Entram, validam a pulseira que têm no pulso (automaticamente surgindo no computador a respetiva identificação), entregam o dinheiro nas caixas, seguem para o ponto de recolha onde dizem que produto querem (por exemplo, cerveja), a botija antiga é substituída por uma nova e a mochila é fechada. Seguem para a saída, onde voltam a validar a pulseira.
Estamos na tenda da 2East, no NOS Alive, e é daqui que saem todas aquelas mochilas que levam cerveja, água e batatas fritas ao público que, assim, não precisa de sair dos concertos a meio para ir reabastecer.
Este império, que está agora em cinco países, é português e nasceu da cabeça de Bruno Leste. Foi numa viagem aos Estados Unidos, em 2000, que viu pela primeira vez, num jogo de beisebol, alguém a servir uma bebida de uma mochila a partir de uma mangueira e diretamente para o copo. Era Pepsi mas percebeu logo ali que podia ser tudo aquilo que ele quisesse. Comprou dez exemplares, bastante rudimentares, e passou os quatro anos seguintes a aperfeiçoar a ideia e a própria empresa. Criou a estrutura e o sistema de enchimento — tudo made in Portugal.
O que imaginou logo vender em Portugal foi cerveja e o primeiro grande evento onde a 2East esteve foi no concerto de Phil Collins em Alvalade, a 3 de julho de 2004.
“Não foi fácil convencer as pessoas de que a cerveja podia chegar ao público fresquinha e, de facto, nessa altura ainda não chegava”, explica à NiT.
A verdade é que as cervejeiras perceberam que tinham ali menos uma preocupação, a 2East garantia que o produto chegava às pessoas.
Em Alvalade contratou dez mochileiros, agora chega a ter 200 colaboradores. No próximo Rock in Rio no Brasil serão 500 e por esta edição do NOS Alive circulam 60 mochilas com cerveja, cinco com água e seis com batatas fritas.
Bruno Leste tem 41 anos e durante quatro produziu feiras e eventos do género com stands. Com o negócio na cabeça há anos, despediu-se mas “entre 2004 e 2006 foi uma luta financeira difícil”.
Precisou de 30 mil euros para abrir a empresa e pediu dinheiro aos pais. “Não havia aceitação por parte das marcas e nem o meu pai acreditava.”
Foi no Rock in Rio de 2006 que percebeu que se ia expandir porque foi o primeiro evento que teve 40 mochilas.
Ao falar do pai, Américo, que perdeu há dois anos, emociona-se mas garante que ele ainda teve tempo de mudar de ideias. “O meu pai era comercial, percebia do assunto. Com a internacionalização já dizia que isto era grande.”
Atualmente são as próprias marcas que o perseguem. “Estamos a testar protetores solares e também já vendemos noodles.”
Nada é impossível. Nem cá nem no Brasil, Estados Unidos, México, Espanha e França, países onde investiu mais de três milhões de euros e onde tem colaboradores, todos portugueses. Têm também laços familiares ou são amigos de infância.
“O Afonso Gomes, por exemplo, entrou como estagiário e está agora a gerir uma sucursal no Brasil.”
Aí já estão estabilizados mas agora têm de fazê-lo também nos Estados Unidos. “A Califórnia ainda não permite a venda ambulante de álcool” e só por isso é que a 2East ainda não pôs lá os pés.
Há mais cinco países interessados nos serviços da marca mas não essa não é uma prioridade. Bruno quer solidificar o que já tem e também “expandir para os Açores e Madeira”.
Uma mochila cheia, pronta para seguir para o meio do público, pesa 19 quilos e equivale mais ou menos a um investimento de dois mil euros. Se for cerveja, cada botija pode dar para 45 copos.
“Normalmente trabalhamos com jovens universitários, jogadores de râguebi que aguentam bem o peso.”
Todos têm uma remuneração fixa, entre 15€ e 20€ por dia, a que se acrescenta uma comissão consoante aquilo que cada um vender. No NOS Alive, por exemplo, uma cerveja custa 2,5€ e com um tanque cada vendedor “pode conseguir 6€, 8€, 10€ ou até 17€”.
O pior momento até hoje aconteceu numa das edições do Sudoeste. 16 mochilas cheias de dinheiro desapareceram e, depois de horas à procura, Bruno Leste acabou por encontrá-las numa das casas de banho do recinto. “Estavam vazias, claro.”
O empresário português pode já ter conquistado Portugal mas ainda tem muitos objetivos pela frente. “Gostava muito de estar na concentração de motos de Faro mas é um círculo fechado, não é fácil.”
Curiosamente, outro que podia parecer mais difícil de atingir, está perto e chama-se Glastonbury. Assim que lhe perguntamos sobre um dos maiores festivais de música do mundo, os olhos de Bruno Leste iluminam-se e ele sorri:
“Posso dizer que ainda não aconteceu por causa do Brexit, mas há consultas permanentes.”
Carregue na imagem para perceber o processo de troca e enchimento das mochilas.