“1917” chega a Portugal esta quinta-feira, 23 de janeiro, envolto em glória. Venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme e Melhor Realizador e está nomeado para dez Óscares. Não é por acaso. A NiT já viu o filme e podemos garantir: merece todos os elogios que tem recebido.
Esta é uma história de guerra inspirada no avô de Sam Mendes, Alfred Mendes, que lhe contou durante a infância as suas experiências durante a Primeira Guerra Mundial. Não é uma epopeia dramática com uma perspetiva macro sobre o primeiro grande conflito a uma escala global. Em vez disso, foca-se num episódio — fictício — muito particular, na frente ocidental da guerra, em França, durante um longo dia de primavera.
Na história, dois soldados britânicos, os cabos Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay), têm como missão entregar uma ordem de um general a outro pelotão de combate, liderado pelo coronel MacKenzie, que está a algumas horas de distância. Os alemães retiraram as suas tropas daquele território e MacKenzie prepara-se para atacar em força o exército germânico. O que ele não sabe é que a retirada estratégica foi uma armadilha e, portanto, há 1600 soldados britânicos que irão perder a vida caso MacKenzie siga os seus planos. Um dos 1600 é o irmão mais velho de Blake.
As ordens do general Erinmore, que os cabos protagonistas têm de entregar, explicam os planos alemães e ordenam a MacKenzie para que não avance com o ataque. Só que para chegarem até lá vão ter de atravessar um território perigoso, que até há muito pouco tempo era ocupado pelos alemães, que tem armadilhas montadas e vários perigos.
Como é sabido, o filme foi gravado em praticamente um único plano de sequência. Ou seja, não alterna entre várias câmaras, como é habitual, e tudo se passa no decorrer daquele dia. É um trabalho de realização e de direção de fotografia absolutamente soberbo.
As únicas duas personagens principais são Blake e Schofield — os únicos que acompanhamos desde o início até ao fim. Através da sua viagem nos territórios desconhecidos e perigosos da França ocupada, “1917” consegue a incrível proeza de nos fazer mergulhar naquele universo.
É uma experiência cinematográfica como não houve este ano — este é daqueles filmes que são mesmo obrigatórios de ver no cinema. Os cenários foram criados de forma ultra realista e não existe um pingo de romantismo. A ideia é mesmo mostrar a crueza da guerra e de como tudo aquilo é terrível. Há cadáveres amontoados em trincheiras que desabaram, animais mortos, toneladas e toneladas de terra remexida.
A certa altura parece que estamos mesmo lá e a fantástica banda sonora só contribui ainda mais para causar esse efeito (sobretudo nas partes mais tensas e de suspense). Partilha alguns dos elementos com “Dunkirk”, filme de 2017 realizado por Christopher Nolan, porque também aqui a guerra é mais psicológica. Não há quase cenas de luta, por exemplo. O que interessa é a grande escala e a forma como pode afetar física e psicologicamente uma pessoa.
Contudo, a narrativa e os diálogos de “1917” conseguem ultrapassar os de “Dunkirk”. Além dos protagonistas, que estão excelentes, há um conjunto de atores de topo que interpretam pequenos papéis de forma exímia — criando momentos de excelência.
Benedict Cumberbatch aparece numa altura de tensão, Colin Firth é o general Erinmore que dá a missão que faz mover todo o enredo do filme, Mark Strong aparece num momento mais delicado da história e Andrew Scott protagoniza uma das partes mais cómicas da produção. O final está reservado para Richard Madden.
“1917” é uma obra-prima que merece vencer em várias das categorias mais técnicas dos Óscares, mas, também, nas maiores e mais importantes. Não há outro filme assim este ano — e, lembre-se, este é para ver no cinema.