Durante décadas, as Carpintarias de São Lázaro, perto da Praça Martim Moniz, em Lisboa, serviram como fábrica de móveis para todo o País — até que, após vários anos em decadência, um incêndio destruiu tudo o que restava no final dos anos 90, e o edifício ficou abandonado.
O espaço vai renascer como o novo centro cultural de Lisboa. Irá acolher exposições de artes visuais, concertos, peças de teatro, espetáculos de dança ou ciclos de cinema, entre outros. A inauguração acontece na sexta-feira, 25 de janeiro, mas o programa de abertura prolonga-se durante vários dias.
A semana de celebração arranca com a exposição “Jeu de 54 Cartes”, com trabalhos de fotografia do artista português Jorge Molder. Haverá ainda uma performance de Jonas Runa, que irá apresentar a obra multifacetada “‘Oumuamua” — o artista usa um fato de luz criado por si em colaboração com a designer de moda Alexandra Moura.
A programação inclui ainda cinema ao vivo e atuações musicais, que também servem para assinalar o oitavo aniversário do projeto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria. Será ainda apresentada a primeira residência artística das Carpintarias de São Lázaro, as AiR Carpintarias, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. A artista interdisciplinar Miriam Simun é a primeira a usufruir do espaço desta forma e vai ter um open studio no domingo, dia 27.
Além das artes, este centro cultural tem uma vertente dedicada à gastronomia. Há um espaço que durante todo o fim de semana vai ser usado pela equipa da Cozinha Popular da Mouraria — a ideia é que as Carpintarias de São Lázaro sejam um espaço aberto às comunidades estrangeiras que vivem naquela zona da cidade, e que também as reflita na sua programação.
Na área da gastronomia está ainda marcada para o fim de semana de 2 e 3 de fevereiro a Mostra dos Premiados do concurso Lisboa à Prova — onde será possível conhecer alguns pratos dos melhores restaurantes de Lisboa.
O espaço tem cerca de 1800 metros quadrados e está a ser gerido por uma associação cultural e recreativa que ganhou o concurso público que a Câmara Municipal de Lisboa lançou em 2013, com o objetivo de dar uma nova vida ao edifício. A arquitetura é de um estilo moderno e sofisticado. O piso zero, por onde as pessoas entram, vai ter um auditório com capacidade para 120 pessoas e é o espaço que irá acolher concertos, peças de teatro ou outros espetáculos. Além disso, este palco vai poder girar e aumentar assim a capacidade de lugares para todo o piso.
A mezanine vai acolher eventos de gastronomia e ter um lounge bar. Na parte de cima haverá um rooftop. O piso subterrâneo conta com um espaço mais pequeno para receber exposições de artes visuais, mas será sobretudo reservado aos próprios artistas.
“A ideia é ter aqui uma sala de ensaios de dança e teatro, fazer residências artísticas, promover ateliers e ter um estúdio de música e de vídeo. Também queremos envolver as comunidades desta zona de Lisboa, que tanto podem ser do Bangladesh ou do Paquistão, os portugueses que estão a comprar casas aqui, ou até os franceses”, contou em 2017 à NiT um dos responsáveis pela associação que gere as carpintarias, Fernando Belo.
Foi nessa altura que se fez a primeira experiência das renovadas Carpintarias de São Lázaro, com uma exposição da dupla cubana Los Carpinteros — claro que também foram escolhidos por causa do nome. Era uma instalação artística com vários objetos em madeira — a maioria deles construídos há 20 ou 30 anos, precisamente ali, na Rua de São Lázaro. A NiT acompanhou a montagem da exposição.
O espaço tem ainda vista para a Praça Martim Moniz e o Castelo de São Jorge. “Normalmente, em Lisboa, os miradouros são feitos nas colinas e depois olha-se para baixo. Aqui é completamente o oposto”, explicou na altura Fernando Belo.
O piso de baixo também vai ter uma loja do centro cultural, com porta para a rua e que vai funcionar de forma autónoma.