainda uma data oficial.
“Uma das frentes do nosso trabalho foi salvaguardar a integridade dos concorrentes, e agora vamos sujeitá-los a um período de quarentena rigoroso, um trabalho acompanhado por uma empresa certificada, que vai monitorizar e garantir que tudo está a ser feito de acordo com as instruções da Direção-Geral da Saúde. Paralelamente, criámos condições para colocar a funcionar uma equipa que tem muitas pessoas — um universo de cerca de 150 — e umas estarão nas próximas semanas em teletrabalho, outras estarão in location, mas não a trabalhar exatamente ao lado umas das outras. Portanto, foi possível assegurar que tudo isso era feito, está feito e estamos prontos.”
E acrescenta, além de adiantar que não houve qualquer desistência apesar da pandemia: “O que precisamos de garantir é que no momento em que entram em casa, todos estão em perfeitas condições de saúde, nenhum deles está infetado, todos estão limpos. O próprio ato do teste é uma forma de mostrar aos espectadores que aquela pessoa está em condições de participar num programa de televisão em que vai interagir fisicamente com outras pessoas. Nós temos de ter a certeza, os espectadores têm de ter a certeza e ver é sempre a melhor forma”.
Depois de entrarem na casa, arranca a versão mais convencional de “Big Brother”, o formato que temos visto em várias versões na televisão ao longo dos últimos 20 anos. Os concorrentes vão conhecer-se ao vivo, depois de já terem falado no Zoom, e interagir naquela habitação na Ericeira — que vai ter mais de 50 câmaras instaladas e controladas à distância, numa régie da produção.
Cláudio Ramos foi um dos participantes na primeira edição em Portugal.
Em simultâneo, vão existir conteúdos digitais nas redes sociais. “Hoje um conteúdo desta natureza tem uma vida digital que por simplesmente não existia há 20 anos. Portanto, tem que ter uma vida na televisão tradicional e outra no digital, e elas são complementares. Há conteúdos que nascem de um lado e migram para outro. Seremos muito sensíveis àquilo que for ditado pelas tendências do digital. Ou seja, olhar com atenção para aquilo que se diz nas redes.”
Nuno Santos diz ainda que a pandemia veio mudar a forma de fazer televisão e de pensar nos moldes que habitualmente associamos apenas ao digital. “As pessoas da televisão tradicional, as produtoras, têm uma ideia de que há uma linguagem que é do digital e não é da televisão. Reparem como a pandemia ditou uma alteração muito significativa disso aqui num mês e qualquer coisa. Nunca se viram tantos programas, incluindo os noticiários, com comentadores, analistas, especialistas a entrarem por Skype, WhatsApp, Zoom. No passado fim de semana tivemos à escala global um evento [One World: Together at Home] em que todos os protagonistas estavam nas suas casas, e aquilo que eram os meios pesados que às vezes as pessoas da televisão julgam que é necessário para captar, equipas com não sei quantas pessoas, assistentes disto e daquilo… talvez seja mais simples fazer televisão do que se pensa. Além de que o público está mais disponível para consumir determinado tipo de imagens, de linguagem.”
O aumento exponencial do consumo de televisão, e, nas últimas semanas, a ascensão dos programas de entretenimento e a normalização das audiências dos noticiários e canais de informação, também se apresentam como um bom cenário para a estreia de “Big Brother 2020”.
Na mesma conferência de imprensa, Cláudio Ramos disse ainda que esta fase de isolamento social pode ser benéfica para que os espectadores se identifiquem mais com os concorrentes e os compreendam melhor, sem os julgar tanto.
“Acho que qualquer pessoa vai olhar hoje para este formato com olhos diferentes de outras edições, porque por circunstâncias da vida todos nós tivemos de ficar em confinamento. A uns custa mais, a outros menos, e a partir de agora qualquer reação que um concorrente tenha dentro da casa nós em vez de apontarmos o dedo imediatamente vamos pensar ‘ah, espera, eu se calhar também podia ter dito aquilo nas semanas que estive com a minha sogra ou a minha mulher em casa, 24 horas por dia’.”
E acrescenta, sobre a possibilidade de ter um bom resultado nas audiências: “E se tens uma maior proximidade com o produto que te estão a oferecer, é natural que o recebas melhor em casa”.
Leia também a entrevista da NiT com Cláudio Ramos sobre o novo “Big Brother” e a mudança da SIC para a TVI, numa altura em que o formato ainda não tinha sido adiado.